Artur Furtado, candidato ao cargo de reitor da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), nesta entrevista exclusiva ao Santiago Magazine, propõe uma “liderança baseada na humildade, no respeito pelas pessoas e na valorização de recursos e capacidades”, porque sonha com uma universidade alinhada com os grandes desafios do país.
Santiago Magazine - Sabemos que o senhor é quadro da Uni-CV e quer candidatar-se ao cargo de Reitor. Quem é Artur Furtado?
Artur Furtado - Sou Artur Tavares Furtado, filho de pais cabo-verdianos, nascido em São Tomé e Príncipe. Fiz os meus estudos iniciais em Santa Catarina. Seguidamente, consegui uma bolsa de estudos para Estados Unidos da América, onde fiz o curso de Engenharia Industrial, na Iowa State University. Daí, regressei a Cabo Verde, onde trabalhei na Direcção Geral de Indústria e Comércio, ao mesmo tempo que dava aulas no antigo Ano Zero. Durante esse tempo tive a oportunidade de fazer uma formação em Gestão de Pequenas e Médias Organizações em Israel. Depois fui à França fazer mestrado em Gestão Industrial e doutoramento em quantificação de Fluxo de Matéria aplicado a organização do território. Em 2008 entrei na Uni‑CV como docente, através de concurso público. Fui membro do Conselho Directivo da ENG e Coordenador do Curso de Mestrado em Administração Pública. Em 2012, integrei a Comissão Instaladora do então Instituto da Propriedade Intelectual como administrador executivo. Durante o período que estive no Instituto da Propriedade Intelectual, fiz o curso de mestrado em Direito de Propriedade Intelectual em Camarões. Atualmente sou docente e investigador na Uni-CV. Sou membro do Conselho da Universidade da Uni-CV.
Porque é que está a concorrer para o mais elevado cargo dentro da sua Universidade. Quais são as suas motivações nesta candidatura?
Por um lado, o que levou a que me disponibilizasse para me candidatar ao cargo de Reitor da Universidade de Cabo Verde foi e é o espírito de bem servir; isto é, a oportunidade de colocar à disposição da Universidade todo o meu conhecimento e a minha experiência, acumulados quer fora quer dentro do país.
Por outro lado, esta minha candidatura também surgiu de uma forma espontânea e natural, acudindo a um apelo de colegas de profissão: docentes, administrativos e alunos da Uni-CV, que insistiram para que me disponibilizasse a ser candidato a Reitor. Razão porque, é de toda conveniência explicar que esta candidatura a Reitor da Universidade de Cabo Verde surgiu, de forma muito interessante, (vontade e apelo) da comunidade académica da UniCV e da sociedade, com base na capacidade, humildade, simplicidade, independência e rigor, como tenho vindo a desempenhar as minhas funções nesta Universidade.
Nesse sentido, tenho sido abordado por colegas professores e investigadores, desta e de outras universidades cabo-verdianas, por funcionários e demais prestadores de serviços da UniCV, por estudantes de várias Faculdades da UniCV e, também, por outras entidades e instituições que se relacionam com a Universidade de Cabo Verde, (os stakeholders), nomeadamente, serviços públicos e privados e algumas personalidades idóneas, que consideram ser minha obrigação e dever cívico candidatar-me a Reitor da Universidade de Cabo Verde.
Todavia, a apresentação de um projeto de candidatura desta natureza comporta sempre uma marca pessoal indelével, pelo que o programa com o qual me irei candidatar ao cargo de Reitor da Universidade de Cabo Verde nunca poderá ser uma mera continuidade das acções da atual equipa reitoral cessante. A minha equipa pugnará por uma mudança de paradigma na gestão universitária, com uma nova visão, missão e estratégia baseadas numa melhor organização, publicitação (no sentido de que esta é e continuará a ser uma universidade pública e, por isso, ao serviço dos desígnios de desenvolvimento de Cabo Verde, prestando serviços, com qualidade e a preços módicos), empresarialização (com vista a garantir sustentabilidade universitária), monetarização e excelência na execução.
