Num país pobre que importa tudo, até palitos de madeira para os dentes e que anda de mãos estendidas à Comunidade Internacional para a sua sobrevivência, o chefe do governo dá-se ao luxo de orçar 640 mil contos anuais para as viagens dos governantes. Em apenas 4 anos, tínhamos ministros com horas de voo que faziam inveja aos Comandantes dos boeings 747, com 12 anos de serviço.
É este governo, apaixonado por carros topo de gama e de alta cilindrada, que em 2016 dizia que tinha encontrado os cofres vazios que, um ano depois, em 31 de dezembro de 2017, dizia numa nota justificativa para compra de Jipes, Toyota Prado de 8 lugares e 2982 de cilindrada, que encontrou um parque automóvel velho e com um número reduzido de carros. Entenda-se, que o governo cessante de José Maria Neves deixou poucas viaturas e velhas, que os Toyotas YARYS de 5 lugares e de 2180 contos não têm dignidade para os governantes do MPD.
Para alguns fanáticos próximos do governo de Ulisses, que na falta de dados consistentes, vem utilizando por tudo e por nada a expressão fake news, remeto-os para o Boletim Oficial nº 84 1ª série de 31 de Dezembro de 2017.
Com esse despacho, dias depois inundou os ministérios de Prados no valor superior a 7 mil contos cada, equivalente a 64 000 euros, num país pequeno, numa cidade inferior a vários quarteis militares pelo mundo fora, onde esses Prados andam em média 12 km por dia, outros 3,5 km nas quatro saídas: 8 horas, 12horas, 14 horas e 18 horas. Não estou a incluir passeatas familiares de fins de semana para o interior da ilha de Santiago.
É essa a política de transporte dum governo de turistas, num microestado, onde a maioria dos governantes reside uns a 2,5km e outros 800 metros de distância dos seus ministérios no palácio do governo na Várzea, isto é, em Palmarejo e Achada de Santo António, distâncias essas que se fossem feitas a pé seriam de 10 e 20 minutos.
A comunidade internacional representada no país através dos embaixadores que são tantas vezes convocados para nos socorrer da seca, das pragas e das pandemias deviam exigir do governo alguma contenção na ostentação.
Não estou a pedir que façamos como a Suécia onde os ministros andam nas sua viaturas ou de transportes públicos ou como na Suíça onde membros do governo e deputados utilizam no dia a dia motos scooters de pequena cilindrada. Gostaria apenas de ver cada ministro com uma viatura que não tem que ser de 8 lugares nem jipes de alta cilindrada porque normalmente são ocupadas por duas pessoas. Qualquer automóvel, mesmo Starlet com motor 1,4, vai da Praia ao Tarrafal que são 66 km de estrada totalmente asfaltada pelo governo do PAICV.
Até 1990 apenas dois ministérios tinham jipes Land Rover, o de Obras Públicas e o da Agricultura, hoje, em 2021, com as Câmaras Municipais do interior são os únicos serviços que justificam a aquisição de jipes.
A propósito do governo anterior, para este governo que tanto fala em moralidade e respeito pelos bens públicos, deixo dois exemplos para análise e conclusão dos leitores:
O filho do primeiro-ministro do governo do PAICV, no poder até 2016, data que o MPD venceu as eleições, ia à escola de transporte público (autocarro), outras vezes no carro da sua mãe. Já o filho de um Presidente de Câmara do MPD de um dos concelhos mais pobres do interior da ilha de Santiago, desloca-se do interior fazendo diariamente 86 km para vir estudar na Praia, num BMW X5 de milhares de contos, comprado com o dinheiro do Estado, abastecido com o combustível do Estado e o condutor pago com dinheiro do Estado. Tudo perante a passividade das entidades deste país com responsabilidade para controlar a forma como os nossos impostos são gastos.
É neste país que hora e meia ouvimos os governantes na rádio e televisão a dizer que somos um dos países mais bem governados do mundo e outro a dizer que em breve seremos mais desenvolvidos que Portugal.
A propósito, no meu último artigo, publicado no dia 10 deste mês intitulado “As amarguras provocadas por este governo” ao qual reagiu Euclides Silva, da Juventude para democracia, num jornal do seu colega de partido, considerando-o de “Pobre Ladainha” de Elias Silva e como não desmentiu nada, limitando-se a elogiar o seu governo, tinha pensado em ignorá-lo pura e simplesmente.
Já agora, algumas notas: estando o Euclides Silva em plena campanha eleitoral, quase na cauda da lista, na 12ª posição, para um Presidente da Juventude do Partido, no círculo de Santiago Sul, Concelho que vai eleger 19 deputados, com seis partidos na disputa, qualquer artigo que ponha em causa o partido dele poderá comprometer a sua remota chance de chegar ao parlamento.
Sei e compreendo o porquê que sendo um jovem, de um Concelho com muitos problemas, nunca criticou o seu antecessor na Juventude do MPD que comprou um BMW com recursos do Estado para transformá-lo em transporte escolar para o seu filho.
É minha convicção que o Euclides Silva, como todo ser humano, quando visita os cemitérios do país, sente também dor na alma ao deparar-se com fotos de “pelotões” de jovens estampadas nas cruzes, vítimas de armas brancas e de fogo, por causa da má política social deste governo.
Também sei que, no fundo, caso vier a ser eleito deputado, não gostaria de ter na sua bancada um deputado que foi indiciado de ter abatido um jovem de 29 anos de idade, em plena avenida, no Palmarejo, por supostamente ter cometido um crime, impedindo-o de em fórum próprio, que é o tribunal, provar a sua inocência.
Sei mais, que nesta campanha eleitoral, porta a porta, que o Euclides Silva vem fazendo, sente que é um insulto e uma provocação à juventude quando membros do governo utilizam viaturas do Estado, com combustível pago com os nossos impostos, para pedir votos a jovens que não sabem se vão jantar ou não.
Também julgo que o Euclides está indignado com questões de segurança urbana no país e entendo perfeitamente porquê que nunca disse uma única palavra quando o seu colega de Partido e presidente da Câmara da Praia foi baleado, de dia, num local rodeado de câmaras de videovigilância, a 25 metros da residência do primeiro-ministro e passados dois anos ainda não se conhece o autor do atentado nem as causas.
Apesar da sua juventude, já lhe contaram a história do seu partido, Movimento para Democracia, onde a voz válida é a do seu presidente e liberdade de expressão é só na Constituição da República.
A mordaça está na génese da sua criação no final dos anos 90, dois anos depois, por causa de vozes discordantes foram expulsos ministros que junto com outros deputados da nação foram fundar o PCD (Partido da Convergência Democrática) e o PRD (Partido da Renovação Democrática), ambos extintos anos de depois, tendo alguns dos seus membros regressados novamente ao MPD.
Consequentemente, se o Euclides tivesse colocado partidarite de lado, criticando as coisas erradas, as prodigalidades do governo e colocado a juventude em primeiro lugar, hoje não seria candidato a deputado nem Presidente da JPD. Só que essas omissões tem um custo, o afastamento dos jovens da política.
Para finalizar, peço-lhe desculpa pela minha ignorância por não entender uma única coisa:
Porquê que um Oficial da Polícia Nacional reformado não pode opinar sobre a forma como se desgoverna o seu país e um Inspetor da Polícia Judiciária, no ativo, pode candidatar-se a deputado pelo seu partido, fazer campanha eleitoral, vestindo a camisola do MPD e criticar o outro primeiro-ministro com quem ele trabalhou até o dia das eleições?
Praia 14 de Abril de 2021
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