O Presidente da República, José Maria Neves, defendeu esta segunda-feira, 27, no Mindelo, que o bispo Dom Ildo Fortes “deu voz a quem não tem voz” ao criticar a “grandeza do problema” dos transportes marítimos inter-ilhas.
O chefe de Estado fez as considerações aos jornalistas em reacção a um post publicado na semana passada pelo bispo da Diocese do Mindelo no qual afirmou ser um “desrespeito” o que tem acontecido nas viagens inter-ilhas e pediu para haver responsabilização.
Para José Maria Neves, o bispo “tem toda a razão e deu voz a quem não tem voz”, uma vez que “é preciso que todos tomem consciência da grandeza do problema”.
“Cabo Verde só crescerá e só ganhará em termos de competitividade e de crescimento inclusivo de todas as ilhas, se, efectivamente, resolvermos os problemas dos transportes”, advogou, admitindo que o País “já vai tarde”.
Isto porque, sustentou, “quase 50 anos após a independência já é tempo de se resolver definitivamente essa questão”.
“Por isso, as palavras de Dom Ildo Fortes foram uma pedrada no charco e espero que surtam efeito”, lançou José Maria Neves.
Num post publicado na última sexta-feira, 24, Dom Ildo Fortes relatou os “sucessivos constrangimentos e dissabores” encontrados numa viagem que realizou de São Vicente a São Nicolau no dia 22 de Fevereiro a bordo do navio Dona Tututa da Cabo Verde Interilhas.
O bispo questionou a “tamanha falta de consideração e desrespeito pelos passageiros”, entre crianças e idosos, que esperaram mais de oito horas dentro de uma gare marítima “sem o mínimo de condições”.
Segundo a mesma fonte, ainda há falta de organização, uma vez que cada um teve de subir com as malas e sacos pelas escadas “íngremes e escorregadias” dos diversos pisos do barco para as colocar, “cada um à sua maneira, o melhor que puder”.
“Alguém devia ser responsabilizado por isto que, infelizmente, é frequente e atrasa Cabo Verde. Orgulhamo-nos de acolher o Ocean Race e não sei mais o quê e não somos capazes de resolver uma coisa tão básica, urgente e necessária como deslocar-se de uma ilha para outra”, criticou.
A concessionária dos transportes marítimos inter-ilhas, a Cabo Verde Interilhas, neste momento só tem dois navios a operar, Chiquinho BL, que faz a linha São Vicente/Santo Antão e Dona Tututa com as restantes linhas.
Uma situação também questionada no dia 18 de Fevereiro pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV, oposição) que considerou que o Governo está a colocar a população cabo-verdiana em “situação de desespero” quando há barcos operacionais parados no Porto Grande do Mindelo.
Na sequência, a Direcção Nacional de Política do Mar reconheceu no domingo, em comunicado, que tem havido falhas nos serviços de transportes marítimos inter-ilhas alegando razões financeiras e de operacionalização, mas prometeu a implementação de um novo modelo operacional para os “próximos dias”.
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