• Praia
  • 29℃ Praia, Cabo Verde
Ministro dos Negócios Estrangeiros pede demissão. As razões (actualizado)
Política

Ministro dos Negócios Estrangeiros pede demissão. As razões (actualizado)

O ministro dos Negócios Estrangeiros pediu a sua exoneração do Governo esta manhã - a segunda demissão em um mês. O chefe do Executivo, Ulisses Correia e Silva, aceitou. Conheça as razões que levaram Luis Filipe Tavares, vice-presidente do MpD, a pedir para deixar o Governo a 90 dias das eleições.

Luís Filipe Tavares, ministro da defesa e dos Negócios Estrangeiros, e vice-presidente do MpD, demitiu-se do Governo. A Rádio Nacional de Cabo Verde anunciou a notícia em primera-mão, no noticiário das 13h, avançando que o chefe do Governo, Ulisses Correia e Silva, inclusive já aceitou o pedido do seu responsável da diplomacia cabo-verdiana.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, que na manhã de hoje havia afirmado perante os jornalistas, que para o governo César do Paço também conhecido internacionalmente como Caesar DoPaço "é uma pessoa de bem" e que vai manter-se como Consul de Cabo Verde na Florida, EUA, veio a surpreender com o pedido de demissão poucas horas depois. A polémica à volta da nomeação do empresário portugês, César do Paço, um financiador do partido liderado por André Ventura, da extrema direita portuguesa e contra os imigrantes, terá sido a gota de água que fez transbordar o copo.

Consta que esse multimilionário português, que se enriqueceu nos EUA com a empresa Summit Nutritionals, foi proposto para consul do país na Florida, pelo ex-embaixador de Cabo Verde em Washington, Carlos Veiga, contra a vontade de Luis Filipe Tavares, que. enquanto chefe da diplomacia cabo-verdiana, acabou ficando no meio da polémica que envolve César ou Caeser DoPaço e as suas ligações à extrema direita portuguesa e aos negócios de "duvidosa transparência" através da sua empresa e através da sua pseudo Fundação DoPaço, que, apesar de operar desde o ano passado - com donativos feitos a Cabo Verde e tudo - não está registada ainda, ou seja, formalmente não existe. Razão pela qual, aliás, se fala (ver reportagem da SIC) que do Paço elegeu Cabo Verde como lugar de destino dessa suposta Fundação, que não existe nos registos, mas movimenta milhões e tem no seu seio nomes de peso da cúpula do partido Chega!, que ele financia com o valor máximo que a lei permite. Cabo Verde inclusive já beneficia das "actividades filantrópicas" do empresário português, como mostram imagens da entrega de equipamentos de saúde à embaixada de Cabo Verde em Portugal, como ajuda para combater a Covid-19 no arquipélago.

A propósito, no site da Fundação DoPaço está uma fotografia (ver imagem em baixo) de Caesar DoPaço e a esposa Deanna Padovani-DoPaço, curiosamente nomeada consul de Cabo Verde em New Jersey desde o ano passado, ao lado entre outros de Carlos Veiga, do ministro de Estado, Fernando Elisio Freire, e de José Lourenço, presidente da distrital do Porto do partido da extrema direita e neofascista Chega!, com uma legenda elucidativa: "os primeiros passos da Fundação (DoPaço) em Cabo Verde". Isto no ano passado e poderá ajudar a entender como e por quem Caesar "entrou" em Cabo Verde, país que, sem sequer conhecer antes, passa doravante a representar no estado da Florida, enquanto a sua mulher se encarrega de New Jersey. A sua tomada de posse aconteceu estes dias, mas ele, a sua esposa e os amigos José Lourenço (partido Chega e administrador da Fundação) e Madureira, presidente do CF Canelas (clube de futebol conhecido pela hiperagressividade dos seus jogadores) e líder da claque dos Super Dragões, já estavam cá antes, tendo passado o reveillon 2020 na cidade da Praia.

Luís Filipe Tavares, que é também um dos quatro vice-presidentes do MpD, certamente não conseguiu aguentar a pressão por causa da nomeação polémica de DoPaço e as repercussões que isso está a ter sobretudo depois da reportagem da SIC desta segunda-feira que mostra o novo Consul de Cabo Verde na Florida como "criminoso", foragido da justiça portuguesa nos anos 1990 por roubo de jóias, e um dos grandes financiadores de um partido político que despereza imgrantes, destila o ódio e cultiva o racismo e a xenofobia. Um homem que se enriqueceu da noite para dia, através da sua empresa Summit Nutritionals, criada em 2001 e que opera no ramo da comercialização de produtos farmacêuticos e alimentares, tendo estranhamente uma facturação anual de menos de 800 mil dólares nos EUA, mas espantosamente de 3,3 milhões na sua filial em Portugal, o que, segundo relata a reportagem da SIC, coloca em causa a transparência dos negócios de Caesar do Paço e a sua rede de influência.

Assim sendo, Tavares, que já estava debaixo de fogo cruzado por causa da nomeação e desnomeação de Francisco Tavares para embaixador na Nigéria, teve que abandonar o barco, num momento em que o país tenta sair incólume no processo de extradição de Alex Saab - onde as relações externas são para aqui chamadas - e, curiosamente, a escassos três meses das eleições legislativas, marcadas hoje pelo presidente da República para acontecer no dia 18 de Abril.

É a segunda demissão no Governo de Ulisses Correia e Silva no espaço de um mês - no início de dezembro a então ministra da Educação, Maritza Rosabal, que 'sobrevivera' muito tempo ao escândalo dos manuais escolares - surpreendeu o país ao anunciar a sua demissão do Governo.

Partilhe esta notícia

SOBRE O AUTOR

Redação