A administração da CV Interilhas, do grupo português ETE e concessionária do transporte marítimo em Cabo Verde, anunciou estar a construir uma frota própria e vai avançar com a aquisição do terceiro navio, cumprindo os requisitos da concessão.
A empresa assumiu aquela concessão em agosto de 2019 e já incorporou na frota que assegura o transporte marítimo de passageiros e carga entre as ilhas de Cabo Verde os navios “Chiquinho BL”, em fevereiro de 2020, e o “Dona Tututa”, que esta segunda-feira foi recebido no Mindelo, ilha de São Vicente.
Em entrevista à agência Lusa, no Mindelo, o administrador da CV Interilhas e vice-presidente do grupo ETE – Cabo Verde, Jorge Maurício, alertou que se trata de um processo complexo, pelas exigências que cada navio representa, como o “Dona Tututa”, construído em 2002, comprado pela empresa e que após profunda remodelação entrará agora ao serviço em Cabo Verde.
O terceiro navio da frota que a CV Interilhas está a organizar, conforme previsto no contrato de concessão, deverá ser adquirido nos próximos meses e terá capacidade para transportar mais de 300 passageiros e 70 viaturas.
“Estamos a construir um sistema de transporte, que é um conceito diferente, maior, que não inclui apenas os navios. O novo sistema inclui a aquisição de navios que se adaptam às características de Cabo Verde, às condições das gares Marítimas de todo o país, para possibilitar a ligação entre terra e mar, num navio em excelentes condições de conforto, segurança e higiene e também dos centros de logística em todos os portos para garantir que a entrega, receção, consolidação e desconsolidação das mercadorias sejam feitas com senso logístico”, disse.
Este novo sistema, acrescentou, irá garantir que as viagens marítimas interilhas sejam feitas com a logística, horários e acondicionamento necessários.
“Isto é o que propusemos, é o que estamos a construir e às vezes peço às pessoas tolerância e paciência. Porque não se consegue construir um sistema de transporte marítimo de passageiros e carga para um país arquipelágico num único dia e num único ano”, apontou.
Desde agosto de 2019 que a CV Interilhas – liderada em 51% pela Transinsular (grupo ETE) - detém a concessão, por 20 anos, do transporte marítimo de passageiros e mercadorias entre as nove ilhas habitadas do arquipélago, tendo recorrido inicialmente a navios de armadores locais (acionistas da empresa, 49%), que antes asseguravam de forma isolada as ligações entre as ilhas.
De acordo com Jorge Maurício, este é um processo com alguns aspetos a melhorar, do ponto de vista da empresa e das autoridades.
“São as autoridades marítimas a responderem a tempo, as portuárias, as sanitárias, para que os passageiros compareçam a tempo de fazer as viagens a horas estipuladas. Garantir que haja uma interação de todos os parceiros do negócio marítimo e portuário, que consolide o projeto de construção da CV Interilhas e do sistema de transporte para Cabo Verde”, explicou.
Para o administrador, em 23 meses de atividade da empresa, o maior desafio tem sido a pandemia que paralisou o país, fazendo alterar o sistema das viagens, através de várias restrições para conter a transmissão da covid-19.
“Depois dos primeiros seis meses de operação, praticamente começámos a viver a pandemia e isto não foi fácil, onde em determinados momentos em Cabo Verde havia um único meio de transporte possível, que eram os navios da CV interilhas, porque estava tudo fechado com o estado de emergência. Tivemos grandes dificuldades, depois não pudemos transportar passageiros, e tivemos de cumprir as rotas todas, sem um único passageiro”, sublinhou.
O “Dona Tututa”, o novo navio da frota da CV Interilhas, vai poder ligar em 24 horas as ilhas de São Vicente, São Nicolau, Sal, Boavista e Santiago, garantindo maior regularidade de viagens, tendo capacidade para 220 passageiros, 43 viaturas ou 11 atrelados de 15 metros.
Juntamente com o Governo cabo-verdiano e a Enapor, empresa pública que gere os portos do arquipélago, a CV Interilhas está ainda a trabalhar no projeto que prevê a instalação de gares marítimas em todas as ilhas, juntamente com centros logísticos, para melhorar a operação e o serviço de transporte no arquipélago.
“Queremos ter a curto prazo uma empresa sustentável”, sublinhou Jorge Maurício.
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