Quais serão a linhas mestras da sua actuação como candidato e como futuro reitor?
Como é evidente, o desempenho bem-sucedido de uma função como esta a que me candidato exige, também, a constituição de uma equipa coesa e competente. A equipa reitoral será, portanto, uma peça-chave na concretização do programa de acção que me proponho liderar.
Dois princípios nortearão a formação da minha equipa: i) Recrutar os melhores entre os melhores, (com base na Teoria de Recursos e Capacidades; isto é, quando há recursos e capacidades interorganização, dentro da Universidade, há que aproveitá-los, estimulá-los, formá-los e reciclá-los, adequar os seus perfis às funções e tarefas; mas quando não os há internamente, há que ir buscá-los ao mercado, tendo em conta o factor tempo requerido para adaptação dos perfis às tarefas)… ii) Assegurar e salvaguardar a independência e a coesão interna da equipa, que, em princípio, deve ser tendencialmente transdisciplinar, em termos de conhecimento, mas também de experiência.
"Na Uni-CV há que corrigir muitas coisas e aperfeiçoar outras, embora acreditemos que com muito esforço, trabalho e uma boa gestão podemos tirar a universidade da situação em que se encontra. Como disse Nha Nácia Gomi, “(…) sima nu Kre, nu ka podi stâ; mas, sima nu stâ, nu ka podi fica”
Poderia detalhar estes princípios para melhor compreensão do leitor?
A minha candidatura basear-se-á num conjunto de princípios e valores, relacionados com os estatutos da Universidade de Cabo Verde, os quais, durante o meu mandato, (se ganhar, tal como se espera), deverão ser alterados, aprimorados e aperfeiçoados em vários aspectos. Estes princípios e valores serão nucleares na e para nova equipa reitoral e de gestão da UniCV, em cuja sede se se tomarão medidas de políticas que o seu status quo na comunidade académica, na sociedade em geral, quer dentro quer fora do país. Os valores desta candidatura são os seguintes: i) Gestão baseada, essencialmente, numa política séria, na transparência, na qualidade e no reconhecimento e valorização do mérito; ii) Independência em relação aos poderes instituídos, qualquer que seja a sua origem e forma, exercendo uma governação baseada na autonomia, dentro dos limites legalmente estipulados, mas num espírito de cooperação e lealdade institucional; iii) Gestão eficiente e eficaz (gestão proficiente) das decisões, atividades e tarefas da Universidade; iv) Promoção da liberdade para ensinar e investigar, no respeito óbvio pelos princípios e valores definidos pela Universidade; v) Promoção da inovação, criatividade e empreendedorismo na Universidade; vi) Promoção do intra-empreendedorismo universitário, criação de star-ups universitários, numa lógica de extensão da Universidade, estimulando e premiando os melhores… (o bom é inimigo do ótimo!); vii) Incentivo e motivação ao desenvolvimento de carreiras do pessoal docente, pessoal não-docente e investigador; viii) Atribuição de prémios aos melhores trabalhos científicos que contribuam para o engrandecimento do nome da Universidade ao serviço do país; ix) Igualdade de acesso e tratamento, independentemente de questões de género, idade, grupo social, cultural, ético ou religioso; x) Atribuição de prémios anuais aos melhores alunos da Universidade; xi) Respeito, atenção e continua interação, num clima de confiança, abertura e acessibilidade, face aos estudantes e a todas às unidades orgânicas e órgãos de gestão da Universidade; xii) Promoção do desenvolvimento ambiental, económico e social sustentável; xiii) Respeito por elevados padrões éticos em todas as atividades; xiv) Consideração pelos cidadãos portadores de deficiência, assegurando condições para a sua integração.
O que é que está mal na UniCV?
Na Uni-CV há que corrigir muitas coisas e aperfeiçoar outras, embora acreditemos que com muito esforço, trabalho e uma boa gestão podemos tirar a universidade da situação em que se encontra. Como disse Nha Nácia Gomi, “(…) sima nu Kre, nu ka podi stâ; mas, sima nu stâ, nu ka podi fica”.
