EUA: Jornalistas abandonam Pentágono em protesto por ataque à liberdade de imprensa
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EUA: Jornalistas abandonam Pentágono em protesto por ataque à liberdade de imprensa

Mais de meia centena de repórteres entregaram os seus crachás de acesso ao edifício, após o governo de Donald Trump ter imposto restrições à cobertura de assuntos da Defesa. A decisão é vista como um ataque à liberdade de imprensa.

O abandono em massa do Pentágono por de mais de cinquenta jornalistas, em protesto contra as novas regras impostas pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos para o credenciamento e o trabalho da imprensa, foi descrito pela Associated Press como "silencioso, mas histórico", simbolizando a tensão na relação entre o governo Donald Trump e os principais veículos de comunicação norte-americanos.

Os órgãos de comunicação social acusam o secretário de Defesa, Pete Hegseth, de tentar restringir o trabalho jornalístico, utilizando o falso pretexto de preservar a segurança nacional.

Com mais de 600 mil metros quadrados, o Pentágono é a sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos e, na última quarta-feira, 15, a partir das 16:00 locais, os corredores do edifício começaram a acumular caixas de documentos e pertences pessoais, com os repórteres carregando cadeiras, impressoras e pilhas de livros para o estacionamento, deixando pelas costas redações improvisadas que ocuparam durante vários anos.

Mensagem de intimidação sem precedentes

A Associação de Jornalistas do Pentágono considera que as novas diretrizes representam uma "mensagem de intimidação sem precedentes", já que limitam os espaços que os repórteres podem frequentar sem escolta oficial e determinam que assinem um documento reconhecendo que a divulgação de informações não autorizadas poderá prejudicar a segurança nacional, mesmo não sendo o conteúdo classificado como confidencial.

Aligeirando o impacto da sua decisão, o Pentágono sustenta tratar-se de uma "atualização de senso comum" nos procedimentos de credenciamento, não uma tentativa de censura. Sean Parnell, o porta-voz do Departamento de Defesa, adiantou que os jornalistas "mantêm amplo acesso" às coletivas de imprensa e aos canais de comunicação oficiais, não estando obrigados a consultar o Governo antes de publicar textos e reportagens.

No entanto, trata-se apenas de um expediente narrativo, porquanto as novas regras preveem a retirada das credenciais a quem divulgar informações que o Departamento de Defesa não tenha previamente autorizado. Uma exigência que provocou imediata rejeição porque considerada incompatível com o exercício do jornalismo.

Trump diz que imprensa é “desonesta” e “prejudicial à paz mundial”

Por sua vez, o presidente Donald Trump veio em defesa do seu secretário de Estado da Defesa, classificando as novas regras como de “bom senso” e aproveitando para, mais uma vez, atacar jornalistas “incómodos”, com argumentos considerados estapafúrdios. "Acho que ele [Pete Hegseth] considera a imprensa muito prejudicial à paz mundial. A imprensa é muito desonesta", disse Trump.

As declarações não surpreenderam os jornalistas, já que o inquilino da Casa Branca mantém uma relação tensa com a comunicação social desde o início da sua carreira política. E, nos últimos anos, moveu processos contra jornais e emissoras, negou credenciamento a repórteres e vetou perguntas de veículos como a ABC e o New York Times em atos oficiais.

Mas, a crescente radicalização da Casa Branca e as declarações nem sempre pautadas pela racionalidade, que caracterizam o presidente norte-americano, têm empurrado inclusive aliados históricos a afastarem-se de Trump, como é o caso da Fox News (que esteve sempre alinhada com o trumpismo), cujos repórteres também abandonaram o Pentágono.

Mais de 50 órgãos de comunicação social, incluindo The New York Times, Washington Post, NBC News, Fox News e Newsmax, decidiram retirar seus profissionais do Pentágono até que as restrições sejam revogadas. E apenas o canal de extrema-direita One America News Network (OANN) aceitou assinar o novo termo, que académicos, organizações de jornalistas e de defesa da liberdade de imprensa consideram poder abrir um “precedente para a censura institucionalizada”.

Foto: Captura de imagem/TV

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