
O PAICV alertou hoje para o “risco iminente” da suspensão da derrogação temporária das normas de origem para exportar conservas de peixe para a Europa, mas Governo garante que não há aviso nesse sentido.
“Já vamos na segunda derrogação e o Governo já fala em uma terceira, por mera falta de capacidade de desenvolver o setor. Neste momento, há riscos iminentes de suspensão da derrogação, o Governo já foi informado pela União Europeia”, alertou o deputado do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV) João do Carmo.
Na sua intervenção inicial no debate com o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas e ministro do Mar, na primeira sessão plenária de fevereiro, o porta-voz do maior partido da oposição disse esperar que se façam as diligências diplomáticas para que isso não aconteça.
“Porque, a concretizar, a Frescomar e a Atunlo irão fechar, o desemprego irá aumentar exponencialmente em São Vicente”, previu o deputado, garantindo que o seu partido vai usar todos os meios ao seu dispor para “pressionar” o Governo, esperando que o interesse nacional seja salvaguardado.
No mesmo debate, o ministro do Mar, Abraão Vicente, salientou que a derrogação não é um processo fácil, e que se resolve apenas com a industrialização do setor, mas informou que na quinta-feira haverá uma reunião com a União Europeia em São Vicente sobre o assunto.
“Não há nenhum aviso da União Europeia quanto ao fim das derrogações”, respondeu o ministro.
“Nem a União Europeia encostou o Governo à parede, nem os nossos operadores, essas empresas o fizeram, porque tanto a Atunlo como a Frescomar estão a prever novos investimentos”, insistiu Abraão Vicente.
Em finais de janeiro, Cabo Verde manifestou a intenção de continuar com a derrogação temporária das normas de origem após este ano, no âmbito do Sistema de Preferências Generalizadas (SPG+).
“No que diz respeito ao Sistema de Preferências Generalizadas (SPG+), os parceiros concordaram que é importante que os produtos cabo‑verdianos continuem a beneficiar do acesso preferencial ao mercado da UE após 2023”, segundo um comunicado saído da 12.ª Reunião de Diálogo Político a nível Ministerial da Parceria Especial Cabo Verde – União Europeia, que aconteceu na cidade da Praia.
Quanto à derrogação das regras de origem no quadro do regime SPG, os parceiros informaram que vão continuar a trocar impressões sobre o processo de adaptação, uma vez que a derrogação é concedida por um período de três anos.
“Os parceiros acordaram em ponderar a possível prestação de apoio técnico à apresentação na candidatura de Cabo Verde no quadro do próximo regime SPG+, assim que o novo regime SPG da UE esteja em vigor”, prometeram os parceiros, num comunicado lido pelo ministro dos Negócios Estrangeiros cabo-verdiano, Rui Figueiredo Soares.
A derrogação temporária das normas de origem - no âmbito do Sistema de Preferências Generalizadas (SPG) - proporciona a redução tarifária em vários produtos importados pelos países da União Europeia, o que acontece praticamente anualmente, desde 2008.
A reduzida capacidade de pesca nacional cabo-verdiana tem vindo a obrigar a indústria transformadora de Cabo Verde a importar parte da matéria-prima destas conservas, atum, cavala e melva.
A derrogação até agora concedida pela União Europeia permitia considerar as conservas produzidas nas fábricas cabo-verdianas, mesmo que com parte de pescado importado, como sendo originárias de Cabo Verde, dentro de limites de quantidade.
Os comentários publicados são da inteira responsabilidade do utilizador que os escreve. Para garantir um espaço saudável e transparente, é necessário estar identificado.
O Santiago Magazine é de todos, mas cada um deve assumir a responsabilidade pelo que partilha. Dê a sua opinião, mas dê também a cara.
Inicie sessão ou registe-se para comentar.
Comentários