Arguido confessa homicídio na Amadora mas nega “encomenda” pela mulher da vítima
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Arguido confessa homicídio na Amadora mas nega “encomenda” pela mulher da vítima

O arguido acusado de matar um homem no concelho da Amadora, em 2014, confessou hoje o crime, mas negou que o tenha cometido “a mando” da mulher da vítima, também arguida e julgada por “encomendar” a morte do marido.

A acusação do Ministério Público (MP), a que a agência Lusa teve acesso, diz que Cesaltina Correia, de 31 anos e natural de Cabo Verde, contactou, em 02 de setembro de 2014, Anuar Hassane Bengo, com 28 anos e natural de Moçambique, e propôs-lhe que matasse o marido, “em troca do direito vitalício de lhe pedir qualquer contrapartida económica”, para que ela pudesse assumir uma relação extraconjugal.

No início do julgamento, no Tribunal de Sintra, o arguido contou que matou Ernesto Correia sem conhecimento da arguida, para “estar mais tempo” com Cesaltina Correia, com quem assumiu manter uma relação amorosa, revelando que a versão de que foi contratado pela arguida para matar o marido foi inventada por si, quando soube que esta tinha um amante.

“Quando descobri que ela tinha um amante disse na Polícia judiciária que foi ela que me mandou matar o marido. Inventei tudo. Fi-lo por vingança, ela gozou comigo”, declarou ao coletivo de juízes, acrescentando nunca ter dito à arguida, a qual se encontra em prisão preventiva e que hoje não quis prestar declarações, de que foi ele quem matou o marido.

Esse depoimento na PJ aconteceu em 2018, quatro anos após o crime, quando o arguido se entregou no âmbito do processo do homicídio de uma jovem na Pontinha, Odivelas, (entretanto condenado a 24 anos de prisão) e ficou a saber que a arguida tinha um amante.

Na acusação, o MP refere que foi a arguida quem entregou ao arguido, que está em prisão preventiva, a arma do crime, as munições, um par de luvas de pano com a palma-anti-aderente e umas meias tapa pés, para não deixar rasto.

“A arma de fogo era minha. Já a tinha há muito tempo para dar tiros lá no bairro, na passagem de ano, por causa dos festejos. Quanto ao material, comprei-o no chinês. Nada me foi dado pela Cesaltina. As meias e as luvas pus no lixo na rua, a arma vendi-a no bairro. Disse que tinha uma arma para vender, apareceu alguém, que não conhecia, e comprou-a”, justificou.

O arguido relatou ao tribunal que conhecia a vítima de “vista, de frequentar o bairro”, mas que desconhecia que fosse o marido de Cesaltina Correia.

O arguido conheceu a arguida, cerca de dois anos antes do crime, e que, nessa ocasião, trocaram de números de telemóvel para “fazer uma amizade”, mas que duas semanas depois envolveram-se sexualmente.

“Disse-me que era casada, que tinha uma filha com o marido, que era mais velho, doente com HIV, e que ele a deixava ter outra relação fora do casamento. Mas nunca associei que esta pessoa que conhecia de vista era o marido da Cesaltina. O objetivo era ficarmos juntos, gostava dela”, relatou o arguido, dando conta ainda da intenção de a arguida ir com ele para França “fazer vida juntos”.

“Se a vítima não se importava que a mulher tivesse outros relacionamentos, se a arguida até falou em vocês irem para França, qual o motivo para matar?”, questionou a juíza presidente.

“Foi coisa da minha cabeça. Não sei o que me deu”, respondeu o arguido.

Anuar Bengo contou que um dia seguiu a arguida para descobrir onde morava e saber quem era o marido.

Para ter a certeza de que a vítima era mesmo o marido de Cesaltina Correia, o arguido, em conjunto com outra pessoa, assaltou-o e levou-lhe o telemóvel, detalhando depois o plano para o matar.

“Estava na rua, ele ia a entrar no prédio e eu entrei com ele e simulei que ia para a porta do lado. Assim que ele abriu a porta, empurrei-o para dentro. Ele olhou para mim e disse que sabia quem eu era, talvez por causa do assalto. Apontei-lhe a arma, levei-o para o quarto, subi o volume da televisão e disparei na cabeça. Depois fiz-lhe um mata leão (braços à volta do pescoço), porque ele não desfaleceu, e arrastei-o para a banheira. De seguida fui à sala, desarrumei a sala, remexi nas gavetas, para parecer um assalto”, explicou o arguido.

O julgamento prossegue em 22 de janeiro.

Com Lusa

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