Na Universidade de Cabo Verde existem vários problemas: de finanças, de relacionamento entre a reitoria e as unidades orgânicas, de qualidade de investigação, de autonomia das unidades orgânicas, de PCCS, problema de falta de justiça distributiva no enquadramento e na promoção do pessoal docente e de reclassificação do pessoal não-docente; problemas de licenças sabáticas, que se atribuem sem critérios claros e conhecidos; problema de desvalorização do mérito individual e de promoção do amiguismo e de interesses corporativos instalados no sistema; problema de abertura de cursos sem uma explicação lógica e entrosamento entre a universidade, a sociedade e as empresas; tomadas de decisões sem base estatística ou estudos ad hoc; entre outros. Quais são as bases e os critérios científicos, (em termos da existência de estudos ad hoc), para a criação e abertura de novos cursos? Quantos professores temos quase com horários-zero ou horário com pouca carga: 2 horas, 4 horas, 6 horas? Porquê? Porquê que se abrem cursos para os quais não há solicitações por parte da sociedade e das empresas?
"A universidade terá que estar ao serviço do desenvolvimento do país e bem-estar da sua gente"
Neste caso, se ganhar as eleições, o que é que vai mudar na universidade pública?
Assim que eu ganhar as eleições, a minha equipa proporá para a Uni-CV a missão de criar e transmitir conhecimento científico de acordo com os mais altos padrões internacionais, formando profissionais altamente qualificados, ao nível de licenciatura, pós-graduado, mestrado e doutoramento nas diversas áreas, mas sempre com um olhar atento para as áreas de interesse nacional. A universidade terá que estar ao serviço do desenvolvimento do país e bem-estar da sua gente. Isso passará pelos seguintes: i) Uma reforma curricular de todos os ciclos de estudos das faculdades, o que permitirá a racionalização da oferta formativa, reduzindo o esforço e libertar recursos (tanto financeiros, como humanos) para dinamizar em particular a investigação e a internacionalização da Universidade; ii) Trabalhar para criação de um centro de investigação com seis unidades de investigação de elevada qualidade, reconhecida pelas avaliações externas internacionais a que são sujeitas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT); iii) Propor ao governo a criação de um hospital universitário para realização de experiências por parte dos alunos, estágios e para servir a sociedade e o turismo, contribuindo, assim, também para a sustentabilidade da Universidade; vi) Aumentar a produção científica, sua valorização e a sua internacionalização; v) Criação de incentivos diversos para a promoção da investigação; vi) Premiar os melhores trabalhos de investigação científica dos professores e alunos; vii) Criação do Prémio Carreira e do Prémio Revelação destinado a homenagear um(a) graduado(a) pela Uni-CV; viii) Criação de prémio anual para os dez melhores alunos da Uni-CV; ix) Garantir um quadro de autofinanciamento e sustentabilidade económico-financeira da UniCV; x) Formação pedagógica para todos professores da UniCV sem experiencia no ensino; xi) Maior articulação entre a Uni-CV e as Escolas Secundárias; xii) Criação de Gabinete de acolhimento, seguimento e preparação dos alunos para mercado de trabalho; xiii) Implementação do PCCS; xiv) Disseminação de boas práticas e promoção da meritocracia; xv) Criação de gabinete de estudos de mercado e sondagens de opinião; xvi) Redimensionamento da universidade de acordo com as suas possibilidades de ofertas formativas mantendo sempre um padrão de qualidade previamente estabelecido; xvii) Criação de condições para projetar a imagem da Uni-CV entre as melhores universidades da Africa no horizonte de quinze anos; etc.
"A nossa equipa trabalhará para elevar a taxa de empregabilidade dos diplomados da Uni‑CV. Por isso, promoveremos um ensino de qualidade e prestígio que proporcionará aos formandos da Uni-CV conhecimento técnico e científico por forma a permitir-lhes atingir cargos de alta responsabilidade em empresas, instituições e funções governamentais".
