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Liderança do Grupo Parlamentar divide PAICV. Golpes, traições e o regresso dos “turcos”
Política

Liderança do Grupo Parlamentar divide PAICV. Golpes, traições e o regresso dos “turcos”

Saída de João Baptista Pereira abriu espaço para uma briga fratricida dentro do PAICV, que ultrapassa a mera escolha do novo líder da Grupo Parlamentar. Démis Lobo, por indicação estutária do presidente do partido, Rui Semedo, teve voto massivo da Comissão Política Nacional – 17 dos 19 membros presentes –, mas entre os deputados, que na prática vão votar em segredo o novo líder da bancada parlamentar tambarina, está a solidificar-se, “desautorizando” Rui Semedo, o nome de Luis Pires, ‘empurrado’ por Janira Hopffer Almada, que contará com a vantagem de apenas 11 dos 30 eleitos nacionais do PAICV pertencerem à CPN. E mesmo entre os comissários políticos há quem tenha já trocado de time. Perceba os jogos de bastidores deste despique que terá como ápice a disputa pela liderança do PAICV.

A Comissão Política do PAICV, do passado dia 19, aprovou de forma massiva o nome de Démis Lobo, indicado pelo presidente do partido, Rui Semedo, para substituir João Baptista Pereira como líder da bancada parlamentar. Dos 19 membros da CPN presentes na reunião (estiveram ausentes Carlos Silva, autarca de Santa Cruz, e a deputada Carla Carvalho, em missão na África do Sul), 17 levantaram a mão a favor da proposta do presidente do partido, ou seja, aprovaram o nome de Démis Lobo para novo líder do Grupo Parlamentar. Apenas o deputado por São Vicente, João do Carmo, votou abertamente contra e Rosa Rocha não assumiu qualquer posição.  

Démis Lobo, deputado pelo círculo do Sal

O problema é que há outro pretendente ao lugar, o deputado eleito pelo circulo do Fogo, Luis Pires (antigo presidente da CM de São Filipe), que está a agitar toda a estrutura do partido tambarina.

É que a eleição, por voto secreto, para o novo líder da bancada parlamentar (artº. 108º alínea b, do número 2 dos Estatutos do PAICV) será feita entre os pares na Assembleia Nacional e aqui, a decisão da CPN deverá encontrar um campo completamente minado. Pires, apoiado por Janira Hopffer Almada, tinha manifestado uma candidatura ao lugar, mas nunca apresentou essa intenção à direcção do PAICV optando por correr por fora, ou seja, entre os colegas deputados, onde terá mais apoiantes.

Luís Pires, deputado pelo círculo do Fogo

Com a ala de JHA no terreno em campanha, e com o partido literalmente dividido, o nome escolhido pela CPN corre sérios de não passar, o que não deixa de ser uma desautorização ao presidente do PAICV, Rui Semedo, que de acordo com os estatutos deve propor à CPN um nome para liderar o Grupo Parlamentar. De realçar que dos 22 membros da Comissão Política Nacional do PAICV 11 são deputados nacionais e se posicionaram a favor de Démis Lobo na reunião do dia 19 – Rui Semedo, João Baptista Pereira, Julião Varela, Fidel Cardoso, Paula Moeda, Francisco Pereira, Walter Évora e Fidel Cardoso, sendo que João do Carmo votou contra e Rosa Rocha não assumiu qualquer posição.

Nos corredores do Grupo Parlamentar tambarina nem se fala de disputa entre Démis Lobo e Luis Pires, mas sim contam-se, entre os 30 eleitos nacionais do PAICV, quem está com Rui Semedo e quem alinha com Janira Hopffer Almada. E há quem tenha trocado de lado, inclusive, traindo o seu próprio voto e, claro, o líder tambarina, Rui Semedo. Por exemplo, Paula Moeda, braço-direito de JHA, aprovou Démis Lobo na CPN do dia 19 levantando o braço junto com os outros membros, mas cá fora tem sido um dos rostos da campanha a favor da eleição de Luis Pires, fazendo então parte de um grupo que não quer saber da decisão de um órgão do partido como a CPN, uma demonstração clara que não está com a actual direcção do PAICV. “Um golpe ao Rui Semedo”, sintetiza um militante membro da CPN, que não descarta a possibibilidadee de outros deputados que são membros da Comisão Política mudarem de posicionamento na hora de votar em segredo.

Na verdade, atrás da cortina dessa eleição para o novo líder do Grupo Parlamentar, estará a ser cozinhada a próxima liderança do PAICV, com as movimentações dos chamados “turcos” a desenharem o seu retorno ao comando do PAICV, aproveitando a passividade da actual direcção e do silêncio (ou extinção?) do chamado “Grupo de pressão”.

Aliás, um dos argumentos do grupo opositor a Rui Semedo, é de que Démis Lobo (foi ministro da Presidência do Conselho de Ministros no último governo do PAICV de JMN) tem por detrás José Maria Neves, que, no seu entender, estaria a pavimentar o percurso dos nevistas que culminaria com a eleição de Nuias Silva para presidente do PAICV na próxima curva. Do outro lado, o arregimentar de apoios a favor de Luis Pires, não só força a queda da actual direcção do partido – perde o controlo do GP, do qual o presidente faz parte – como alicerça uma eventual candidatura da anterior presidente Janira Hopffer Almada à liderança, outra vez, do PAICV.

Nesta briga fratricida, com golpes, quezílias e traições à mistura, os fins parecem justificar os meios. Detalhe: segundo rezam os estatutos do PAICV, em sede do Grupo Parlamentar, o deputado proposto pelo partido deve ser eleito por maioria de votos dos seus pares. Caso o nome apresentado pela Comissão Política não merecer votos favoráveis da maioria dos deputados, o processo será relançado com a apresentação de uma nova proposta a esse órgão para posterior votação no Grupo Parlamentar.

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SOBRE O AUTOR

Hermínio Silves

Jornalista, repórter, diretor de Santiago Magazine