Escândalo! A silenciosa rede de quadros do MpD que controla o país
Política

Escândalo! A silenciosa rede de quadros do MpD que controla o país

Uma extensa rede tentacular de conhecidos quadros ligados ao atual Governo, seja por ligações partidárias e/ou relações familiares, acumula cargos nas empresas públicas. E, em vésperas de final de mandato, a distribuição de tachos parece ter-se acentuado para que “os amigos dos amigos” não fiquem desamparados, caso as coisas não corram bem em 2026. É um fartar vilanagem, à conta dos contribuintes, com um interesse bem definido: o controlo partidário do Estado.

Uma extensa rede de pagamento de favores políticos e de cumplicidades partidárias inundou as empresas públicas cabo-verdianas, com quadros ligados ao Movimento para a Democracia (MpD) e ao Governo, sem uma única exceção, a multiplicarem fontes de rendimento e acumulando chorudos salários à conta do erário público. Ultimamente, há a perceção de que esta corrida aos tachos se terá intensificado para que ninguém fique desamparado em eventual mudança do cenário político.

Profissionais liberais, militantes e dirigentes, por via direta ou familiar, aumentaram os seus elevados salários com cargos acumulados, sem o mínimo de pudor pelas precárias situações vivenciadas por jovens quadros desempregados, muito deles obrigados à emigração forçada, para ocuparem funções muito abaixo das suas qualificações.

O MpD, que na oposição tanto criticou a dança dos tachos – e que garantia “somos diferentes, fazemos diferente” -, chegando ao poder fez precisamente igual e, as mais das vezes, bem pior.

Tachos acumulados com fartura e para todos os gostos

Para início de conversa, convirá dizer que o Ministério das Finanças é, provavelmente, o maior gerador de tachos acumulados, com fartura e para todos os gostos, garantindo prebendas e mordomias à “família MpD”.

Comecemos por Gilson Manuel Gomes Pina, que exerce as funções de Diretor Nacional do Plano (no Ministério das Finanças) em acumulação com os cargos de Vice-Presidente do Conselho de Administração da Caixa Económica e de vogal do Conselho Fiscal da Bolsa de Valores. Gilson é filho de Manuel de Pina, antigo Presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago e destacado militante do MpD.

No mesmo ministério, José Luís Semedo, Diretor do Orçamento, acumula funções com o cargo de Administrador Suplente no Fundo Soberano de Garantia do Investimento Privado, ocupando, ainda, a cadeira de Presidente do Conselho Fiscal da Enapor. José Luís foi assessor de Francisco Tavares, quando este era Presidente da Câmara Municipal de Santa Catarina (Santiago), e vereador na gestão de Beto Alves, que lhe veio a retirar confiança política.

Ainda no Ministério das Finanças, segue-se a Diretora de Gabinete do Vice-Primeiro-Ministro (VPM) e Ministro das Finanças, Darlene Sofia da Silva Barros Vera-Cruz, que além destas funções, acumula com a de Diretora de Gabinete do Secretário de Estado das Finanças e, ainda, de Secretária da Mesa da Assembleia do Parque Tecnológico Arquipélago Digital de Cabo Verde (Techpark), bem como de Segundo Vogal do Conselho Fiscal da Imobiliária, Fundiária e Habitat, S.A.

Darlene Sofia, seguramente, nem terá tempo para dormir, já que um despacho do VPM, com data de 14 de agosto de 2025 - e publicado no Boletim Oficial a 29 do mesmo mês -, delega ainda à senhora a prática de atos de gestão correntes dos recursos humanos, orçamentais, financeiros e patrimoniais da Unidade de Acompanhamento do Setor Empresarial do Estado (UASE).

Pedro Barros, depois de deixar a presidência do Instituto de Apoio e Promoção Empresarial (Pró-Empresa), para abraçar a Presidência do Conselho de Administração da TACV, passou ainda a acumular com a Presidência da Mesa da Assembleia Geral da Pró-Capital.

Lígia Pinto, administradora da Média Comunicações, a empresa privada que detém o jornal Expresso das Ilhas e a Rádio Morabeza, é também

Administradora Não Executiva na Pró-Capital e Administradora da recém-criada Linhas Aéreas de Cabo Verde.

Os advogados Raquel Medina e Zilmar Lopes, do escritório Raquel Spencer Medina Advocacia e Consultoria, ocupam, respetivamente, a Presidência e Vice-Presidência das mesas das assembleias gerais da Caixa Económica e da Bolsa de Valores. Estes dois advogados têm ligações familiares com antigos dirigentes e ministros do MpD nos anos 90.

A advogada Sofia Dupret Fonseca, do escritório FMDS – Advogados e Jurisconsultos, é Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Emprofac, acumulando com as funções de Secretária da Mesa da Assembleia Geral da Caixa Económica. De referir que a advogada é filha do anterior Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca.

Todos nomes próximos do MpD

Nesta rede tentacular de quadros do MpD, ou que lhe são próximos, aparecem nomes ligados a empresas e institutos privados, bem como de escritórios de advocacia, que registam, no mínimo, uma acumulação como administradores não executivos, vogais em conselhos fiscais ou presidentes de assembleias gerais.

Alguns desses nomes são Yara Helena Miranda Semedo, Presidente do Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais (instituição criada por um grupo ligado ao MpD), advogada e sócia da FMDS – Advogados e Jurisconsultos, e Vogal do Conselho de Administração da Caixa Económica; Simão Monteiro, Advogado (ministro do MpD nos anos 90), administrador e sócio da Tecnicil, e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da CV Telecom; Dilma Solange Silva, (filha de um antigo ministro do MpD nos anos 90), advogada no escritório Eurico Correia Monteiro & Associados, ocupando funções como Vogal do Conselho Fiscal da Emprofac; e Sheila Maritza Pinto Monteiro, advogada da FMDS – Advogados e Jurisconsultos, ocupando funções de suplente no Conselho Fiscal da Caixa Económica.

Controlo partidário do Estado

Para além dos nomes que avançamos, haverá outros a exigir investigação mais extensa a que regressaremos, mas a ponta do iceberg que hoje apresentamos, traduz com toda a clareza a lógica sistémica de partilha de tachos, na sua maioria ligados por relações partidárias e/ou familiares a antigos governantes e dirigentes do MpD, uma teia de interesses e de partilha de tachos com um interesse bem definido: o controlo partidário do Estado.

 

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Redação