O primeiro-ministro de Portugal anunciou esta segunda-feira, 23, no Mindelo, que todo o montante da amortização da dívida de Cabo Verde com Portugal será integralmente reinvestido num fundo que o arquipélago está a criar para o clima e a transição energética.
“Significa, para termos uma noção, que até 2025 estamos a falar de montantes na ordem dos 12 milhões de euros, e assim sucessivamente irá acontecendo”, concretizou António Costa, uma forma, prosseguiu, de converter aquilo que é uma dívida no que passa a ser uma capacidade de Cabo Verde investir na transição energética, no combate às alterações climáticas e que tal será feito em conjunto pelos dois Estados.
António Costa falava em conferência conjunta com o seu homólogo cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, sem direito a perguntas, e, ao anunciar o acordo, sem a assinatura do documento previamente anunciada, disse que, para além da contribuição financeira, Portugal e as suas empresas contam poder ser envolvidas, mobilizadas, pois estão “totalmente disponíveis” para intervirem nos diversos domínios onde têm especialização.
“De eficiência energética, capacidade de produção de energia renovável ou da sua armazenagem através do hidrogénio verde ou de outras gazes renováveis, esta é uma nova semente que lançamos para um novo programa de arborização da cooperação futura entre Cabo Verde e Portugal”, reiterou o chefe do governo português.
Ademais, António Costa referiu-se a forma “afectiva muito intensa” que o mar uniu Cabo Verde e Portugal, um veículo de comunicação e um ponto de união entre todos, mas também uma “enorme responsabilidade” dos países para com o futuro da humanidade.
“É um património comum a quem nos cabe a todos cuidar, uma fonte de biodiversidade, o grande regulador climático e uma fonte de riquezas e recursos ainda muito desconhecidos”, sintetizou.
“Numa das mais conhecidas mornas cabo-verdianas, o poeta entrega um beijo às águas sagradas do Tejo para que o Tejo o leve ao mar (..) foi o que vim aqui fazer, trazer o beijo do poeta a Cabo Verde”, concluiu o primeiro-ministro de Portugal.
Por seu lado, Ulisses Correia e Silva declarou que o Governo decidiu criar um Fundo Climático e Ambiental na perspectiva de responder a uma necessidade de tornar Cabo Verde “mais resiliente” e com uma economia “mais diversificada”, num domínio “muito específico” que tem a ver com o financiamento climático e ambiental.
Esse fundo, continuou o chefe do Governo cabo-verdiano, vai ser dedicado essencialmente à aceleração da transição energética do arquipélago, pois o objectivo é atingir 2030 com “mais de 54 por cento (%)” de penetração de energias renováveis e mobilidade eléctrica, 100% em 2050 e o reforço da eficiência energética.
Esta é, segundo a mesma fonte, uma perspectiva e ambição que terão impactos a nível da balança de pagamentos e nas famílias, e que Cabo Verde tem “todas as condições” para colocar uma prioridade “muito forte” na transição energética.
Outros desafios mencionados pelo primeiro-ministro são a dessalinização da água para agricultura e a economia azul, com a protecção dos oceanos e aplicação sustentável dos recursos, entre outros no domínio ambiental.
Para a constituição do Fundo Climático e Ambiental, a ambição de Cabo Verde, segundo o primeiro-ministro, é ter diversas contribuições, quer de parceiros bilaterais, quer multilaterais, do Orçamento do Estado e a contribuição de Portugal.
“Dentro desta acção pioneira mostramos ao mundo que estamos à frente na resolução e com boa vontade de muitos dos problemas que afectam Cabo Verde”, sintetizou Ulisses Correia e Silva.
Com Portugal, em matéria ambiental, prosseguiu, Cabo Verde quer desenvolver “todas as valências” que possam fazer com que a experiência portuguesa e o comprometimento de Portugal com a boa cooperação com Cabo Verde possa servir para “juntos podermos reforçar o nosso compromisso” com a protecção dos oceanos, que é um compromisso global.
“Nas relações privilegiadas que Cabo Verde tem com Portugal, estaremos seguramente juntos e mais fortes”, finalizou Ulisses Correia e Silva.
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