David Pina pós-medalha. “Se não tiver condições páro o boxe. Tenho família para sustentar”
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David Pina pós-medalha. “Se não tiver condições páro o boxe. Tenho família para sustentar”

Em entrevista ao jornal Público, hoje logo após conquistar a medalha de bronze em Paris 2024, David Pina tem esta declaração bombástica, que justifica com o facto de necessitar de trabalhar para poder sustentar a família (mulher e dois filhos). O diário português coloca um título que explica (quase) tudo: “David ‘não era ninguém’, trabalhou nas obras e foi a Paris buscar bronze para Cabo Verde”.

O jornal Público entrevistou o pugilista cabo-verdiano antes das semi-finais e ele disse isto: “Sou um simples cabo-verdiano, que não era ninguém”. O tradicional diário lisboeta o foi procurar assim que ganhou a primeira medalha olímpica para Cabo Verde para saber se com este feiro passou a ser alguém. “Acredito que agora sim. As pessoas sentem o que eu fiz. Sentem o meu boxe. Hoje, entrei nos quatro melhores do mundo – e melhor de África. Hoje, as pessoas reconhecem o meu talento. E, pelo que passei, mereço ser reconhecido”, respondeu o novo herói cabo-verdiano que garantiu estar presente em Roland Garros para receber a sua meldalha de bronze no boxe peso-mosca.

Mas vê seu futuro incerto. Isto porque, conforme faz notar o Público, David Pina, trocou Cabo Verde por Portugal para treinar, mas teve poucos apoios. “A bolsa olímpica (688 euros) é curta para um pai de filhos – são dois. E teve de ir trabalhar para as obras a meio da preparação olímpica”, realça o prestigiado diário.

Questionado sobre se espera que este resultado lhe mude a vida, David Pina foi claro: “Acredito que sim. Só depois do resultado é que vem o benefício. E vou ser sincero: se não tiver melhores condições eu páro de treinar e de fazer boxe. Tenho família para sustentar e o boxe ainda não me deu isso. Se este resultado não mudar a minha vida, tenho de deixar e ir trabalhar para o futuro da minha família”.

“Trabalhava dez horas, imagina só. Um atleta cheio de talento e potencial de medalha a trabalhar nas obras dez horas, com um sonho na mala. Foi muito doloroso. Quem ia dar de comer aos meus filhos e pagar a minha renda? Eu gosto de trabalhar, mas prefiro o boxe. Na obra, qualquer um pode trabalhar, mas conseguir medalha olímpica...”, disse ao Público, em Paris, referindo-se ao emprego que lhe deu de comer durante dois meses, com um salário de 1500 euros ganho pelo jeito para carpintaria desde pequeno.

David de Pina não poupa nas palavras na hora de gritar bem alto, para que o oiçam – e nem precisa da honra de microfone que lhe concederam na zona mista. Quer apoios, quer viver do boxe e quer ir a Los Angeles, daqui a quatro anos. E mostra a sagacidade de entender que é agora, depois da medalha, que mais pode exigir – a Cabo Verde e a Portugal.

“Não é só por Cabo Verde. Também faço história para Portugal. Portugal abriu-me as portas, deu-me residência. Portugal nunca tinha classificado ninguém para os Jogos no boxe. E Cabo Verde nunca tinha ganhado uma medalha”.

Hoje, depois de confirmar a medalha de bronze para Cabo verde o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, anunciou que vai lhe atribuir um prémio de 500 contos e uma condecoração.

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