O Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) denunciou esta sexta-feira, 20 de fevereiro, que o navio Chiquinho não foi comprado pela Cabo Verde Interilhas (CV Interilhas), conforme inicialmente anunciado e sim alugado ao ETE de Portugal.
A denúncia foi feita durante uma declaração política no Parlamento e lida pelo deputado João do Carmo, que disse que a empresa não está a cumprir o caderno de encargos que serviu de base para concessão e que o Governo ou a comissão de acompanhamento da concessão devia ter já solicitado uma auditoria externa com vista a garantir que seja cumprido os fundamentos da concessão.
João do Carmo lembrou que o caderno de encargos obrigava que a empresa devia trazer cinco barcos para operar em Cabo Verde. Em outubro de 2019, recordou, foram publicadas notícias a darem conta que a empresa iria comprar barco novo na Coreia do Sul e que um segundo barco chegaria ao país em março de 2020.
“A própria empresa na sua página na rede social retoma a ideia da compra de um navio novo. Resultado, hoje em fevereiro de 2020 os cabo-verdianos precisam saber a verdade. E qual é a verdade? O navio Chiquinho, o único barco que chegou a Cabo Verde, não foi comprado pela CV Interilhas. Foi alugado ao grupo ETE”, disse.
“Imaginem todos os recursos que o Governo mete na Cabo Verde Interilhas e este ao invés de adquirir um navio para Cabo Verde, aluga. O navio é comprado pelo grupo português e este aluga ao CV Interilhas. Porquê enganar os cabo-verdianos durante todo esse tempo”, questionou.
João do Carmo disse ainda que os cabo-verdianos precisam saber porque é que os inspetores recusam certificar o navio e porque é que a região autónoma da Madeira também demora a emitir registo definitivo para o navio fazer viagens no mar de Cabo Verde.
“Os cabo-verdianos precisam saber porque é que apesar do navio ser novo como diz o MpD a idade do mesmo e o ano do fabrico não constam dos sites internacionais relevantes para este sector. Precisamos saber porque é que sendo novo o navio não aguentou a viagem e chegou a Cabo Verde com várias fissuras, sinais assinaláveis e visíveis a olho nu de oxidação e ferrugem”, acrescentou.
O deputado do principal partido da oposição afirmou ainda que o navio “não tem seguro ativo” e “não está preparado para navegar em mar aberto”.
Esta mesma posição foi defendida pelo deputado da UCID, António Monteiro, que adianta que o país está a pagar um “balúrdio” por um serviço que tem mais lacunas do que antes da concessão.
“A companhia que venceu o concurso devia apresentar cinco vasos flutuantes, até hoje só apresentou um único que é Chiquinho que chegou com algumas nuances que não queremos avançar agora, e ‘a priori’ não está preparada para transporte de carga em mar aberto”, anotou.
Em reação o deputado do Movimento para a Democracia (MpD), João Gomes, disse que o Governo do MpD não mentiu a ninguém.
Conforme indicou, o Governo fez um concurso e houve uma empresa que ganhou o concurso e que a pedido do Governo associou-se aos armadores nacionais que veio dar origem à CV Interilhas.
“A CV Interilhas tem a obrigação de cumprir o serviço público de transporte marítimo e assumiu contratualmente de trazer cinco navios. Ainda apenas trouxe um. Portanto se o navio é alugado, dado ou vendido é um problema da companhia e não é um problema de um Governo, ou dos deputados. Os deputados querem e os deputados exigem é que tenhamos um transporte correto, digno e que satisfaça as necessidades dos cabo-verdianos”, sublinhou.
Quanto à qualidade do navio, se é novo ou velho, disse que o navio fez 55 dias de viagem no mar o que poderá justificar os sinais apontados pelo PAICV.
“Dantes os navios chegavam como carga e este veio com os próprios pés”, sustentou.
Com Inforpress
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