A comunicação social cabo-verdiana atravessa uma profunda crise. Desde logo, a crise económica e financeira. Mas também a crise editorial, sendo certo que esta é o reflexo daquela. Porque sem dinheiro não há poder. E sem poder não há palavra. E esta dicotomia acaba aprisionando tanto a palavra quanto o poder. No tempo e fora do tempo. E todos se subjugam ao vilão. Sobretudo, e particularmente, os órgãos de comunicação social privados. Estes passam por dias tortuosos, onde as fissuras ao nível da tesouraria se afiguram sem prazo para reparação. É uma situação dramática, com jornais encerrando redacções e jornalistas avolumando as fileiras dos desempregados.
Pelas esquinas, cafés e botequins as pessoas falam. Falam com preocupação. Avançam propostas, criam espectativas. Porém, junto dos poderes públicos, o silêncio é ensurdecedor. Ninguém diz nada!
É certo que os recursos são escassos. Sempre foram. E jamais serão suficientes para as necessidades. Todos o sabemos. Nunca foi e nem havia de ser novidade para ninguém. Certamente por isso é que são alocados de acordo com as prioridades e com a importância estratégica dos diferentes sectores de desenvolvimento. Se assim é em outras paragens, assim também tem que ser em Cabo Verde.
Quem investe no sector da comunicação social neste país é encarado como louco, sonhador, ou alguém que esteja ligado a interesses pouco claros. Aqui, a comunicação social é vista como um sector sem qualquer importância e onde investir é literalmente lançar dinheiro fora. As empresas, na sua maioria, pensam e agem assim, e nem se dão ao trabalho de esconder este sentimento, dir-se-ia desleal para com um dos pilares do Estado de Direito – o sector que trabalha dia e noite para a segurança jurídica, comercial e política da sociedade onde essas mesmas empresas operam. E isto é grave, configurando-se uma ingratidão confrangedora, pois a comunicação social é certamente o maior parceiro do sector privado em qualquer parte do mundo.
Porém, isto não é o mais grave. Mais grave é a posição dos poderes públicos em relação a esta matéria. Estes, que gerem os recursos da República, e que estão vinculados aos princípios da eficiência, eficácia, legalidade e justiça no investimento e distribuição da riqueza nacional, de modo a garantir que todos, mas todos, pudessem exercer a sua função com a qualidade mínima possível, assegurando assim o equilíbrio do Estado de Direito e da sociedade em geral, simplesmente demitiram-se desta sua função primária, assobiando para o lado como se nada fosse com eles, ficando o mato sem cachorro.
Nenhum país sério, comprometido com o futuro, consegue sobreviver sem uma comunicação social forte, pujante, activa e independente. Cabo Verde não pode fugir a este desígnio universal. O momento exige que o papel protector e regulador do Estado seja accionado para recolocar uma das pedras angulares das sociedades democráticas – a comunicação social – no lugar que é seu por direito.
Cremos não haver dúvidas de que, tão importante no processo de desenvolvimento deste país, quanto a justiça, a saúde, a defesa e segurança nacional, a educação, é ter uma comunicação social poderosa, com capacidade financeira e editorial para escrutinar o funcionamento das instituições democráticas e colocar ao dispor dos agentes sociais e das empresas todas as informações sobre o país. Uma comunicação social ao serviço dos homens e das mulheres destas ilhas. Uma comunicação ao serviço da palavra e do tempo!
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