Mercados de Assomada em “estado lastimável”. Vendedeiras apontam dedo à Câmara e Félix Cardoso ouviu com atenção (fotos)
Política

Mercados de Assomada em “estado lastimável”. Vendedeiras apontam dedo à Câmara e Félix Cardoso ouviu com atenção (fotos)

A lista de reivindicações e reclamações das vendedeiras dos mercados de Assomada parece não ter fim. No primeiro dia de visita ao concelho do grupo independente Santa Catarina Acima de Tudo (SAT), liderado por Félix Cardoso, também vereador não profissionalizado nesse município, não se ouviu um único elogio à autarquia, estando as flechas todas apontadas à presidente Jassira Monteiro, e toda a sua equipa, alvos de todos os descontentamentos.


A visita começa, à hora marcada, no Mercado Novo, ali ao fundo da Avenida da Liberdade. Na escadaria que vai dar à entrada do mercado um mar de vendedeiras, com bonitas frutas, legumes e hortaliças à sua frente, ocupam todo espaço, deixando duas vias para passagem dos clientes. Tudo entupido.

Sim, o negócio cá fora borbulha. Fregueses que regateiam, vendedeiras que aliciam, o tilintar de moedas nos bolsos de quem vendeu e está a dar o troco… ‘Licença, licença’, ouve-se a cada segundo. Assomada é rica, vibrante de facto.

Assim que se põe os pés no interior do Mercado Novo, inaugurado em 2012, vem a decepção. Nem era preciso esperar pelas críticas das bravas comerciantes para se perceber da desorganização e condições sanitárias mínimas. Mas são elas mesmas, as vendedeiras, que aproveitam a visita do grupo independente Santa Catarina Acima de Tudo (SAT) – que nas autárquicas de 2020 fez eleger um vereador, Félix cardoso e dois deputados à AM – para lançar um rol de reclamações por causa das suas condições de trabalho.

“As pessoas estão desanimadas. Veja muitas banheiras de produtos cobertos porque algumas vendedeiras foram para casa por falta de venda”, disse uma vendedeira que há 36 anos comercializa verduras no mercado de Assomada. Segundo ela, o maior problema do Mercado Novo “é a desorganização, por exemplo, as que vendem na porta ganham sem pagar pela porta, nós temos que pagar, mas sem vender porque os fiscais deixam-nas ali à entrada impedindo as pessoas de entrarem”.

Numa banca de hortaliças montada no chão (dezenas de mulheres vendem assim, sem banca, que viraram depósito de desperdícios) uma jovem vendedeira aponta para a sujidade que salta à vista. “Fomos atiradas para este lugar não sei porquê. Lá no Mercado Velho (Pelourinho, no centro da cidade) estávamos muito melhor, vendíamos. Agora, nada, e ainda temos que pagar pela porta”, critica perante os ouvidos atentos de Félix Cardoso, lider do SAT e vereador não profissionalizado da Câmara Municipal de Santa Catarina.

Cardoso ia sendo acolhido de banca em banca, cumprimentando e foi ouvindo as preocupações dessas rabidantes. Uma delas, também há décadas nessa vida, corrobora a colega mais jovem indicando que desde que foram transferidas para o Mercado Novo as coisas pioraram. “Desde que viemos para cá a miséria tomou conta. Aqui, credo! Deviam nos deixar lá”.

A indecência que as ‘inquilinas’ do Mercado Novo assinalam, ganha ainda mais força quando outra vendedeira realça a falta de água no espaço. Inclusive na peixaria, as torneiras para o tratamento do peixe estão secas. “Nem nas casas de banho há água. Há três dias que está assim”, reclama uma peixeira que vende na parte de fora da peixaria.

O cenário repete-se no açougue, onde se vê pedaços de carne espalhadas pelo chão, em condições higiénicas deploráveis. “A nossa situação é muito triste. É lastimável o que se passa aqui no Mercado”, lamenta uma senhora peixeira durante um diálogo com o lider do SAT.

Do lado oposto, uma jovem chama Félix Cardoso para lhe pedir que levasse um recado à Câmara Municipal: “Félix, fla’s p’es liganu lus, por favor”. “Chegamos cá às 5 horas da manhã, descarregamos e começamos a vender em pleno escuro. Veja, a bateria do meu telemóvel descarregou, não tenho como ligar. Pagamos porta para quê, para onde vai o nosso dinheiro”, questiona. Félix Cardoso e comitiva ouviram com atenção.

O itinerário leva depois ao Mercado Velho ou Pelourinho, que teria sido indicado pelo ministro da Cultura, Abraão Vicente, para Mercado de Arte. O espaço que outrora fora referência de Assomada, ponto turístico obrigatório, está às moscas. Uma ou outra manicure ali, um ou outro quiosque que vende refeição quente, mobílias no chão e bancas vazias. Vazio também de clientes.

“Aqui virou abrigo de doentes mentais”, diz um dos integrantes da delegação do SAT, apontando para um doente mental deitado à sombra junto a um contentor de lixo. “Os doentes mentais chegam e roubam pratos com comida nas mesas e não há fiscais. Pagamos 187$00 pela porta todos os dias para quê então!”, reclama uma das vendedeiras de almoços, para quem “se for por vontade da CM fico sem jantar. Nem sequer limpam o mercado. Antes, todas as sextas-feiras o mercado era limpado para acolher as vendedeiras no sábado, dia de feira. Mas desde que entrou a actual presidente nunca mais chegaram aqui, se não formos nós a limpar vendemos dentro do lixo”.

Depois de Félix Cardoso se despedir, e sem que o mesmo tenha ouvido, a mesma senhora se vira para a colega ao lado e põe lume na fogueira. “Se o pessoal da CM não vier limpar o mercado vamos chamar a RTC”.

No Terminal Rodoviário as exigências e críticas são menos fervorosas, mas os elementos do SAT não deixam de apontar para as várias vendedeiras de peixe, hortaliças e outros itens num espaço não adequado. Cenário, aliás, que se nota um pouco por toda a cidade, peixeiras nas ruas e peixaria vazia.

Félix Cardoso, que iniciou esta manhã uma visita técnica exaustiva de três dias ao concelho, esteve atento a todas essas preocupações, mas, para já, vai continuando os contactos antes de ter uma ideia generalizada e mais aprofundada de como anda o concelho mais importante do Norte de Santiago.

Esta tarde, o SAT estará na Ribeira da Barca e amanhã, em João Bernardo, Ribeira dos Engenhos e Rincão.

 

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