Manda a tradição religiosa e cristã popular Santiaguense, herdada dos anos em que Portugal rompe as relações com o Vaticano – no periodo de transição entre a monarquia e a républica, a partir de 1910. Por um certo interregno, as colónias, ficam sem presença clerical e portanto, a população, através dos catequistas, assumem o ensino da doutrina e portanto, assim nasce e se populariza entre as comunidades Cristãs, Caboverdianas, a tradição da reza caseira e comunitária para cerimónias, como o “guarda cabeça” - uma espécie de batismo ao sétimo dia para livrar a criança dos males do mundo - o “panha spritu” – uma interseção a favor de almas aprisionadas por passamentos dolorosos, como accidentes de viação, afogamentos, etc, cujo, objectivo é de libertar almas penadas para seu descanso eterno “...entre os resplendores da luz perpétua” e ainda, dizia, O VAI À LUZ – a cerimónia que consiste no terço rezado em cânticos sagrados, entoados por várias tonalidades vocais masculinas, intercaladas com orações extraidos de livros antigos em latim, com duração de cinco horas em média. Este tipo de cerimónia, conhecida também por BESPA – podendo prologar-se até ao raiar da luz do dia- é dedicado a defuntos adultos, com o objectivo de pedir a salvação de sua alma e o perdão de seus pecados, para que seja purificado e aceite junto do senhor. As crianças, são consideradas “ANJOS”, por isso, não recebem este tipo de cerimónia, por serem imaculadas, portanto, livres de pecados.
Assim, com a permissão dos familiares de Carlos Alberto Barbosa, nosso saudoso Kaká Barbosa, este que se auto-entitulava de ser também, deus, nas sua forma poética, filosófica e criativa, mas, também estética - não temos reservas de duvidas que Kaká é um espírito de luz tão lúcido, que merece estar entre as mais célebres e iluminadas constalações que estabelecem a relação entre o divino e o humano.
Aceitar a ilustração de que os Estados possuem embaixadas e diplomatas nos seus territórios de interesse e que nós homens de outras dimensões e esperanças supraterrenas, temos nossos consolares junto das divindades, é uma actitude tão natural como sábia. Estes são nossos ancestrais dos quais Kaká já faz parte e os anjos já lhe tocaram as trompetas do universo, seu traje acaba de ser ajustado á medida de seu novo corpo e a maturidade que alcançou está sendo preparada para ser entregue a um novo ser, cabendo à mais alta autoridade divina decidir qual a classe a que este espírito ascendente deverá pertencer. Talves um Querubim ou um Arcanjo!
Kaká falava muito de seres espirituais e seus agentes - não era um homem comum! Ou seja, um mero habitante terrestre vagueando entre os homens. Este espírito que nasceu Cabo Verdiano, deixou claro no seu percurso terreno, que iria habitar e governar em outras dimensões e que tinha uma missão: A de preparar sua Nação, deixar um legado de que podemos ser aquilo que quisermos e desafiar toda e qualquer autoridade, desde que esta não se mostre coerente com os princípios que lhe são inerentes - mesma as divindades. “A submissão total é para fracos de espírito”, dizia este espírito iluminado, em suas locuções mais intimistas.
Manda a lei da regeneração conjugada com a reencarnação, que os espíritos iluminados já amadurecidos, sejam premiados com novos corpos físicos ou espirituais e recebam novas missões, isto quando se justificar uma nova vida para completar parte da missão. Entretanto, Kaká, pela sua intensa prestação, deve ter cumprido seu propósito com esta Nação. O mundo carece de missionários experientes e espiritos valentes. Assim, enquanto seu corpo repousa e se esvanece, sua Entidade se reintegra e recebe a espada da justiça e da dignidade do povo pelo qual tanto se bateu. Esta Entidade, irá interceder severamente sobre todo aquele que defraudar as expetativas mais Sagradas desta Nação crioula. Já somos Divindade, temos um valente Auxiliar de Serviço junto da Autoridade Suprema, com o dever de velar e proteger nossos mares, nossas fronteiras, nossas mães, filhos, derigentes, trabalhadores, viajantes, visitantes, académicos, estudantes, nossos céus, a terra, o lavrador, seu animal, os artistas e os que julgam não ter nada a dizer.
Kaká vive 73 anos completos, marca várias gerações, une as ilhas, se assume Caboverdiano, conserva seu unbigo de São Vicente e se estabelece em Santiago, escreve e se expressa com naturalidade em todas as variantes, viaja por várias vertentes da arte, naturaliza a politica, revitaliza o conceito revolucionário, propõe um modelo simplificado de elite, indica o campo como solução, cumpre com Cabo Verde e se despede, como quem atinge o auge de sua glória, triunfa e decide, simplesmente, partir, com data marcada.
Vai à Luz, Kaká!
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