Afinal confirma-se ter sido Carlos Veiga a pessoa-sombra por detrás do “recrutamento” do empresário e financiador da extrema-direita César Manuel Cardoso Matos do Paço, mais conhecido por César do Paço que chegou a ser nomeado Cônsul Honorário de Cabo Verde na Flórida, bem como nomeada a sua esposa Deanna Padovani de Paço a Cônsul Honorária de Cabo Verde em New Jersey, nos Estados Unidos.
O nome de César do Paço estourou como uma bomba na opinião pública cabo-verdiana quando se soube, numa Reportagem da SIC Notícias, “A Grande Ilusão: cifrões & outros demónios” que revela que este senhor não era só grande financiador do partido xenófobo português CHEGA e do Movimento Zero, grupo neofascista português ligado às forças de segurança, mas sim um sinistro empresário português, radicado nos EUA, com ligações aos movimentos extremistas americanos, como o Blue Lives Matter e Qnon, com forte implantação na Flórida.
O mais estranho é que a SIC Notícias mostra que a viagem de César de Paço e da mulher a Cabo Verde, por diligência do Embaixador Veiga, teve o mais inusitado acolhimento do Governo cabo-verdiano, com o casal a ser recebido pelo então Ministro de Estado dos Assuntos Parlamentares e do Conselho de Ministros, Fernando Elísio Freire e pelo então Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Defesa Nacional, Luís Filipe Tavares, curiosamente dois vice-presidentes do MpD. Tavares haveria de pedir demissao do Governo, mesmo depois de garantir que a nomeaçao de César do Paço nao seria revogada. O procurador geral da República, através de um comunicado, anunciou a abertura de instrução criminal no alegado caso de benefício patrimonial, concretamente a alegada oferta de uma viatura Mercedes Benz, ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Filipe Tavares, em troca da nomeação de Cesar de Paço no cargo de Cônsul Honorário de Cabo Verde na Flórida. Até agora nada.
Como elucidou a reportagem da SIC, depois de ter sido recebido na Praia também por Paulo Rocha, ministro da Administração Interna, numa sessão em que “o guru de André Ventura”, como Do Paço é conhecido em Lisboa, oferecera um carro de patrulha e um cão-polícia. Estranha-se que Paulo Rocha, que já foi diretor da Polícia Judiciária, Conselheiro da Segurança Nacional e ex-diretor do Serviço da Informação da República não tenha “checado” o homem que tem cadastro e ficha suja, que determinou a sua saída do posto de Cônsul Honorário de Portugal, também em 2020.
César do Paço insistia com a Secretaria de Estado das Comunidades e a Embaixada Portuguesa em Washington em ter privilégios especiais, ao que lhe foi negado com um "você precisa de servir o Estado português, não o contrário".
A promessa de trabalhar com Paulo Rocha não avançou por suposta indicação de Carlos Veiga, que queria todo o foco em Luís Filipe Tavares, que, diligente, prometeu aos visitantes pedir exequátur às autoridades americanas e atribuir-lhes os passaportes diplomáticos e inédita guarda-de-honra militar durante a visita feita ao Estado Maior das Forças Armadas.
O escândalo maior não se prende apenas à oferta de um Mercedes topo de gama que César de Paço presenteou Luís Filipe Tavares, esquema de corrupção que embaraça o governante e leva à sua demissão, ou o facto deste mesmo automóvel, a ser despachado de Portugal, implicar directamente o Gabinete Carlos Veiga Advogados & Associados, na Praia, envolvendo a diligência da advogada Carla Tavares, por sinal irmã de Luís Filipe Tavares.
Segundo fontes de Santiago Magazine, “o escândalo maior foi a orquestração pelo então Embaixador de Cabo Verde em Washington, Carlos Veiga, para a visita de César de Paço e de Deanne Lodovani de Paço à cidade da Praia alinhar-se ao programa de internacionalização do partido de extrema-direita portugues CHEGA que teria nesse mês de março de 2020 uma mini-cimeira na capital cabo-verdiana, com a presença de André Ventura e Matteo Salvinni, líder do partido xenófobo italiano Liga, cancelada, entretanto, devido à pandemia de covid-19.
Esta mini-cimeira desses partidos considerados radicais da extrema-direita que deveria ter lugar em Cabo Verde, com bênção de Carlos Veiga (aliás, consta que não terá agradado ao Primeiro-Ministro Ulisses Correia e Silva), tinha como pontas de lança os dirigentes do MpD Luís Filipe Tavares e Lourenço Lopes, este próximo de Cristiano Monteiro (antigo deputado que assumiu nas redes sociais ter apadrinhado o contacto de Cesar do Paço com as autoridades governamentais, sublinhando que se arrependeu desse acto), e da parte do CHEGA, o advogado José Lourenço, então vice-presidente distrital do Porto e responsável pela Fundação DePaço, uma não menos tenebrosa instituição, aparentemente filantrópica, mas que abriga gente da extrema-direita e que persegue os imigrantes africanos em Portugal.
Quem apresentou César do Paço a Carlos Veiga, então embaixador de Cabo Verde nos Estados Unidos da América terá sido um dos dirigentes do MpD na América, Cristiano Monteiro, como alegadamente empresário interessado a investir em Cabo Verde. Ato seguinte, Veiga convida-o a fazer uma missão a Cabo Verde. Em Cabo Verde, entre várias ações, César do Paço abriu uma conta bancária num dos bancos da praça, conta esta que suspender com o deflagrar do escândalo. Umas gentes falam em lavagem de capitais, para branquear atividade ilícitas, outros falam na abertura de uma empresa de pneus e de segurança na Praia.
Pela ostentação e gastos de uma certa candidatura às presidenciais do dia 17 de outubro, uma pergunta que não se quer calar: “Será que os cifrões e outros demónios” de César de Paço e da extrema-direita europeia e americana têm o seu candidato de eleição em Cabo Verde?
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