É o cenário mais optimista traçado por um especialista em renovação ambiental. Mas o mais provável é que a floresta destruída pelos incêndios que lavram há mais de duas semanas na Amazónia nunca voltará a ser como dantes. Entre 2000 e 2017, a Amazónia brasileira perdeu mais do que o equivalente à Alemanha em área de floresta.
A floresta destruída pelos incêndios que lavram há mais de duas semanas na Amazónia nunca voltará a ser como dantes. Este é o cenário mais pessimista, mas também o mais provável, traçado por Jerônimo Sansevero, professor do Departamento de Ciências Ambientais do Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Em entrevista à BBC Brasil, publicada esta quarta-feira, o académico fala de “uma perda irreparável”. “Nunca tivemos uma perda tão alta nas últimas três décadas”, sublinha.
A Amazónia brasileira perdeu mais do que o equivalente ao território da Alemanha, em área de floresta, entre 2000 e 2017. Isso corresponde à perda de cerca de 400 mil quilómetros quadrados de área verde, segundo um estudo da Universidade de Oklahoma, nos EUA, publicado na revista científica “Nature Sustainability”. Este valor é mais do dobro da área registada no mesmo período pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que foi de 180 mil quilómetros quadrados.
Numa perspetiva optimista, seria possível recuperar alguma da área ardida, equaciona Jerônimo Sansevero, mas seria sempre “uma menor parte” e seriam precisas pelo menos duas décadas. Especialista em renovação ambiental, o professor da UFRRJ explica que a possibilidade de recuperação da área desmatada depende, em primeiro lugar, da dimensão do impacto causado na vegetação original. E compara a situação com traumas humanos: “Alguns traumas a gente consegue superar mas outros têm um impacto tão grande que você não consegue voltar ao que era antes.”
Nas áreas em que o solo foi afetado muito intensamente, dificilmente haverá a recomposição da vegetação original, defende o especialista. Nos locais sujeitos a uma agricultura de baixo impacto, sem recurso a queimadas ou máquinas, aumenta a possibilidade de recuperação.
Um fator crucial para a recuperação é a proximidade de uma área de floresta, que serviria como fonte de sementes e frutos capazes de originar novas plantas na área destruída, aponta a BBC. Um outro fator importante é o grau de secura ou humidade dos terrenos: as áreas naturalmente mais secas têm menor capacidade de recuperação, lembra Sansevero.
Fumo dos incêndios já chegou ao Perú
Dados do INPE revelam que os quase 73 mil focos de incêndio no Brasil, registados entre 1 de janeiro e 19 de agosto, representam um aumento de 83% relativamente ao ano passado.
Entretanto, a agência EFE noticiou que o fumo dos incêndios florestais que lavram na Amazónia, no Brasil e na Bolívia, já chega a algumas províncias do Peru. A informação foi revelada por fontes do Centro de Operações de Emergência Regional da região peruana de Madre de Deus. Trata-se de uma cortina fina de fumo que começou por surgir na província de Tambopata, situada naquela região, devido ao ar que chega dos dois países vizinhos.
Bolsonaro diz que ONGs podem ter ateado fogo para o prejudicar
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, afirmou esta quarta-feira que organizações não-governamentais (ONG), com intenção de prejudicar o seu Governo, podem ser as responsáveis pelos incêndios na Amazónia. “O crime existe e isso aí nós temos de fazer o possível para que esse crime não aumente, mas nós tirámos dinheiros de ONG. Dos repasses de fora, 40% iam para as ONG. Não tem mais. De forma que esse pessoal está sentindo a falta do dinheiro”, disse em Brasília.
Bolsonaro acrescentou que achava estranho os incêndios deflagrarem em diversas áreas da Amazónia e, por isso, acredita que podem fazer parte de um plano orquestrado para o atingir. “Então, pode estar havendo, sim, pode, não estou afirmando, ação criminosa desses ongueiros [funcionários das ONG] para chamar a atenção contra a minha pessoa, contra o Governo do Brasil. Essa é a guerra que nós enfrentamos”, referiu.
O chefe de Estado não apresentou quaisquer provas para fundamentar as suas suspeitas. No entanto, reiterou que as ONG que actuam na protecção do ambiente no Brasil estão ao serviço de “interesses estrangeiros”.
Expresso.pt
Comentários