A Associação de Jornalistas de Cabo Verde (Ajoc) defende a realização de um debate sobre a descida "muito preocupante” do país no índice anual de liberdade de imprensa, publicado hoje pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
“Entendemos que é uma descida muito preocupante, são oito posições, mas também é um incentivo para, juntos, refletirmos", incluindo jornalistas e o Estado, "num debate desapaixonado sobre o que devemos fazer para reverter estar descida”, disse o presidente da Ajoc, Geremias Furtado.
Cabo Verde desceu para a 41.ª posição (33.ª em 2023), piorando a pontuação absoluta.
Tal como o relatório da RSF, o presidente da Ajoc referiu que a descida se deve a pressões políticas, à composição do órgão independente da radiotelevisão pública, à escolha dos diretores dos órgãos públicos, à autocensura e aos ataques a jornalistas nas redes sociais.
No documento aponta-se ainda uma “cultura de sigilo” e restrição por parte do Estado no acesso a informações de interesse público.
Outras dificuldades estão associadas à insularidade: por um lado, “o tamanho reduzido das ilhas tende a impedir o desenvolvimento de jornalismo investigativo”, com jornalistas a evitar “cobrir assuntos que envolvam algum dos seus conhecidos”, e, por outro, o mercado publicitário é restrito e trava o crescimento do setor.
“O relatório diz tudo. Agora é parar, pensar e ver o que é que cada um pode fazer para combater estas situações que acabam por minar e prejudicar a liberdade de imprensa em Cabo Verde”, acrescentou.
Neste sentido, mostrou-se disponível para uma “conversa franca” com todos os intervenientes com responsabilidades em matéria de liberdade de imprensa no arquipélago.
“Acreditamos que, com liberdade de imprensa plena, a nossa democracia sairá a ganhar e o nosso país também”, salientou o jornalista.
O Índice Mundial da Liberdade de Imprensa, publicado anualmente pela organização Repórteres sem Fronteiras, avalia as condições para o exercício de jornalismo em 180 países e territórios, com base num questionário a jornalistas (e outros intervenientes na esfera da liberdade de imprensa) e no levantamento de casos.
A classificação de cada país é baseada em cinco indicadores, que avaliam (de zero a 100) o exercício do jornalismo de acordo com os contextos político, jurídico, económico, sociocultural e de segurança.
Este ano, Cabo Verde regista duas subidas: no contexto de segurança (fixando-se em 92,03 pontos) e a nível legislativo (para 74,7 pontos), os dois pilares mais fortes.
A avaliação desce nos restantes indicadores que medem o ambiente para fazer jornalismo: a nível social (para 73,35 pontos), económico (uma nota de 54,25, a mais baixa) e político (para 69,51 pontos).
De acordo com os escalões de avaliação do índice, os pilares económico e político encontram-se numa “situação problemática”.
Ainda assim, em comparação com o panorama na África Ocidental, “o país destaca-se na região por um ambiente de trabalho favorável aos jornalistas”.
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