O presidente da Câmara Municipal da Praia, Francisco Carvalho, considera que o Mercado do Coco é para ser sempre lembrado como o “maior desastre da gestão anterior”, uma infra-estrutura, segundo ele, que registou uma “derrapagem de 300%”.
“Está ali há mais de uma década e não é construído”, afirmou o autarca praiense, em entrevista à Inforpress, numa referência ao Mercado do Coco, acrescentando que esta infra-estrutura começou a ser erguida por uma câmara “que se gabava como campeã na área de gestão”.
Revelou, por outro lado, que as últimas fases do referido mercado “nem sequer obtiveram o visto do Tribunal de Contas”.
Segundo ele, a Câmara Municipal da Praia é a “única no País” que, neste momento, tem um processo em Tribunal, sinal de que de facto “a corrupção era um problema seríssimo”.
“Colocamos a palavra transparência no centro da gestão municipal”, indicou o autarca.
“A primeira coisa que fizemos quando chegámos à câmara foi solicitar ao Tribunal de Contas [TC] uma auditoria ao mercado e recusou-se a fazer isto”, lamentou o edil praienses, justificando o pedido, porque, sublinhou, estava convencido de que se está perante um bem público e em relação ao qual havia e há problemas.
“O Tribunal de Contas aparece sim, quando vêm combinadas as instituições para atacarem a Câmara Municipal da Praia”, acusou Carvalho.
Instado se está tranquilo em relação às inspecções que têm sido movidas à sua câmara, respondeu nestes termos: “Estou intranquilo em relação ao silêncio da sociedade cabo-verdiana, da comunicação social, dos fazedores da opinião, dos intelectuais e da sociedade civil. Isto é sinal de uma conivência silenciosa ao ataque à democracia. Isto é motivo de intranquilidade”.
Para Francisco Carvalho, a câmara por ele liderada está a fazer aquilo que nunca tinha sido feito antes, que é a “redistribuição da riqueza ao nível do município”.
Na sua perspectiva, está a enfrentar, pela primeira vez, de forma “coerente e justa”, a gestão do território no município da Praia.
Apontou que conseguiu dialogar com vários herdeiros de terrenos no município, tendo obtido entendimentos, que culminaram com a assinatura de um memorando, nomeadamente com os da zona de São Martinho e vai se fazer o mesmo com os herdeiros de Alto da Glória e São Francisco.
“Inauguramos uma fase completamente nova de entendimento e diálogo a vários níveis no nosso município. Neste momento, pagamos seguranças privadas para garantirem a vigilância de territórios privados, a fim de garantir que a ocupação ilegal não avance de forma desenfreada”, congratulou-se Francisco Carvalho, que disse estar a investir no futuro.
O presidente da Câmara Municipal da Praia acusa os vereadores da oposição (MpD) de inviabilizarem a proposta no sentido de fazer a progressão dos bombeiros da autarquia que, neste momento, estão em greve por tempo indeterminado.
Indagado sobre as razões que o levaram a perder a maioria absoluta na câmara, o autarca praiense explicou nesses termos: “Em democracia, não podemos amarrar as pessoas. A determinado passo, se há um vereador, que foi eleito na lista do PAICV, entender que deve passar por outro lado e posicionar-se sempre contra a lista pela qual foi eleito, é, também, um posicionamento democrático”.
No concernente à reivindicação dos bombeiros, é de opinião que, se os quatro vereadores do Movimento para a Democracia (MpD, oposição na câmara) quisessem viabilizar a proposta, podiam fazê-lo, “deixando à parte” o vereador dissidente do PAICV.
“(…) se os quatro vereadores do MpD quisessem votar a favor, deixando o único vereador à parte, não estariam a contribuir também para a aprovação das propostas”, pergunta o autarca.
A agricultura urbana e periurbana é uma outra aposta de Francisco Carvalho, que quer ver a Cidade da Praia rodeada de uma cintura verde.
“Qualquer economista sabe que qualquer país para avançar minimamente tem de ter capacidade de produção. É o que estamos a fazer no município. Estamos a apostar naquilo que é essencial”, indicou Carvalho, acrescentando que a aposta na Ribeira de São Filipe é na produção de bens essenciais do domínio da agricultura e da pecuária.
Relativamente à perda da maioria que detinha na câmara, Carvalho afirmou o seguinte: “Na câmara tínhamos a maioria absoluta, mas em democracia não podemos amarrar as pessoas. A determinado passo, se um vereador eleito do PAICV entender que deve passar para o outro lado e posicionar-se sempre contra a lista pela qual foi eleito, é, também, um procedimento democrático. É isto que falta às pessoas entenderem”.
Há pouco tempo realizou-se, no Mindelo, São Vicente, uma importante reunião dos eleitos municipais e a Câmara Municipal da Praia fez-se representar na pessoa de um director.
Perguntado sobre a não participação da capital ao mais alto nível, o autarca explicou que há uma “confusão mental” que reina na sociedade cabo-verdiana.
“Se vou a sítios, estou a viajar de mais e se não vou, estou a sub-representar a câmara. Tenho de fazer algum esforço para manter alguma sanidade mental da nossa parte”, lamentou, lembrando que a sua autarquia participou “com alegria” no referido Fórum Mindelo 2030.
“Não podemos estar em todos os sítios e em todas as horas. E não é bom”, concluiu Francisco Carvalho.
Instado se os outdoors com a sua imagem espalhados pela cidade não poderão ser interpretados como culto à sua própria personalidade, o autarca praiense descarta esta hipótese.
“Sou uma pessoa muito bem resolvida. Dou-me muito bem comigo mesmo. Alguém que ganha a eleição para presidente de câmara municipal da capital do País e continua a viver na mesma casa, no subúrbio da cidade, acho que isto diz muito sobre a questão do culto de personalidade. Mas, é minha opinião e vale o que vale”.
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