-SEGUNDA VERSÃO- (POEMA DE ERASMO CABRAL DE ALMADA)* construído com base num emblemático verso constante do meu mais recente livro intitulado DEFLAGRAÇÕES
Os povos não morrem!
Subjugados os povos
Habitam-se a si próprios
Imprescritíveis moradores dos rios
Ensanguentados das cidades vilas e aldeias
Bombardeadas das infra-estruturas militares
Destruídas das populações civis atacadas e
Sitiadas das praças e dos largos cercados e
Esventrados das estátuas dos plintos dos bustos
Desfigurados dos monumentos dos jardins floridos
Desvastados dos centros urbanos e outros lugares
Abandonados das catedrais dos lares dos abrigos
Vigiados das sepulturas das necrópoles das almas
Profanadas dos corpos e de outros templos do tempo
Trucidados das escolas dos hospitais dos brinquedos
Estarrecidos das águas das neves dos gelos do frio
Irredentivos das montanhas e das florestas suas
Íntimas inexcedíveis invencíveis inexpugnáveis
Os povos não morrem!
Destroçados os povos
De si mesmos cientes de si próprios ciosos
Habitam-se a si próprios os povos e aos eternos
Sonhos dos seus vates erigidos como porta-vozes e
Trovadores da nação desenhando as configurações os
Rostos os contornos os limites as fronteiras da sua
Insoterrável da sua imperturbável da sua heróica da
Sua indefectível da sua incandescendente soberania
Os povos não morrem!
Derrotados os povos
Habitam-se a si próprios e aos pesadelos
Dos insanos e atrozes (re) construtores de impérios
Aos seus postulados de glória e grandeza aos seus
Testamentos de ignomínia e infâmia irradiando-se
Metamorfoseando-se revirando-se ricocheteando-se
Sobre os cadáveres de agora desde sempre
Ressurrectos com as criaturas insurrectas
Ontem hoje amanhã para todos os tempos
Dos dias insepultos futuros vindouros
Em todos os (im) previsíveis calendários
Da agonia e do renascimento em todas as
(In) esperadas estações dos tumultuosos e
Fétidos anos da morte e do ressurgimento
Os povos não morrem!
Sublevados os povos
Habitam-se a si mesmos e habilitam-se
E aos imperecíveis sonhos e aos fraternitários
Ideários amadrugados com os seus poetas e
Com os seus líderes maiores e às suas paisagens
delineadas vibrantes vivazes ubérrimas nos seus
Frémitos caudalosos como os grandes rios do lato e
Vasto mundo com os seus vulcões ininterruptos
Eruptivos explosivos flamejantes cintilantes tais
Multidões rebeladas em fúria enroladas às suas
Festas e às suas bandeiras hasteadas e desfraldadas
Para as cicatrizações para as escarificações para as
Tatuagens das fisionomias guerreiras a um único
Simultâneo e polifónico tempo doces e ríspidas
Firmes varonis e generosas ressoando uníssonas
Os povos não morrem!
Invictos os povos
Habitam-se e levedam-se a si mesmos
Para a arquitectação dos rostos erectos alevantados
Para a disseminação da dignidade perene inexaurível
Para a (re) emergência da honra vertical maiúscula
Para os enlaces todos vindouros da igualdade da paz
E da fraternidade entre todos os povos e todas as
Criaturas humanas para a definitiva proscrição de
Todos os impérios de todos os sonhos imperiais de
Todos os fabulários imperialistas para a duradoura
Germinação e o perene florescimento de sociedades
Alicerçadas e fundadas no império da liberdade feita e
Transfigurada em lei num estado de direito social e
Democrático sedimentado no autodeterminado direito
Soberano e escrutinado de todos os povos do mundo
À livre escolha do seu próprio destino e do seu próprio
Modelo de sociedade tais aqueles que se fizeram
Nativos Habitantes e Sedentários das margens e das
Terras circunvizinhas do Dniepro do Moscova do
Volga do Mississipi do Tigre do Eufrates do Jordão
de Tripoli de Belgrado de Nova York de Grosni de Kiev
E de outras terras e de outras águas e de outras urbes
Montanhas e planícies suas deles e de outros povos
Do mundo amiúde acocorados meditativos no tempo
Bastas vezes debruçados apreensivos sobre os leitos
Secos das ribeiras os arvoredos as ribanceiras e os
Declives dos montes e colinas aguardando efusivos
As relíquias e os tesouros da primavera na sua festiva
Demanda da estação das chuvas dos poemários dos
Sonhos de amanhã de uma outra terra dentro da sua
Terra do seu almejado e providencial paraíso do verde
Das sementeiras e das colheitas das suas águas
E das suas frutas de útopica terra da promissão...
Queluz, Monte-Abraão, 8, 9, 10, 11 e 12 de Março de 2022
*Nota importante: infelizmente, por um lapso meu (aliás, o segundo com poemas recentes da minha lavra) extraviou-se e perdeu-se, quiçá para sempre, a versão original do presente poema, escrita, aperfeiçoada e publicada durante o dia de ontem, 8 de Março, e hoje de manhã, nas minhas duas páginas do Facebook. Felizmente, creio ter conseguido não só reconstituir o essencial e quase (se não a totalidade) dessa versão original do poema, como também alargá-la a novos horizontes temáticos e estético-ideológicos nesta segunda, definitiva e concluída versão do poema “Ucrânia”, inspirado nos acontecimentos relacionados com a invasão russa desse país do Leste da Europa.
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