Viajou de um Oriente longínquo para um Ocidente pertíssimo
Viajou, não de barco, sim de avião
É mais rápido pelos ares
Mas mais cansativa, mais destrutiva
Não descansa a mente e a alma
Não descansa o corpo
Contingências do progresso
Hoje aqui estou recuperando
Recuperando o cansaço de uma viagem de vinte anos e…
A destruição é consistente e consciente, como a construção também o é
A desilusão não é. A ilusão não é
De um autêntico coma alcoólico
De uma pura tristeza alcoólica
Abandono aquele minúsculo confuso universo
Abandono profundo sem arrependimento
Sem saudade
Abandono os meus amores e o meu Amor
Saudade só duas. Uma maior que a outra
Arrependimento? Coisa essa?
O arrependimento vem quando algo de errado se faz
Errado é quando se erra
Errar é movimento, é andar
Então, arrepender por andar?
Arrepender por fazer mal. Ah!
Fazer aos outros mal
Arrepender, assim, talvez seja senso comum
Fazer mal ao próprio há arrependimento? Pergunto
É o fígado que fez queixa à Polícia
Houve mal a outros!
Então há arrependimento
Dos dias de bebedeira sem ficar ébrio
Das permanentes noites a olhar paredes de cabarés
Olhar paredes de discotecas manhosas, matreiras
Cheias de mulheres maliciosas, que são e não são, do resto do mundo
Sem sentir há um retorno a um ambiente sossegado, saudável
Um tanto irascível, impaciente
Nada que resvale para a disformidade
É o sentir próprio de ser homem e mulher
É o mundo.
Por isso dizem que o mundo é redondo
Aquele Oriente longínquo e este ocidente pertíssimo
Da podridão da vida fácil
Do dinheiro fácil
Dos ilegais fáceis
Dos casinos fáceis
Dos corruptos fáceis
Dos vinte e sete anos difíceis
Enfim é a felicidade dos pequenos espíritos
Não que existam grandes espíritos
Pequenos, inócuos sim!
Vida tem objetivo
Ter carro de alta gama,
Joias,
Casas muitas
Roupas, mas caras
Andar na passarela do Mundo
Evidenciando, espalhando o odor do perfume da sua felicidade superior
Debatendo pertinentes, profundas e mui sérias conversas
Num fortíssimo meio sonoro de registo inaudível
Numa qualquer discoteca sufocada de gente
É assim o Mundo
O pertíssimo Ocidente é aqui onde estou
Sentado, escrevinhando, tentando fazer uso daquilo que se diz que é pensar
Não lá fora
Lá fora estarei quase perto do Oriente longínquo
CABEÇA DE GALINHA
corta-se a cabeça à galinha e ela saltita
o Homem sem cabeça cai
não mais se levanta
a guilhotina
não, a Guilhermina
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