A revista demorou 15 minutos, tempo suficiente para a Polícia Judiciária portuguesa passar a pente fino as maletas que Gil Évora e Carlos Anjos traziam de São Vicente e Granadines, para onde tinham viajado, semana passada, segundo afirmam, ao serviço da empresa de consultoria Anjos Invest para um encontro com o sindicato de advogados que defende Alex Saab, procurado pelos Estados Unidos por lavagem de dinheiro. Segundo fonte bem informada, todo o trajecto já estava a ser monitorado pelos serviços secretos dos EUA desde a cidade da Praia.
Assim que desembarcaram em Lisboa, no regresso do arquipélago caribenho de São Vicente e Granadines, Gil Évora, ex-presidente do Conselho de Administração da Emprofac, e Carlos Anjos, dono da empresa de consultoria Anjos Invest, foram intrerceptados pela Polícia Judiciária de Portugal ainda no aeroporto.
Segundo fonte conhecedora do processo, as suspeitas da PJ lusitana recaiam sobre informações que davam conta de que Gil Évora e Carlos Anjos poderiam estar a transportar ilegalmente malas com dinheiro alegadamente trazidas desde a Venezuela. Aliás, conforme relatava o jornal El Nuevo Herald, os dois cidadãos cabo-verdianos, que na versão desse diário online sediado na Florida era uma missão secreta a mando do Governo de Cabo Verde, teriam partido de Caracas em direcção a São Vicente e Granadines com cinco malas, mas não revelaram o seu conteúdo.
Mas foi essa informação que teria levado a Polícia Judiciária portuguesa a ser accionada para abordar Gil Évora e Carlos Anjos assim que chegassem a Lisboa. De acordo com fonte ligada ao processo, os dois foram conduzidos a uma sala particular onde foram vasculhadas as suas malas e interrogados pelos agentes da judite portuguesa que, sabe Santiago Magazine, procuravam dinheiro que supostamente Évora e Anjos estariam a transportar, ao que tudo levava a crer, no âmbito de um esquema internacional de lavagem de capital.
A revista e o interrogatório, que segundo as nossas fontes demoraram cerca de 15 minutos e sem sucesso, terão sido feitos a pedido dos serviços secretos dos EUA, garante a nossa fonte, dando como exemplo imagens do circuito interno de videovigilância postas a circular nas redes sociais de Gil Évora e Carlos Anjos na sala de embarque do aeroporto internacional Nelson Mandela, na Praia. "Os EUA já sabiam dessa viagem e estavam a monitorar todo o percurso desde a cidade da Praia até São Vicente e Granadines e vice-versa", assegura.
Gil e Anjos foram dispensados para seguirem viagem de regresso a Cabo Verde, onde os aguardava um rol de críticas e condenações públicas por causa dessa (ainda) misteriosa viagem. Gil Évora, enquanto gestor público, acabou sendo demitido pelo Governo do cargo de PCA da Emprofac, depois de se reunir às 9h30 de sexta-feira, 21, com o vice-primeiro-ministro, Olavo Correia, e o secretário de Estado das Finanças, Gilberto Barros. O Executivo justificou a medida alegando "desviodas funções de gestor público", acabando com essa medida por assumir a veracidade das informações vindas a público.
Gil Évora haveria de justificar a sua deslocação a São Vicente e Granadines alegando que foi ao serviço de uma empresa de consultoria na área de aviação civil e que desde Junho estaria prestando assistência a Alex Saab. Essa empresa, sabe agora Santiago Magazine, chama-se Anjos Invest e pertence a Carlos Anjos, ex-director geral do Turismo, que esteve com Évora nessa viagem às Caraíbas para, como afirmaram, encontrar-se com o gabinete de advogados que defende Àlex Saab.
A propósito terá sido a Anjos Invest que, nas duas vezes em que um dos 15 advogados que trabalha com Saab foi impedido de entrar em Cabo Verde, a garantir alimentação e outros serviços logísticos até o seu regresso a Espanha.
Curioso é que um dos principais advogados do empresário colombiano tido como testa de ferro do presidente da Venezuela na lavagem de dinheiro, Garzón, disse desconhecer os propósitos da viagem de Carlos Anjos e Gil Évora a São Vicente e Granadines, nem tão-pouco os eventuais negócios ou contratos de prestação de serviço que envolvam Alex Saab.
Santiago Magazine quis falar com Gil Évora mas o mesmo disse que já explicou o que tinha a explicar no comunicado divulgado à imprensa mas deixou escapar que, agora, pretende trabalhar no sector privado.
Enfim, razões q.b. para crer que este folhetim irá continuar a fazer jorrar tinta, até que todas as dúvidas se dissipem e toda a verdade venha à tona.
Para já, o Ministério Público já comunicou, esta segunda-feira, 24, abertura de instrução criminal contra Gil Évora e Carlos Anjos, após estes terem, supostamente, se deslocado à Venezuela com a missão de encetar contactos com Nicolas Maduro, enquanto alegados emissários de Cabo Verde.
Gil Évora ia para o INPS
O "castigo" que o governo aplicou a Gil Évora não se esgotou na sua demissão de PCA da Emprofac. Segundo Santiago Magazine apurou, Évora estaria já acertado com o executivo para substituir em dezembro que vem a PCA do INPS, Orlanda Ferreira, que no final do ano vai para a reforma.
Só que com estes últimos acontecimentos, que deixaram Cabo Verde ficar muito mal na fotografia, cai por terra a então provável nomeação de Gil Évora para o INPS, conforme estava já acertado e comunicado inclusive aos funcionários.
A aposta nesse gestor, atestam as nossas fontes, tinha a ver com os números alcançados pela Emprofac nos últimos anos: crescimento médio de 10 por cento por ano e um lucrco líquido de 200 mil contos em 2019.
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