Pelo que acaba de dizer, se ganhar terá um grande desafio para cumprir o seu programa. Já pensou nisso?
A nossa missão irá concretizar-se através da optimização da articulação entre investigação-ensino e aplicabilidade, da promoção de uma aprendizagem multidisciplinar, e da interacção entre empreendedorismo, tecnologias e inovação, de modo a preparar profissionais competentes e capacitados para lidar com eficácia com os desafios da sociedade, em organizações lucrativas e não-lucrativas.
As três vertentes da missão (investigação, ensino e aprendizagem, e serviço à comunidade) devem traduzir-se numa visão da Universidade de Cabo Verde focalizada numa dinâmica de melhoria contínua da instituição nas diversas áreas da sua gestão e funcionamento, em que terá de salientar: i) Um corpo docente e de investigadores de elevadas competências de acordo com os melhores critérios internacionais; ii) A internacionalização das actividades de investigação, ensino e transferência de conhecimento, bem como dos corpos docente e discente, inserindo plenamente a Universidade de Cabo Verde nas redes internacionais de investigação e de ensino; iii) A transferência e o intercâmbio dos conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos, designadamente através do desenvolvimento de produtos, da prestação de serviços à comunidade, da formação ao longo da vida e da promoção do empreendedorismo e da empregabilidade; iv) A realização e promoção de atividades que permitam o acesso e a fruição de bens culturais e científicos por todas as pessoas e grupos, internos e externos ao Uni-CV; v) A interação permanente com a sociedade, contribuindo para a análise e resolução de problemas a nível nacional e local, e estabelecendo parcerias com entidades comprometidas com o desenvolvimento económico, cultural e social do país; vi) A profissionalização da gestão e a qualificação das infraestruturas com a criação de condições de excelência que deem suporte efetivo às atividades de investigação, de ensino e de transferência de conhecimento para a sociedade e que assegure a qualidade de vida no campus e a sustentabilidade institucional.
Quer dizer então a que Uni-CV não está focalizada com os reais objectivos que nortearam a sua criação? Será? Ou o problema é de ordem organizacional?
Os objectivos estratégicos da Uni-CV terão de ser a inovação, a qualidade, a internacionalização e o desenvolvimento de uma cultura empreendedora. A Uni-CV incentivará os seus estudantes a explorarem o seu potencial ao máximo, a desenvolverem a sua capacidade de iniciativa e de adaptação e a complementarem a sua formação académica com uma experiência internacional, tornando-os capazes de responder às necessidades do mercado de trabalho global.
A nossa equipa trabalhará para elevar a taxa de empregabilidade dos diplomados da Uni‑CV. Por isso, promoveremos um ensino de qualidade e prestígio que proporcionará aos formandos da Uni-CV conhecimento técnico e científico por forma a permitir-lhes atingir cargos de alta responsabilidade em empresas, instituições e funções governamentais.
O ensino superior em Cabo Verde é ainda um ensino emergente. Concorda? Se concorda ou não concorda, como é que classifica o ensino superior em Cabo Verde?
O Ensino Superior, em Cabo Verde, encontra-se na sua fase de desenvolvimento, consolidação e sedimentação de conhecimentos, os quais devem ser melhor divulgados, numa lógica de que conhecimento melhor guardado é aquele que é partilhado (Peter Drucker). Há necessidade de criação de mais Revista Científicas, como por exemplo, Revista de Negócios e Governance, atendendo ao facto de que não poderá vir a ser um país desenvolvido, sem uma aposta forte no conhecimento, particularmente, nas áreas da indústria do turismo, da indústria ligeira e das indústrias relacionadas com o oceano e a economia marítima.
"Trabalharemos para criar um centro de investigação com seis unidades de investigação de elevada qualidade, reconhecida pelas avaliações externas internacionais a que são sujeitas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT)".
