Este é o país da minha “vez”. Ou para ser mais tradicionalista - keli e terra di Nha Bez. Porque, agora sou eu. Gosi e mi.
Há dias foi a "vez" da empresa do Miguel Monteiro e esposa, com honras de destaque no jornal das 13 da TCV e RCV, ambos órgãos públicos de comunicação social. Com entrevistas e tudo, dando vez e voz a um jovem que, ao que consta, ocupa da comunicação na IT Solutions.
E ficou evidente que, mais do que um produto da IT Solutions, NhaBex é a “vez” privilegiada de uma empresa que, por aquilo que se sabe até aqui, tem tido a felicidade e a oportunidade de se movimentar com desenvoltura nos corredores do poder, ou, sendo telúrico - quem sabe soará um pouco mais chique -, nos poiais do Estado.
E nem é de se estranhar! É tudo natural. Naturalíssimo! Já nas campanhas de 2016, se ouvia esses brados: gosi é nos bez. 15 anos é txeu, gosi é Ulisses.
E, com a vitória, o slogan de campanha, que se fez aforismo no meio do povo pelas cidades, vilas e aldeias do arquipélago, arribou-se ao parlamento: gosi é nos ki sta manda. Sobretudo quando faltam argumentos e as palavras se mostram incapacitadas para amparar pesados carretos ou tapar tamanhos buracos.
De modo que, em meio a esse ambiente, NhaBex veio mesmo ao calhar, e nada mais é do que uma reprodução do grupo que hoje “manda” no país, porque terá chegado a sua “vez”.
As notícias, em destacada silhueta de coisa encomendada, não passaram despercebidas. Mas que empresa é essa a merecer tanto destaque nos órgãos de comunicação social públicos? Questões… que suscitaram curiosidades, e, puxando o fio à meada, chegou-se a um alto dirigente nacional, deputado, gestor da casa das leis e membro da comissão política do partido no poder, o MpD…
A partir daqui, é a novela que se conhece, cuja narrativa ainda vai no preâmbulo.
Mas como essa coisa de “vez” faz parte do sistema e, em certa medida, passou a vincular as instituições do Estado – vejamos, por exemplo, a anulação da lei do concurso e as nomeações arbitrárias para altos cargos na administração pública feitas ao gosto do freguês, botando no lixo a tão propalada meritocracia - chega-nos às mãos um documento do Tesouro Público, comprovando pagamentos a favor do Instituto da Democracia e Desenvolvimento(IDD), uma instituição privada presidida pelo deputado e também dirigente do MpD, Milton Paiva.
Desses pagamentos, salta à vista um no montante de 1.731.477$00, correspondente a 40% do valor total em dívida, que, contas feitas, é de 4.328.692$00. Essa liquidação aconteceu em dezembro de 2019.
Sem pôr em causa a oportunidade do negócio, e muito menos a razoabilidade de tal contratação, temos por certo que, sendo Milton Paiva um alto dirigente e deputado nacional do movimento, e logo, do Estado, o ato assume contornos obscuros, ferindo a ética e, quiçá, a própria lei.
Essas linhas invisíveis a ligar certos pupilos do poder - ou será do Estado? - aos fundos públicos, se assemelham à patranha do gato e da linguiça.
Quem já não se lembra do outro também slogan das campanhas de 2016, onde Ulisses Correia e Silva prometia, pousado, certamente para que todos entendessem, que se fosse eleito, “não colocaria a linguiça no pescoço do gato”?
Ora, o deputado e co-fundador do IDD, Milton Paiva, que chegou a trabalhar como conselheiro do vice-primeiro ministro e ministro das Finanças, não estará em posição do gato e da linguiça neste caso em concreto? Enfim, dúvidas, questões, que demandam por esclarecimentos de quem de direito, a ver se é possível clarificarmos esse "embuste" dos pupilos do Estado. Ou será o Estado dos pupilos?
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