Colunista

As próximas eleições eleitorais de 18 de abril irão ditar a legitimação do novo comando político do país: após cinco anos da governação ventoinha, os eleitores serão chamados a avaliarem o desempenho do Governo e da sua Legislatura para escolherem os novos dirigentes para os próximos cinco anos.

O MpD fez um dos piores governos da história recente do país independente: fez um verdadeiro estelionato eleitoral – fez promessas de ofertar o paraíso ao povo e não cumpriu suas promessas; foi apanhado por três terríveis maus anos agrícolas e para culminar, foi fustigado pela pandemia da Covid19 que desestruturou o país, a sua economia, as contas públicas, destroçou os empregos, colocou famílias e pessoas no desespero e lançaram milhares de pessoas no desemprego e na insegurança perante o futuro, enfim, esse Governo em fim de mandato não teve sorte.

Mas, não foi um Governo de anjos e arcanjos: as suas ações e omissões demonstraram truculência, prepotência e abusos diversos em vários setores – veja o leitor, os processos obscuros de privatizações, concessões e concursos públicos havidos; veja, a forma como o Presidente da Assembleia Nacional tratou os representantes do povo, especialmente, os eleitos pela Oposição democrática; veja os escândalos com a nomeação de um Cônsul de Cabo Verde nos EUA que é ligado e patrocinador do partido CHEGA considerado racista e xenófobo em Portugal; veja a lista de nomeações de altos dirigentes mpdistas para os melhores cargos da administração do Estado no país e no estrangeiro em detrimento de critérios técnicos e da sã competitividade, relegando os desafetos à prateleira, descriminação e exclusão; veja que aos ricos foram dados tudo do bom e do melhor e aos pobres, nada, o desprezo e a desconsideração.

O comportamento eleitoral do povo não é aleatório: o povo está descontente, os sindicatos já marcaram manifestações em Santiago para o fim de semana e mais e mais manifestações públicas irão ocorrer. As manifestações em favor do Dr. Amadeu Oliveira constituem apenas um exemplo.

Com base na leitura no livro do professor Daniel Costa sobre os dados eleitorais em  Cabo Verde de 1991 a 2016, a leitura das sete rodadas de estudos políticos da Afrobarometer sobre Cabo Verde, dos meus estudos eleitorais sobre Cabo Verde, dos dados oficiais publicados nos jornais, pela CNE, Bolitins Oficiais de Cabo Verde podemos concluir que:

1. a diferença de votos entre o MpD e o PAICV vem diminuindo continua, progressiva e rapidamente de eleição para eleição nas últimas três disputas verificadas – 2016 – Legislativas (36.000 mil votos), Autárquicas (33.000 votos); 2020 – Autárquicas (20.000 votos);

2. a taxa de crescimento médio eleitoral do PAICV é muitíssimo superior ao do MpD, por exemplo, das Autárquicas de 2016 para as de 2020 o MpD só ganhou 1.000 votos (97.000 votos em 2016 para 98.000 votos em 2020) enquanto o PAICV ganhou 14.000 votos (64.000 votos em 2016 para 78.000 votos em 2020). Por exemplo, nas Autárquicas de 2020, o MpD perdeu só na Praia mais de 40.000 votos em apenas 40 dias com a introdução do Ulisses Correia e Silva na campanha, imaginem quando for ele mesmo o protagonista a pedir votos para si e para os seus!!!!

3. a tendência mostra um MpD estacionário em quatro anos no patamar de 98.000 votos, enquanto o PAICV se mostra acutilante ganhando 3,5 milhares de eleitores, em média, por ano, colocando os tambarinas como francos favoritos nas eleições de 18 de abril;

4. tanto os fatores estruturais quanto os conjunturais são desfavoráveis ao Governo – os indicadores de desempenho da economia, das contas públicas, do emprego são péssimos e o descontentamento tem estado a aumentar e a se espalhar pelo país e na diáspora contra o Governo; 

5. o espetáculo de mau gosto que tem sido o ataque à honra, integridade e dignidade do Dr. Amadeu Oliveira colocando várias questões sobre a lisura da justiça e independência dos poderes sobre mesa incendeiam ainda mais as defesas das hostes governistas. Não se pode negar que os policiais que executaram a ordem de prisão e o tratamento indigno ao advogado contrariando as prerrogativas institucionais constitucionais e legais estavam sob as ordens de seus superiores hierárquicos que respondem ao Ministro da Administração Interna. Por outro lado, todo esse emaranhado processualista que permite a uma magistrada que a mídia coloca sob suspeição julgar um caso dessa natureza só é possível por que o Ministério da Justiça não se acautelou antecipada e devidamente em termos legislativos;

Ainda que admitamos que a democracia seja um processo contínuo de aperfeiçoamento, temos tido erros e abusos incompatíveis com o estágio de desenvolvimento que já conseguimos alcançar.

Viva a democracia!!!