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Feira do dinheiro. A máfia e o poder político já se casaram…?
Editorial

Feira do dinheiro. A máfia e o poder político já se casaram…?

O Platô transformou-se nestes últimos tempos num centro público de lavagem de dinheiro e branqueamento de capital. Tudo ao gosto do freguês. Consta que até armas de fogo e munições circulam tranquilamente entre os “feirantes”. Ou melhor, entre quem vende e quem compra. Tudo isto acontece à luz do dia e é do conhecimento de cidadãos e instituições.

São várias dezenas de indivíduos, de ambos os sexos, que durante o dia fazem câmbio e outros negócios, na barba-cara do Banco de Cabo Verde, tido como regulador do sector financeiro, e paredes meias com bancos comerciais, INPS, Seguros e demais instituições judiciais e de ordem pública e comunitária, concretamente o tribunal da Praia, a Câmara Municipal da Praia e o Comando Geral da Polícia Nacional.

O centro da capital do país, Platô, concentra, desde sempre, as principais instituições da República, pelo que é impossível que as autoridades não tenham tomado conhecimento desta situação do mercado negro do dinheiro, a funcionar de portas escancaradas no coração da cidade há mais de duas décadas.

Centro do poder político e administrativo, Praia é uma cidade que deve inspirar confiança aos seus habitantes e ao país inteiro.

É certo que o negócio do dinheiro no coração da capital do país é uma grande ilegalidade, podendo configurar-se em crime financeiro. São milhões que fogem ao controlo financeiro do país e ao crivo do banco central, que exerce o papel de supervisão e regulação do mercado financeiro nacional.

Num país com as características de Cabo Verde, onde todo o mundo conhece todo o mundo, como é que se explica este silêncio institucional à volta deste ato que se não for crime público é pelo menos um crime em público?

Sabendo que as rabidantes são física e psicologicamente “chicoteadas” pelos guardas municipais, pelo simples facto de venderem frutas, dropes e outras bugigantes de modo a garantirem uma refeição para os seus filhos, como aceitar este fechar do olho institucional e social em relação a este ato, que se configura crime público - ou será crime em público - cometido pelos negociadores do dinheiro?

Com efeito, não deixa de ser estranho que os serviços de fiscalização camarária estão investidos de poder e autoridade para correr atrás de vendeiras ambulantes, em certas situações com violência, e não têm este mesmo poder e autoridade para impedir que pessoas bem identificadas façam negócios ilícitos com toda a naturalidade no coração da capital do país.

São situações e factos que interpelam o estado de Direito, e colocam a cidade da Praia nos limites do abandono, no que tange à organização e cumprimento de normas de civilidade.

Por exemplo, o funcionamento desta feira do dinheiro é tanto mais gravoso, quando se sabe que muitas vezes os “feirantes” chegam a vender e comprar o produto – dinheiro – na mesma rua onde está o gabinete do Diretor Nacional da Polícia Nacional, a entidade máxima quando o assunto em pauta é ordem pública.

É algo preocupante, mas que, apesar de tudo, tem passado completamente à margem das agendas oficiais, seja judicial, policial, política ou administrativa. Há décadas que esta situação acontece nas barbas das autoridades. Completamente impunes, totalmente à-vontade.

O gabinete do Vice-Primeiro ministro e ministro das Finanças está um pouco mais abaixo, porém na mesma plataforma, e como os “feirantes” normalmente andam á caça de potenciais clientes um pouco por todas as ruas adjacentes e até na praça em frente à Igreja Matriz, é possível que tenham já interpelado o Olavo Correia para comprar ou vender divisas. E faz sentido, o homem anda sempre em viagens, certamente há de em algum momento ter consigo umas divisas nos bolsos… Ou escudos, para cambiar.... enquanto aguarda uma próxima missão…?

Por outro lado, sendo o ministro das Finanças um amigo confesso dos empresários e demais empreendedores, pode ser, eventualmente, que estes “feirantes” também façam parte do pacote do setor privado a ser incentivado e empoderado… quem sabe?

São questões que ficam a aguardar respostas de quem de direito…

Quanto ao papel da Câmara Municipal da Praia e dos seus serviços de fiscalização está claro que a aposta é “infernizar” a vida das vendedeiras ambulantes, arrombar as casas clandestinas construídas por essas mesmas vendedeiras, ou por famílias da mesma condição social que elas, delapidar os terrenos municipais em Parceria-Público-Privado de legalidade duvidosa, ou em leilões com vencedores antecipados.

É esta a realidade da capital de Cabo Verde, que as autoridades políticas, administrativas e judiciais fingem desconhecer.

É sim! Por isso, antes de terminar, fica aqui um apelo a cada cabo-verdiano de boa vontade, no sentido de responder, para si mesmo, que capital está a ser construído? E quem diz capital, diz Cabo Verde…? Estará a máfia definitivamente infiltrada no poder político ou o poder político conquistou a máfia?

A direção,

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Redação