O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV – oposição) lamentou hoje a derrota de Cabo Verde na corrida à presidência da comissão da CEDEAO e disse que “faltou tratamento com sentido de Estado” no processo de candidatura.
“Foi com tristeza e um sentimento de profunda frustração, constatamos que Cabo Verde perdeu a presidência da CEDEAO. É uma grande derrota para Cabo Verde, agravada pelo facto de o país ter assumido, já por diversas vezes, a sua intenção de reforçar a integração regional”, afirmou a presidente do PAICV, Janira Hopffer Almada, em declarações à imprensa.
A líder do principal partido da oposição, que reagia à “derrota” na Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), criticou o facto de Cabo Verde não ter trabalhado, enquanto Estado, a sua candidatura.
“Nem o dossiê teve, em tempo, o tratamento de Estado que se impunha, nem o próprio Estado estruturou e preparou uma candidatura do país, e, muito menos, delineou uma estratégia para assumir a presidência da CEDEAO”, comentou.
Janira Hopffer Almada afirmou que “em nenhum momento, os cabo-verdianos sentiram que Cabo Verde tinha uma candidatura, enquanto Estado, e talvez por isso mesmo não se tenha sentido nenhum esforço de mobilização das forças vivas da Nação, incluindo o Parlamento e os partidos políticos.
Segundo a líder do PAICV, “não se procurou o necessário e imprescindível envolvimento de personalidades que têm um profundo conhecimento da Região e, muito menos, se procedeu a auscultações para se apresentar uma candidatura que mobilizasse o país.
Janira Hopffer Almada salientou também que “não se investiu na envolvência de todos, incluindo antigos presidentes da República, antigos primeiros-ministros e antigos ministros de Negócios Estrangeiros para criar uma corrente única de defesa dos interesses do país, na sua máxima força e aproveitando todas as capacidades, a todos os níveis”.
Sobre o atraso no pagamento das quotas de Cabo Verde a nível da CEDEAO, que poderá ter pesado na decisão, Janira Hopffer Almada disse que “ficou provado” que a dívida não era o problema.
“Ficou provado que, numa matéria de tamanha importância, que poderia garantir um salto qualitativo em matéria de integração regional, sobretudo na perspectiva económica, o país não fez o seu trabalho de casa”, afirmou.
“Quem perde, infelizmente, é Cabo Verde. Sem procurar culpas e culpados, agora que sejamos capazes de ter nisso um aprendizado para o futuro, que assumamos de forma estratégica a questão da integração regional e que coloquemos os interesses partidários de lado de uma vez por todas quando o que está em causa é Cabo Verde que é mais importante do que qualquer partido”, concluiu a líder do PAICV.
A presidência da comissão da CEDEAO foi decidida antes da aprovação da ordem do dia dos trabalhos da 52.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, numa sessão à porta fechada, tendo a questão sido discutida durante três horas.
Na corrida à presidência da CEDEAO foram apresentadas quatro candidatura: Cabo Verde, Costa do Marfim, Gâmbia e a renovação da actual presidência do Benim.
Durante a reunião, o Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, fez seis intervenções, defendendo o direito de Cabo Verde a assumir a liderança da comunidade em respeito pela ordem alfabética instituída na organização.
Com a Costa do Marfim a ser escolhida para assumir a presidência, o chefe de Estado cabo-verdiano mostrou “o seu repúdio pela forma como a questão foi tratada e considerou inaceitável o não cumprimento de regras estabelecidas”, solicitando o registo da sua posição na ata final da Cimeira.
Benin, Burkina Faso, Cabo Verde, Côte d’Ivoire, Gâmbia, Gana, Guiné-Bissau, Guiné-Conacry, Libéria, Mali, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa e Togo são os 15 Estados-membros da CEDEAO, uma Comunidade que alberga cerca de 300 milhões de habitantes.
Com Inforpress
Comentários