A Serpente
Pois então o mundo foi criado com a serpente também. Colocou o homem, a sua costela, outros animais, plantas e árvores. Criando solos e águas. Céus e universos. Colocou na Terra seres viventes. Apenas o Criador e a serpente conheciam o bem e o mal e a árvore da vida. Apenas estas duas criaturas viventes, mais ninguém. Mais nenhum ser vivente conhecia o bem e o mal. A serpente, criada à semelhança da contradição do seu Criador, sugere àqueles que foram feitos à semelhança física Deste que comam os frutos da árvore da vida e se tornem como Ele na consciência sobre o que é o bem e o mal, tal como a serpente. A serpente por não ter respeitado Vontade Superior e por ter desvendado o segredo do Conhecimento foi castigada pelo próprio Criador que havia concedido àquela a prerrogativa do Conhecimento.
Mas porquê a serpente? Qual fumo, qual composição de bocados ligados entre si se desloca na surdina do som não audível? Se a mandou rastejar para nunca mais se levantar, então a serpente, antes do castigo, andaria em pernas e voaria em asas, acompanhada de pensamento e vontade, até de linguagem, com certeza! Só tamanha violação de mandamento implica tamanho castigo, tamanha amputação espiritual, intelectual, locomotora dos movimentos físicos e uma gradação de castigos pelo homem e pela mulher: o sangue, o parto, a dor, o suor, a lavoura, a pesca e esta a seguir aquele, servindo-o. E nesta fase ainda de feitura do Mundo e dos viventes repara-se que os pensantes foram criados no ambiente psicológico e espiritual do segredo (secretismo), da queixa, da denúncia, da intriga e da culpabilização alheia. Sem ninguém aceitar a responsabilidade. Neste caso, ninguém entre mulher e homem quis assumir a vontade de ascender ao Conhecimento. A grande culpa e a grande responsabilidade são da Serpente. Quem será Ela? É sempre o outro que foi culpado e há sempre alguém que fica a rastejar toda uma inteira vida, por revelar.
Não contou, julgo, com a guerra que extermina. Prometeu não mais destruir, mas deixou nas mãos das criaturas pensantes a capacidade de extermínio e destruição total.
E hoje, altivo e empedernido, à beira Tejo, no terreiro do seu Paço, permanece Dom José I, Rei que foi de Portugal espezinhando o desconhecimento, com os seus cascos pisando a serpente. Parece ser essa tradição deixada dentro e além da Ibéria. O desprezo pelo desconhecimento e pela busca de conhecimento.
A CIDADE METRÓPOLE OU A POLÍTICA DE CIDADE METROPOLITANA
A cidade não fala
No seu metropolita caráter
Pulsa a sua vida, mas não conversa
Não se conhece, inconsciente da funda imperfeição que lhe toca
Surge barulhenta todas as manhãs
Não comunica abertamente, olha com olhos desconfiados
Vai comunicando pelos seus besouros ruidosos durante o dia
Mais serenados
A noite adormece zunindo calada
Em sobressaltados sonos
Não assinala a existência pela fala
A metropolita não conversa
Ruidosamente vai demarcando os espaços de cada um
E numa mudez, num silêncio abafado no baralho do seu pulsar
É barulho que baralha, desnorteia
Não junta a conversa e a curiosidade
Como comungar além cidade não se sabe
Se no interno burgo ela não é mais de traje
O afastamento é corte epistemológico
Quer a cidade metrópole dirigir, até chega a ordenar, mandar
Mas não sabe ir além dela
E aquém fica ruído no sono sobressaltado das metropolíticas
DOS CÓMODOS PARES
Uns laivos de loucura discernida
Lúcida a loucura das personalidades
Que são várias
Podem surgir por detrás de uma porta aberta
Cochichando, aconselhando, alertando
Também endiabrando oiço vários pés andando
Aos pares que não capto quantos
Por vezes sinto um ritmo ímpar
Há um pé colocado depois ou antes dos pares
Depois volta ao par
E os ímpares quantos pares seriam
Par dançante nesta dança da chuva
Espero o seu som ao longe de mais pares
E o ímpar a suster a pergunta
Nesta chuva dançante para regressar ao par
Somos um ou outro, consoante a necessidade de chegar
Continuar rebolar, saindo
Os ímpares destas vidas também chegam a pares
Ímpares, singulares solitários
São a continuidade, a contradição da emoção perguntada
À incomodidade dos cómodos pares
INTERINA PROFILAXIA
Retomando a continuidade
Que nunca deixou de ser descontínua
Quero dizer não penses
Sequer penses em pensar
Esvazia-o
Por interina profilaxia
Fica-te pela tua linguagem
Neste mundo que por vezes aparece-me estranho, me foge entre os dedos
Não vejo por onde entra nem por onde sai...
Nesta tristeza de dor revoltosa
Neste lugar que quer em ebulição iniciar o desatino
E quem não dirá já entrou no provir dos anos paulatino
Naquela exaltação de negativo ânimo do desapreciado sabor
Desatinado e amargado
O “SEXTA-FEIRA”
I
Ninguém me pode condenar por nascer
Ou até mesmo renascer
Com mais propriedade deveria dizer ressurjo
Não renasço, ressurjo em outra fecundação
Ninguém me pode negar o ser que é tão grande nem o vejo
Sinto-o no meu perscrutar holístico
Poderão, talvez, negar-me o não ser que é tão grande nem o sinto
Confesso-o na minha condição pecadora
E mesmo assim conflituarão com o meu livre arbítrio
Do qual sou proprietário e instrutor. Se disser servo, é uma questão de ponto de vista
Do ponto, do lugar de onde coloco a minha visão ou a minha fricção
Talvez numa ilha deserta, cheia de árvores, passarinhos e água salobra
Sem animais selvagens, mas deserta de gente
Só um! E mesmo assim haveria a ter em conta sempre as árvores e os passarinhos
Não poderia igualmente esquecer de mim nem tornar absolutamente impotável a água
Ou cometer qualquer outra aleivosia
Para que me não imputasse a Natureza de mau trato
Não podia permitir-me ser alvo de toda e qualquer arbitrariedade livre minha
- “Nasci, fugindo numa ilha deserta!