A academia é lugar de produção da ciência, do saber. Acha que as universidades em Cabo Verde têm exercido esta nobre função social e política?
Concordo que realmente, a academia é lugar de produção da ciência e do saber, aliás, ela tem carácter vital não somente na formação de recursos humanos, mas também na geração de conhecimentos técnico-científicos para o desenvolvimento socio-ecónomico no contexto dos sistemas de inovação. Ela auxilia no processo de criação e disseminação, tanto de novos conhecimentos, quanto de novas tecnologias, através de pesquisa básica, pesquisa aplicada ao desenvolvimento. Todavia, em Cabo Verde ainda as universidades têm vindo a desempenhar esse papel de uma forma incipiente, com pouco interesse por parte das empresas privadas e do próprio sector público. Não há um reconhecimento de que a academia como um sistema de produção científica é parte relevante da estrutura institucional necessária para construir competências e formar as bases do processo inovativo.
A investigação é pedra angular no processo de construção das academias. Concorda? Se concorda, ou não concorda, como é que classifica a investigação científica em Cabo Verde? Ela existe?
Naturalmente concordo com esta afirmação. Aliás, a investigação científica tem um papel importante no processo de promoção do crescimento e desenvolvimento económico de um país. O conhecimento científico e tecnológico é consensualmente apontado como um dos principais pilares das dinâmicas de desenvolvimento económico, social e cultural das sociedades. A evolução do mesmo ao longo da história da humanidade confunde-se e é, até certo ponto, indissociável da evolução do próprio homem. O impacto da investigação científica na vida das populações é tido pela comunidade pública como um acontecimento que teve sobretudo lugar sobretudo no século XX. Esta ideia deve-se, principalmente, ao enorme progresso tecnológico verificado nesse período, mas também ao aparecimento dos meios de comunicação e produção de massas, que permitiram às pessoas um acompanhamento mais próximo do que ia sendo descoberto nos vários domínios. Mas a inovação com base em fundamentos teóricos (investigação científica) passou a ser preponderante no desenvolvimento económico e social das nações pós revolução industrial. A união entre a ciência e a técnica (que veio suceder ao “aprender fazendo” do início daquele período histórico) veio permitir o estabelecimento das sociedades como as conhecemos e inaugurou uma era de “crescimento económico moderno”.
Em Cabo verde a investigação científica é incipiente e pouco desenvolvido, devido a insuficiência de incentivo pela parte das universidades e do estado. Com a minha equipa, a investigação científica será uma componente chave da Uni-CV. Uma das estratégias centrais que a minha equipa proporá para a Uni-CV é, precisamente, torná-la numa universidade de investigação com um desempenho científico internacionalizado e de elevada qualidade.
A minha equipa reitoral criará uma vasta rede de parcerias científicas com universidades e institutos de investigação de topo, a nível nacional e internacional, bem como com organizações públicas, privadas e do terceiro sector. Trabalharemos para criar um centro de investigação com seis unidades de investigação de elevada qualidade, reconhecida pelas avaliações externas internacionais a que são sujeitas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
O trabalho de excelência desenvolvido nas unidades de investigação da universidade será anualmente reconhecido pela Reitoria através da atribuição de Prémios Científicos aos docentes, investigadores e alunos que publicam nas revistas mais bem classificadas a nível internacional.
"Esta candidatura é uma candidatura que nasceu de baixo para cima, “bottom-up model”, tal como, aliás, proponho gerir a universidade, caso venhamos a ser, tal como acredito, reitor da Uni-CV. Um reitor que saiba e possa montar um governo da universidade que ouve as pessoas, perto e amigo das pessoas: os docentes, os investigadores, pessoal não docente, os estudantes e a sociedade e as empresas, ao serviço de quem deve estar numa universidade pública"
Critica-se muito a qualidade do ensino superior em Cabo Verde. Qual é a sua opinião sobre a qualidade do ensino superior no nosso país?
