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Pagamento com cartões bancários chega ao mercado do Plateau
Economia

Pagamento com cartões bancários chega ao mercado do Plateau

No maior mercado de frutas, verduras e legumes de Cabo Verde, no centro histórico da cidade da Praia, Plateau, já se pode pagar com cartões automáticos, o que ajuda a gerir melhor o dinheiro e a aumentar as vendas.

“Vale a pena, porque muitas vezes os clientes não têm o dinheiro na mão e o vint4 facilita nas compras”, começa por explicar à agência Lusa Sueli Moreira, que há cinco anos montou uma banca para vender frutas no piso 1 do mercado da Praia, em que os pagamentos eram feitos apenas com dinheiro vivo.

Mas no ano passado soube da possibilidade de também usar um Terminal de Pagamento Automático, ou Serviço Pagamento Automático (POS, na sigla em inglês), em que o titular de um cartão de débito e crédito, o chamado vint4 no país, pode efetuar determinadas operações, tais como pagamento de compras (bens ou serviços).

E foi através de clientes que tem num dos bancos comerciais da praça que Sueli teve o acesso ao POS, pelo que agora muitos fregueses não deixam de comprar alguma coisa com a ‘desculpa’ que os caixas automáticos do Plateau não têm dinheiro.

Sueli Moreira é uma de pelo menos uma dezena de vendedoras que já usam o pagamento automático neste mercado da Praia, que é mais solicitado aos sábados, e a comerciante não tem dúvidas que esta oferta veio para ficar.

“É para continuar, para mim é uma vantagem”, salienta a vendedora praiense, que paga 750 escudos mensais (6,8 euros) para ter este serviço que ajuda os clientes a gerir e a ter apenas o dinheiro essencial na carteira, uma precaução numa cidade capital em que os assaltos, os chamados ‘caçubodys’, acontecem praticamente todos os dias, a toda a hora e em todo os sítios.

“Os clientes que não têm tempo para estar nas filas nos caixas automáticos vem diretamente ter comigo para negociar porque sabem que tenho vint4”, diz a mesma vendedora, enquanto sonda mais um cliente para comprar na sua banca.

“Vem negociar comigo, tenho vint4”, alicia, apontando para o freguês, que levou um quilo de uva, numa banca onde se pode comprar outras frutas frescas, como papaia, maracujá, banana, maçã, pera, melancia, kiwi, laranja.

Além disso, constata que o pagamento automático facilita com os trocos. “Há dias em que as vendas não são muitas e não temos trocos, mas no vint4 é só tirar a quantia certa”, afirma.

Sueli tem um de 10.358 Terminais de Pagamento Automático em estabelecimentos dos mais variados ramos de atividade em Cabo Verde, segundo a Sociedade Interbancária e Sistema de Pagamentos (SISP), entidade criada em 1999 e que gere a rede interbancária cabo-verdiana.

Uns 10 metros ao lado, Lenira Moreno, natural de São Pedro, vende no mercado desde menina, antes acompanhando a mãe, e agora é titular de uma banca com legumes, verduras e frutas, que chegam dos concelhos mais a norte da ilha de Santiago.

Sempre acostumada a receber com dinheiro vivo, há cerca de dois anos, por causa da pandemia da covid-19, foram os próprios clientes que começaram a pedir o pagamento por vint4, e Lenira não teve outra escolha senão oferecer outra possibilidade.

“Há muitos fregueses que não andam com dinheiro, por isso tive de aderir ao vint4. As vendas não são muitas e se não tens esse serviço o cliente vai para outro lugar”, diz à Lusa esta vendedora, que apesar de estar em processo de mudança de banco aderente, garantiu que valeu a pena ter esta oferta para os clientes pagarem com maior rapidez e comodidade.

“É um dinheiro que vai diretamente para a nossa conta”, gaba-se a vendedora, prometendo continuar com este serviço, para que mais clientes saibam da sua existência nesse mercado, construído em 1924, com capacidade para 300 comerciantes, onde se vende também peixe, carnes, plantas ornamentais e comida.

“Precisamos de mais divulgação, porque muitas pessoas vão para as filas dos caixas automáticos para tirar dinheiro para vir pagar aqui. E quando dissemos que temos vint4 respondem que não sabiam”, descreve.

Quem também aderiu a este serviço foi Keila Tavares, mas está com um pé atrás porque ouviu dizer que as taxas pagas são elevadas, embora garanta que tem valido a pena.

“Hoje em dia mais pessoas preferem pagar com o cartão vint4 em vez de dinheiro. As pessoas não querem andar com muito dinheiro no bolso, a cidade está perigosa”, alerta a vendedora, que usa os mini POS, que têm menos funcionalidades, mas são mais práticos.

Segundo o portal da rede vint4 da SISP, qualquer comerciante pode aderir ao serviço, depois de preencher um formulário e de dirigir-se ao seu banco comercial, ficando a pagar uma comissão, mediante o volume de negócios transacionado, que é faturado no final de cada mês.

De acordo com a mesma rede, em Cabo Verde há mais de 291 mil utilizadores portadores de cartão vinti4, 216 caixas automáticas em todas as ilhas e 10.384 terminais POS abrangendo os mais variados ramos de atividade e realiza 40 milhões de operações anuais.

De acordo com o relatório e contas da SISP, a utilização de cartões internacionais Visa e Mastercard na rede interbancária de Cabo Verde aumentou quase 33% em 2021, com a retoma da procura turística, mas ainda é metade face a 2019, antes da pandemia.

Há um ano, estavam ativos 266.216 cartões dos bancos comerciais instalados no país, menos 2% face a 2019, e foram produzidos 134.676 novos cartões, num aumento de 3% face ao período homólogo, representando mais 4.531 cartões.

As vendedeiras fazem parte das cerca de 40 mil pessoas que trabalham na economia informal em Cabo Verde, que é responsável por mais de metade (52%) dos empregos no país, segundo um Perfil Nacional do Trabalho divulgado este ano pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE), e contribui com cerca de 12% do Produto Interno Bruto (PIB).

Para tirar maior proveito deste setor, há muitos anos que o Governo tem apostado na transição da economia informal para a formal, e elaborou um programa nacional para o efeito, por considerar que é uma oportunidade para mais crescimento e que traz benefícios para as mais de 33 mil unidades de produção informal no país.

O coordenador da Comissão Nacional do Fomento Empresarial, Adilson Pinto, diz à Lusa que o Ministério das Finanças “vê com bons olhos” a adesão a este serviço por parte das vendedoras, não só do Plateau, mas de outros mercados e estabelecimentos comerciais do país.

Apontando a facilidade nas transações, ter dados sobre as mesmas e sobre os vários setores de atividade, o mesmo responsável dá ainda conta que uma das medidas do Regime Jurídico das Micro e Pequenas Empresas (REMPE) é o estímulo ao pagamento eletrónico no país.

“Para o Governo, tudo o que é digital é positivo”, frisa o coordenador, notando que o país está num processo de transformação para o digital, com o projeto e-fatura (fatura eletrónica), prevendo-se também uma campanha para disponibilizar os POS aos comerciantes do REMPE sem custos até dois anos.

“E tudo o que seja pagamento via os POS para nós também é muito positivo”, reforça, apontando a “transparência fiscal” como outra vantagem dos pagamentos eletrónicos, que aumentam porque os cidadãos estão também a “mudar a forma de lidar com o dinheiro”, em que a tendência é usar mais os cartões nas transações nos estabelecimentos comerciais.

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