Colunista

O véu que portava Maria, desce sobre o céu de todas as santas de nossa cidade, enquanto que as sandálias de José palmilham este chão sagrado de Graciosa à Malagueta.

O destino quis que entre todos os dez ramos desta linda tinteira, fossemos a trincheira, cumpríssemos com o propósito da liberdade e ainda hospedássemos os peregrinos... E assim é: A cada ano um "Santo Amado"!!!

O que tradicionalmente o povo convencionou chamar de " pega burrinho ", abençoada e milagrosamente, assume as massas, realiza a fé, quebra as correntes, vive a santidade e recomenda a Paz. Este é o nosso canto- Tarrafal.

Porquê "pega burrinho"!!!

Janeiro é o mês da colheita nos campos que outrora produzia em abundância e abastecia, a partir de Tarrafal, as ilhas áridas norte do arquipélago com alimentos frescos e saudáveis da terra e carnes de animais criados e engordados a partir dos restos vegetais.

Em todo este processo de produção, colheita e distribuição, o burro - Equus africanus - animal doméstico de carga, foi sempre um fiel auxiliar do camponês nas tarefas campesinas.

Então, a expressão " pega burrinho" surge no momento auge do aparecimento dos rebelados, por seu lado, confrontavam a igreja católica e o clérigo, sentindo sua autoridade evadida, pregou o terceiro mandamento: "...O senhor não deixará impune aquele que evocar seu nome em vão " êxodo 20:7.

Desta forma, o povo, recorreu à linguagem tradicional acessível para substituir a Expressão oriental " festa de Santo Amaro" e por ser Janeiro que coincide com a "korta" ou colheita, então o "pega burrinho" entrou na linguagem para designar a participação popular na festa.

Tarrafal de Santo Amaro, ainda conserva a tradição de vastas achadas, onde o animal representativo do trabalho camponês, pasta livremente todo o ano, para quando houver abundância "ano bom", voltar à casa e continuar a servir, pois manter um burro durante o ano de seca, é dispendioso e com o pouco pasto disponível a preferência vai para a alimentação do gado produtor de leite e carne.

Eis a maneira que o povo encontrou para homenagear o animal mais sofrido e disponível na nossa terra.

O município de Tarrafal, saúda e brinda Cabo verde todos os anos com a festa que abre o ano. Aqui se reza, se roga, se ajoelha, se prega e se promete e se levanta para o trabalho. Por isso Santo Amaro diz-se ser ciumento. Mas, o entendimento é de que Ele é um zelador justo e um discípulo fiel e equilibrado do princípio da fé Cristã, seguindo seu mestre São Bento, aprendendo a cultivar a paz, a bondade, o amor e a generosidade de Jesus, dentro das barbaridades do império romano. Graças ao papel que o Apóstolo Paulo teve na expansão dos ensinamentos originais do Cristo ao ocidente - ler Os livros de coríntios, tessalonicenses, romanos, entre outros, cujas cartas de Paulo estão transcritas. Eis a origem de Amaro, o nosso Santo Padroeiro, guia e exemplo que de seu silêncio do altar nos conecta com a divindade superior e guarda e distribui sua devoção. É nisto que acreditamos.

Deus é bom, pois, no meio da escravidão escolheu um povo para libertar. Igual que Israel do Egipto, Cabo Verde é livre, ganhou um povo, um Estado, uma diplomacia e sobretudo um "modus vivendi"- distinto e único- com seus Santos pecadores que por sermos lutadores, nossas falhas humildes já estão perdoadas, mesmo antes de os cometermos, por isso, vencemos a cada dia, nossa terra continua abençoada, nossos homens, valentes e de braços empregados.

O lenço que corroa o céu de nossas mulheres, rega o corredor do trilho que nos orienta pela força do ser superior e assim nunca nada nos faltará.

Mais um ano, mais uma benção, mais Cabo Verde, mais Tarrafal, mais norte, mais forte.

Visite-nos em casa, neste Santo Amaro 2025.

Cai sempre 15 de Janeiro com missa e procissão.

Os músicos e o povo também já reservaram seu espaço para 11 e 12. Vamos lá ter -  Dançar, e alegrar, abraçar e matar saudades.

Sejamos todos bem-vindos!