Ucrânia
Cultura

Ucrânia

    -SEGUNDA VERSÃO-   (POEMA DE ERASMO CABRAL DE ALMADA)* construído com base num emblemático verso constante do meu mais recente livro intitulado DEFLAGRAÇÕES                                                  

Os povos não morrem!

 

Subjugados os povos

Habitam-se a si próprios

Imprescritíveis moradores dos rios

Ensanguentados das cidades vilas e aldeias

Bombardeadas das infra-estruturas militares

Destruídas das populações civis atacadas e

Sitiadas das praças e dos largos cercados e

Esventrados das estátuas dos plintos dos bustos

Desfigurados dos monumentos dos jardins floridos

Desvastados dos centros urbanos e outros lugares

Abandonados das catedrais dos lares dos abrigos

Vigiados das sepulturas das necrópoles das almas

Profanadas dos corpos e de outros templos do tempo

Trucidados das escolas dos hospitais dos brinquedos

Estarrecidos das águas das neves dos gelos do frio

Irredentivos das montanhas e das florestas suas

Íntimas inexcedíveis invencíveis inexpugnáveis

 

Os povos não morrem!

 

Destroçados os povos

De si mesmos cientes de si próprios ciosos

Habitam-se a si próprios os povos e aos eternos

Sonhos dos seus vates erigidos como porta-vozes e

Trovadores da nação desenhando as configurações os

Rostos os contornos os limites as fronteiras da sua

Insoterrável da sua imperturbável da sua heróica da

Sua indefectível da sua incandescendente soberania

 

Os povos não morrem!

 

Derrotados os povos

Habitam-se a si próprios e aos pesadelos

Dos insanos e atrozes (re) construtores de impérios

Aos seus postulados de glória e grandeza aos seus

Testamentos de ignomínia e infâmia irradiando-se

Metamorfoseando-se revirando-se ricocheteando-se

Sobre os cadáveres de agora desde sempre

Ressurrectos com as criaturas insurrectas

Ontem hoje amanhã para todos os tempos

Dos dias insepultos futuros vindouros

Em todos os (im) previsíveis calendários

Da agonia e do renascimento em todas as

(In) esperadas estações dos tumultuosos e

Fétidos anos da morte e do ressurgimento

 

Os povos não morrem!

 

Sublevados os povos

Habitam-se a si mesmos e habilitam-se

E aos imperecíveis sonhos e aos fraternitários

Ideários amadrugados com os seus poetas e

Com os seus líderes maiores e às suas paisagens

delineadas vibrantes vivazes ubérrimas nos seus

Frémitos caudalosos como os grandes rios do lato e

Vasto mundo com os seus vulcões ininterruptos

Eruptivos explosivos flamejantes cintilantes tais

Multidões rebeladas em fúria enroladas às suas

Festas e às suas bandeiras hasteadas e desfraldadas

Para as cicatrizações para as escarificações para as

Tatuagens das fisionomias guerreiras a um único

Simultâneo e polifónico tempo doces e ríspidas

Firmes varonis e generosas ressoando uníssonas

 

Os povos não morrem!

 

Invictos os povos

Habitam-se e levedam-se a si mesmos

Para a arquitectação dos rostos erectos alevantados

Para a disseminação da dignidade perene inexaurível

Para a (re) emergência da honra vertical maiúscula

Para os enlaces todos vindouros da igualdade da paz

E da fraternidade entre todos os povos e todas as

Criaturas humanas para a definitiva proscrição de

Todos os impérios de todos os sonhos imperiais de

Todos os fabulários imperialistas para a duradoura

Germinação e o perene florescimento de sociedades

Alicerçadas e fundadas no império da liberdade feita e

Transfigurada em lei num estado de direito social e

Democrático sedimentado no autodeterminado direito

Soberano e escrutinado de todos os povos do mundo

À livre escolha do seu próprio destino e do seu próprio

Modelo de sociedade tais aqueles que se fizeram

Nativos Habitantes e Sedentários das margens e das

Terras circunvizinhas do Dniepro do Moscova do

Volga do Mississipi do Tigre do Eufrates do Jordão

de Tripoli de Belgrado de Nova York de Grosni de Kiev

 

E de outras terras e de outras águas e de outras urbes

Montanhas e planícies suas deles e de outros povos

Do mundo amiúde acocorados meditativos no tempo

Bastas vezes debruçados apreensivos sobre os leitos

Secos das ribeiras os arvoredos as ribanceiras e os

Declives dos montes e colinas aguardando efusivos

As relíquias e os tesouros da primavera na sua festiva

Demanda da estação das chuvas dos poemários dos

Sonhos de amanhã de uma outra terra dentro da sua

Terra do seu almejado e providencial paraíso do verde

Das sementeiras e das colheitas das suas águas

E das suas frutas de útopica terra da promissão...

 

Queluz, Monte-Abraão, 8, 9, 10, 11 e 12 de Março de 2022

 

*Nota importante: infelizmente, por um lapso meu (aliás, o segundo com poemas recentes da minha lavra) extraviou-se e perdeu-se, quiçá para sempre, a versão original do presente poema, escrita, aperfeiçoada e publicada durante o dia de ontem, 8 de Março, e hoje de manhã, nas minhas duas páginas do Facebook. Felizmente, creio ter conseguido não só reconstituir o essencial e quase (se não a totalidade) dessa versão original do poema, como também alargá-la a novos horizontes temáticos e estético-ideológicos nesta segunda, definitiva e concluída versão do poema “Ucrânia”, inspirado nos acontecimentos relacionados com a  invasão russa desse país do Leste da Europa.

 

 

 

 

 

 

 

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