Cultura

O trabalho musical, denominado “Alerta Cabral ka Mori”, produzido no ano passado pelo Terreru Music, vem com um outro objetivo, também este de particular nobreza, que é celebrar o centenário do nascimento do grande herói africano e cabo-verdiano, Amílcar Cabral, bem como o quinquagésimo aniversário da independência de Cabo Verde, conquistada a 5 de julho de 1975.

“Alerta Cabral ka Mori” pretende ser uma chamada de atenção ao mundo, à sociedade, para os malefícios da supramacia racial, do separatismo e das desigualdades sociais, em contraponto com os benefícios do diálogo, da solidariedade, da união e do respeito, chamando a atenção para o dilema do homem negro e a dimensão intemporal de Cabral, enquanto um dos mais destacados emissários da emancipação da África e do povo negro.

A faixa musical "Alerta" é um apelo à consciência do tormento que o mundo está a enfrentar, fruto de um acentuado deficit do sentimento comunitário, onde os valores de humanismo, do respeito, estão manifestamente desalinhados, num ambiente em que "ser umanu sa ta manxi ta mata", desafiando a si mesmo e a natureza que até "kre lonbunu ku si manta". "Negru" é o desabafo do flagelo de um povo cujo destino não escolheu rotas, por isso mesmo vive numa assombração da alma, um dilema que mora no seu peito, que pesa na sua consciência, como um fantasma, como um feitiço. 

Cabral ka mori, letra da autoria de Emanuel Braga Tavares, é o grito do oprimido que perdura para sempre, porque um despertar da consciência, da liberdade e do sonho.

Cabral, homem, agrônomo, político, diplomata e guerrelheiro, foi o grande timoneiro da luta contra o colonialismo em África, particularmente nos chamados Países de Língua Oficial Portuguesa, PALOPs, tendo sido o estratega que impôs ao Governo Português a única derrota real na luta armada em África, nas matas da Guiné-Bissau.

Efetivamente, historiadores e a própria comunicação social da época registam que foi na Guiné-Bissau é que o poder colonial acabou derrotado por força das armas, feito esse que se deveu ao estrategista de guerra que foi Amilcar Cabral.

Considerado uma das figuras mais poeminentes do século XX, esta homenagem do Terreru Music é sobretudo um registo para a posteridade e um aviso à nevagação: respeitar a história é respeitar a nós mesmos e ao futuro.

Terreu Music é um espaço coletivo de pesquisa, estudo, produção e divulgação da música, fundado  em 2018 pelos músicos Jacinto Fernandes, Calu di Guida, Maruka Tavares, Djinho Barbosa e Djoy Amado. Desde a sua criação Terreru Music já lançou 3 projetos: Testason, em homenagem ao Kaká Barbosa, Refleson, em homenagem ao Katxás e este último que homenageia Amilcar Cabral.