Realmente, as pessoas criticam muito a qualidade do ensino superior em Cabo Verde e tenho plena consciente disso. Como é evidente, a qualidade do ensino superior é um assunto que tem vindo a despertar grande preocupação, por parte da sociedade em geral, tendo em consideração que o desenvolvimento de Cabo Verde vai depender muito da qualidade do sistema educativo. Apesar da grande adesão ao ensino superior, tem-se falado muito da sua qualidade, isto em relação aos conhecimentos que transmitem, que se tem mostrado de certa forma fracos, e a realidade é que poucas pessoas que saem das instituições têm conseguido afirmar-se no mercado de trabalho. Como forma de melhor a qualidade de ensino, a minha equipa irá propor as seguintes medidas: i) Criação de um corpo docente e de investigadores de elevadas competências de acordo com os melhores critérios internacionais; ii) Aumento da produção científica e a sua internacionalização; iii) A internacionalização das actividades de investigação, ensino e transferência de conhecimento, bem como dos corpos docente e discente, inserindo plenamente a Universidade de Cabo Verde nas redes internacionais de investigação e de ensino; iv) A transferência e o intercâmbio dos conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos, designadamente através do desenvolvimento de produtos, da prestação de serviços à comunidade, da formação ao longo da vida e da promoção do empreendedorismo e da empregabilidade; v) Reforço de capacidades linguísticas (Inglês, Francês português, mandarim); vi) Reforço das TICs tanto no ensino, na investigação bem como na gestão da universidade.
Um outro problema bastante crítico tem a ver com o financiamento do ensino superior. Tem alguma ideia concreta sobre como atenuar ou mesmo resolver este problema, ciente de que sem dinheiro não é possível o funcionamento das instituições académicas?
Um dos problemas crónico do ensino superior em Cabo Verde é a dificuldade dos alunos em financiar os seus estudos, por falta de bolsas de estudo, o que leva um grande número de estudantes a incorrer no incumprimento do dever de pagamento das propinas, registando atrasos prolongados, com repercussões negativas tanto a nível da tesouraria das instituições de ensino superior, o que, no mínimo, coloca em tensão a sua sustentabilidade como a nível do aproveitamento escolar dos alunos, traduzindo na insatisfação, relativamente generalizada, com a qualidade do ensino superior.
Como medidas de solução para minimizar parte do problema com financiamento do ensino superior, a minha equipa irá propor a criação de um centro estudos com investigadores e especialistas para prestar serviços as empresas nacionais e internacionais e o estado em atividades de assistência técnica e assessoria especializada para a realização de estudos, fundamentação de políticas e elaboração de projetos de desenvolvimento; angariação de novas receita, nomeadamente mediante o aproveitamento dos doutores para a realização da formação pós‐graduada mestrado e doutoramento em diversas áreas. A universidade precisa diversificar as fontes de receitas para não ficar dependendo apenas da propina dos alunos, cobrança de emolumentos e a contrapartida do estado. A saída na passa por uma forte aposta na prestação de serviços as entidades dentro e quiçá fora do país.
Quem são os seus apoiantes?
Os meus apoiantes são o pessoal da UniCV: docentes, investigadores, pessoal não docente, estudantes. Esta candidatura é uma candidatura que nasceu de baixo para cima, “bottom-up model”, tal como, aliás, proponho gerir a universidade, caso venhamos a ser, tal como acredito, reitor da Uni-CV. Um reitor que saiba e possa montar um governo da universidade que ouve as pessoas, perto e amigo das pessoas: os docentes, os investigadores, pessoal não docente, os estudantes e a sociedade e as empresas, ao serviço de quem deve estar numa universidade pública. Montar um governo da universidade, no qual as pessoas confiam, porque acreditam na sua liderança, uma liderança que, sem deixar de ser exigente e responsabilizante, é ao mesmo tempo, uma liderança baseada na humildade, no respeito das pessoas, na valorização de recursos e capacidades; uma liderança produtiva, ou seja, que com os mesmos recursos possa produzir muito mais.
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