Armando de Pina. Um talentoso compositor e instrumentista
Cultura

Armando de Pina. Um talentoso compositor e instrumentista

Eugénio Tavares refere que “a morna é originária da Boa Vista, tendo, posteriormente, passado a outras ilhas adaptando-se e tomando feição psíquica de cada povo.” E adianta que na “Brava, a terra onde os homens se casam com o mar, a morna fixou os olhos no espaço azul e adquiriu essa linha sentimental, essa doçura harmoniosa que caracteriza as canções bravenses.”

De facto Brava perfila-se com um número substancial de compositores, cujas mornas se caracterizam por uma linha tanto melódica quanto poética, próprias.

Armando de Pina figura entre esses criadores.

Armando de Pina Fortes nasceu em Achada Ponta, freguesia de São João Baptista-ilha Brava, no dia 23 de Agosto de 1935, filho de João Armando Fortes e de Ana de Pina Fortes.

Mamando, como é vulgarmente conhecido no meio bravense, iniciou-se na música a cantar, pois possuía um dom natural para o canto. Depois com João Miranda começou a aprender tocar violão que se aperfeiçoou em tocatinas com a rapaziada do seu tempo.  

Em 1957 emigrou-se para os Estados Unidos da América. Não efectuou qualquer pausa na música. Participou em quase todas as actividades ligadas à cultura e convívios organizados pela comunidade.

Autor de várias canções, Armando revê-se todavia melhor como compositor do que instrumentista

Iniciou-se em 1959, quando deu melodia a um poema do seu conterrâneo, Falai, discorrendo sobre um tema de amor, e que se erigiu na morna:

         “Sara djam crebo tcheu

Ai câ bu duvidan’ nha flor

Rincâ nha coracão bu lê, cretcheu

Amor, amor inda mas amor...

                                                       (...)”

Compositor, particularmente de mornas, a sua temática ficou marcada por focar a ‘saudade’ de um homem a viver longe do solo pátrio:

         “Sodadi é um dor sem fim

Só di mai inda é más grandi

Mai, consolo di sé fidju!

N’ s’ta perdidu londji di nha mai

Ói Djabraba n’ câ negábu

Ói nha ninho n’ câ dixábu

Embora pobre n’ t’amábu

Pamodi bô é terra di nha mãe

                                                 (...)”

E nesta saudade focaliza o mar tecendo uma interacção entre a pátria e a terra de adopção:

“Num tardinha na cambar di sol

Mi t’andâ na Praia de Nantasket

Lembran’ Praia di Furna

Sodadi pertan’ n’ tchorâ

Mar é morada di sodadi

El tâ separánu pâ terra londji

El tâ siparánu di nôs mai, nôs amigo

Sem certeza di torna incontrâ

Um pensá nha vida mi só

Sem ninguém di fé perto di mi

Pan’ sta odja qu’és ondas

Ta squebra de mansinho

Ta trazen’ um ar di sentimento”

Em 1985, de férias em Lisboa, aproveitou e gravou o seu primeiro disco "Nha Pensamento", que agradou o público. E em 2005, publicou “Alma Cabo-Verdiana”, interpretando as suas composições e as de conhecidos autores bravenses.

Em reconhecimento pela sua relevante contribuição para o engrandecimento da nação cabo-verdiana e para a afirmação dos valores da cabo-verdianidade e de identidade nacional, a 5 de Julho de 2011, no quadro das comemorações do XXXVIº Aniversário da Independência Nacional, Armando foi condecorado pelo Presidente da República de Cabo Verde com a Primeira Classe da Medalha do Vulcão.

Pelo seu trabalho em prol do engrandecimento do país, Armando foi, no dia 22 de Novembro de 2013, distinguido pela Sociedade Cabo-verdiana de Autores, SOCA, com o diploma de mérito, num acto solene que decorreu no salão de convívio do Consulado-Geral de Cabo Verde, em Boston.

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