O Presidente da República disse hoje que a descida de Cabo Verde no Índice Mundial da Liberdade de Imprensa interpela a todos a uma reflexão sobre as responsabilidades enquanto Estado, jornalistas e cidadãos.
Durante a sua intervenção na sessão de abertura da conferência de celebração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, assinalado este ano sobre o tema: "Uma imprensa para o planeta: o jornalismo diante da crise ambiental", José Maria Neves sublinhou que esta descida interroga a todos a um “debate profundo” sobre as “falhas e deficiências existentes” e juntos trabalhar para melhorar.
Realçou que a democracia, a afirmação das liberdades, sobretudo da liberdade de imprensa, são conquistas diárias da cidadania, da sociedade civil, dos Estados e das autarquias locais.
“É preciso que todos particularmente os partidos políticos, os decisores, os governantes, os titulares dos órgãos de soberania prestem atenção sobre o exercício do jornalismo aqui em Cabo Verde e compete também aos próprios órgãos de comunicação social, aos jornalistas aos cidadãos fazerem a parte que lhes cabe sem medo, para que possamos fazer o caminho a melhoria contínua da nossa situação no ranking da liberdade de imprensa”, sublinhou.
Para o chefe de Estado, com “ambição, profissionalismo, rigor e excelência” é possível fazer “muito mais e melhor” e juntos melhorar a discussão pública, sendo que todos têm o direito de discordar com argumentos, educação e elegância e, dessa forma, reforçar as liberdades e a democracia.
Segundo apontou, no contexto global e nos tempos que correm a liberdade de imprensa como a democracia estão sob ameaça e quanto mais débeis forem as instituições, maiores serão os riscos, principalmente com o advento das redes sociais.
Estes, continuou, têm contribuído “sobremaneira para a fragilização dessas instituições”, pondo “em cheque” os meios tradicionais de intermediação, como sendo os sindicatos, as igrejas, as universidades e os órgãos de comunicação social.
“Em Cabo Verde, felizmente, o clima é muito mais pacífico, os jornalistas são respeitados e o seu trabalho é bem avaliado, mas hoje registamos algumas situações que inquietam, nomeadamente a circulação de ‘fake news’, que para benefício de todos, desafia a sociedade civil e jornalistas, a encetar um combate conjunto a esta praga que persiste em perturbar o nosso convívio”, argumentou o Presidente da República.
Porém, defendeu que é necessário apostar cada vez mais na qualidade do jornalismo que é feito no país para que as “não notícias” não atropelem as notícias, uma maior especialização desses profissionais para terem melhor domínio de questões específicas e que se faça mais jornalismo de investigação.
Para José Maria Neves, os jornalistas deveriam eleger o conselho de redacção, pelas vantagens daí advenientes, e que há que tudo fazer para reforçar a afirmação da comunicação social, contribuindo também para fortalecer a sua autonomia, proporcionando melhores condições, especialmente aos órgãos privados, que, num mercado pequeno como o de Cabo Verde, enfrentam os maiores desafios.
“Envidemos todos os esforços para que tenhamos uma informação livre e plural, de modo a que os cidadãos estejam elucidados sobre as grandes questões da actualidade, tendo a mediação esclarecida da comunicação social, assim estaremos a contribuir para a consolidação do Estado de Direito Democrático, que tem como sustentáculo a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa, coadjuvantes principais na tarefa da boa governação”, precisou.
Durante a sua intervenção, o Presidente da República manifestou ainda a sua gratidão com o facto de o tema deste ano ser dedicado à importância do jornalismo e da liberdade de expressão no contexto da actual crise ambiental global.
“Assim, lanço um desafio aos profissionais de imprensa e aos órgãos de comunicação social, para que abracem esta causa e, com pedagogia, façam com que os cidadãos sejam mais bem informados e estejam capacitados a tomar decisões de forma mais consciente e amiga do ambiente”, precisou.
Na mesma linha, desafiou ainda os jornalistas a serem “mais ousados e atuantes” e a assumirem efectivamente o papel de intermediação entre o Estado e a sociedade e que sejam cada vez mais “os olhos e os ouvidos” da sociedade, “sem medo, sem autocensura”, garantindo “transparência e accountability” na governança a todos os níveis e instituições.
De acordo com o relatório publicado hoje pela organização não-governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Cabo Verde desceu oito lugares no Índice Mundial da Liberdade de Imprensa, de 33.ª, em 2023, para a 41.ª posição, enquanto Angola, Brasil e Portugal subiram.
O Índice Mundial da Liberdade de Imprensa, publicado anualmente pela Repórteres sem Fronteiras, avalia as condições para o jornalismo em 180 países e territórios.
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