Serei mais um “Sexta-Feira”
À espera de mastros ao horizonte desenhados me libertem do meu livre arbítrio”
Canibalizado não seria
O “Sexta-Feira” presumiria
A pensar naquela musicalidade ainda não ouvida
II
Indiferenciamento musical que ressai
Faz-se ouvir no seu caminho o mundo ritmado
Pradoso e apeadeiro
SERPENTE PAIRA FRANCA
A serpente paira franca
Franca paira a serpente
Serpente que franca paire
É desgaste para os medos do desaire
Descaminhos de meliantes vaidades
Ameaçadas pelo drama das volatilidades
ZONA (franca) e Ód’BIANA
I
Vende-se a língua portuguesa ao desbarato
Desvalorizada que está no mercado da bolsa dos calores imobiliários
A troco do descrédito nacional, pessoal, coletivo e individual
A troco da dupla apoiada dos camarins, elege-se em palco, em cena:
“Fonskinhas pelo beco de Od’Biana”
Fantasia arriscada
Infiltra-se
Retrocede o civismo e a civilidade
É Zona. Nada enigmática. Até muito previsível…etc!
Nem é aquela a infecciosa doença cutânea
Comichosa e de pequenas erupções à superfície
De quem em vida adulta não resolveu as infantilidades do tempo da varicela
Nesta, a gravidade é profunda:
Cria crateras, fissuras permanentes, apodrece a quem é tocado
II
Mas sombria é a zona do beco de Od’Biana
Sim, franca
Zona Franca!
Talvez do comércio livre também
Franca zona que pode ser do ferro, do aço
Ou da
Madeira
De fuga aos Juízos Críticos e Valorativos
Encapotados de ovelha
Num assalto desesperado, com o desamparo do social
Aos porquinhos trabalhadores
Od’Biana quem comanda
Zona que segue seu trilho, já enquistado
Toma lugar no teatro surripiado
Pelos palcos da pouca franqueza
Apela franca
Franqueada sua intenção
Infiltramento
Sem passar pelo tributo
Do juízo de censura tributária e moral
Não quer cumprir o ritual das 3 pancadas de Molière
Antes de entrar em Cena
Com a sua cena dos calores imobiliários desvalorizados
III
Vende-se a língua portuguesa
Quando não se vende o que é transmissível simplesmente
Recebível carinhosamente
Sem regateio
Sem ofertas públicas na privada
Sem promessas
Promessas inadmissíveis
Impossíveis de serem cumpridas
Enchem-se bocas e dentes de palavras
Ininteligíveis ao sentimento
Porque o soar a falsidade no engodo sonoro
É seu mote
IV
Eça ainda não nascera
Por esta Estrada de Benfica
De 1849 passa ao franco jardim
Boa era a estadia, outrora palácio onde tudo não acontecera
E que por ali se estica
Até ao segredo de outra Estrada com seu novo delfim
Poderá levar a ficar-se pelos museus de cera!
V
Pato é pato
Nem de mim foge quando lhe ofereço o tato
Seria ver Eça tísico
Com o reboliço
Da cena em palco: Zona (franca) e Ód’Biana.
CPLT
I
Quais os objetivos?
Numa banda:
Cargos, salários e remunerações. Ajudas de custo…? Noutra banda: receitas, lucros e dividendos
III
Que princípios orientadores? Egoísmo, amiguismo, tecnocracia e oligarquia. Em linha ascendente… e única, alastrando-se à categoria de Polvo
Membros e aquisição de sua qualidade? Capacidade económica e financeira para sustentar e financiar através de bolsinhas e saquinhos da cor dos oceanos os membros do Clube Privado do Linguajar Tuguês – CPLT. A inscrever à Porta do Cavalo
II
Ficções jurídicas, a inscrever no saco azulado d’atividade presidenciável
Regra da rotatividade é um logro de que Portugal não faz parte (complexo de colono e de colonizado). É uma norma que não existe. Não vale e não conta…E é o logro também, aquele Gal-tuguês…
Representação dos parlamentos nacionais na Assembleia da CPLT é para estimular o voto em branco nos países a voto. Patrocinam a Violação dos Direitos Humanos!
Estatutos amontoados de formalidades, formalismos e burocratizantes.
… Só posso mesmo concluir que a CPLT é um autêntico conto do vigário!
Os povos são enganados, ludibriados!
OBVIAMENTE O DEMITO!
O obviamente aconteceu nesta sombra platónica
Das sombras da Caverna
Por onde me esqueço de equipar de pernas e braços o estado da alma
Retorno à oficina para preencher a falta do esquecimento
Ver se não passa despercebido o afinador da luminosidade
Espelhos e runas a colocar
Entre outros equipamentos
Que parecendo naturais não devemos descuidar
E o obviamente aconteceu
Nas entranhas das dúvidas e das desconfianças
A um véu encapuzado
Protegido por lentes que ao sol não permite chegar
Dançam as sete saias contadas no amor do anzol
E obviamente aconteceu
Foi a sorte
Demito-o. Obviamente!
Ao amor da sombra
Vai assimilando ao descuido
Governando-se no hábito das falhas
Na compra de muletas para as lacunas
Nesta sombra platónica e piscatória
Que nos leva ao pedido de demissão a demitir…
Comentários