Os acionistas islandeses que lideram a Cabo Verde Airlines garantiram esta sexta-feira, 10 de abril, que trabalham numa solução financeira de longo prazo e acreditam que, apesar de afetado, o projeto não está em causa, embora precisem do apoio do Governo cabo-verdiano.
“Os acionistas da empresa continuam a trabalhar numa solução financeira de longo prazo para a companhia aérea. Obviamente, esse trabalho foi afetado pelo surto de covid-19, mas continuo confiante de que os acionistas encontrarão uma solução que garanta que a companhia aérea retome as operações, conectando quatro continentes via Cabo Verde”, afirmou, em entrevista à Lusa, o presidente da Cabo Verde Airlines (CVA), Erlendur Svavarsson.
A companhia aérea de bandeira foi privatizada em março de 2019, com a venda de 51% do capital social a investidores islandeses, liderados pela Icelandair, que já este ano nomeou Erlendur Svavarsson para presidente do conselho de administração e diretor executivo da CVA.
O objetivo é transformar a ilha do Sal num ‘hub’ aéreo, implementado pela CVA, para os voos entre África, Europa, América do Norte e América do Sul.
A companhia aérea de Cabo Verde, que conta com 330 trabalhadores, só prevê retomar os voos comerciais, suspensos desde 18 de março devido à pandemia de covid-19, em 01 de julho.
Em fevereiro passado, antes dos efeitos da pandemia de covid-19, o grupo Icelandair anunciou a que a companhia aérea cabo-verdiana deverá apresentar resultados positivos em 2021, embora assumindo a necessidade de necessitar de contrair um financiamento de longo prazo.
A informação constava do relatório com as demonstrações financeiras consolidadas do exercício de 2019 do grupo aéreo islandês, que através da sua participada Loftleidir Icelandic EHF controla, desde 01 de março de 2019, diretamente, 36% da CVA.
"A CVA está à procura de financiamento de longo prazo. Se o financiamento de longo prazo não for garantido, isso poderá afetar negativamente a operação", lê-se no relatório do grupo Icelandair, de 07 de fevereiro.
O Governo de Cabo Verde suspendeu todos os voos internacionais por um período inicial de 30 dias em 18 de março, para conter a propagação da pandemia de covid-19 ao arquipélago, deixando a companhia sem voos comerciais e apenas algumas ligações para repatriamento (763 passageiros de várias nacionalidades em seis voos desde 24 de março).
Para Erlendur Svavarsson, a CVA está hoje numa “posição semelhante” a muitas outras companhias aéreas, que tiveram que reduzir ou interromper os seus voos regulares.
“A empresa precisará tomar medidas para controlar o fluxo de caixa e contar com o apoio dos acionistas e do Governo de Cabo Verde para poder voltar aos céus, ainda este ano. Todas as partes interessadas permanecem firmes no seu compromisso com a empresa”, garantiu o presidente do conselho de administração da companhia aérea.
Apesar das circunstâncias atuais, que Erlendur Svavarsson sublinha que “não são exclusivas da Cabo Verde Airlines”, os acionistas “acreditam que as perspetivas de longo prazo para conectar quatro continentes via Cabo Verde permanecem fortes”.
“Cabo Verde é um destino vibrante e bonito, que vem crescendo em popularidade. Essa tendência continuará no longo prazo. Os países insulares dependem da conectividade aérea e esse forte requisito retornará assim que a tempestade da covid-19 passar”, afirmou.
Cabo Verde cumpre hoje 13 dias, de 20 previstos, de estado de emergência, declarado para conter a pandemia provocada pelo novo coronavírus, com a população obrigada ao dever geral de recolhimento, com limitações aos movimentos, empresas não essenciais fechadas e todas as ligações interilhas suspensas, entre outras medidas.
O país mantém sete casos confirmados de covid-19, provocada por um novo coronavírus, entre as ilhas da Boa Vista (4), de Santiago (2) e São Vicente (1), além de um óbito.
Em 22 de março, em entrevista à Lusa, o primeiro-ministro de Cabo Verde afirmou que a CVA será uma das empresas objeto de medidas de apoio à economia e que a alienação dos 39% que o Estado ainda detém na companhia será adiada.
“A CVA sofre as consequências das medidas que todos os países estão a tomar de fecho das fronteiras aéreas, incluindo as que Cabo Verde já tomou. A CVA consta obviamente do leque de empresas que serão objeto das medidas de apoio à economia”, assumiu.
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, uma empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
Ainda em 2019 avançou a venda de 10% a trabalhadores e emigrantes, e estava prevista a venda da restante participação a investidores institucionais.
“Quanto à participação no capital social, o Estado detém 39%. Está prevista a alienação dessa participação, mas este não é o momento de o fazer”, afirmou o primeiro-ministro, na entrevista à Lusa.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 1,5 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram quase 94 mil.
Dos casos de infeção, mais de 316 mil são considerados curados.
Com Lusa
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