No passado dia 18 de abril, os eleitores cabo-verdianos foram chamados a escolher um novo governo para os próximos cinco anos. Segundo o apuramento parcial, o MPD conseguiu eleger 37 deputados, PAICV 29 e UCID 4 deputados. Ainda faltam 2 deputados por eleger do círculo eleitoral da Europa e do Resto do Mundo.
Efetivamente, o MPD teve a maioria e como consequência, deverá formar o Governo que irá dirigir o país por mais cinco anos. E na sequência desses resultados, a candidata do PAICV, Janira Hopffer Almada anunciou a sua demissão como presidente do partido.
Dois dias depois, estava eu, sozinho, num bar a apreciar um bom vinho e chegaram dois amigos: um era simpatizante do MpD e o outro era um militante ferrenho do PAICV. Ambos são professores no Liceu Amílcar Cabral.
Os dois cumprimentaram-me, sentaram-se e começaram a discutir. O tema, obviamente, era o rescaldo das eleições. Antes de serem atendidos, começou a discussão:
- Meu amigo, já sabes o porquê que o teu partido perdeu as eleições: vocês tinham uma liderança muito frágil, o partido estava muito dividido internamente e, em Cabo Verde, as mulheres ainda não têm chance de ser Primeira-Ministra. Além disso, a vossa máquina de campanha estava muito fraca.
O amigo do PAICV respondeu:
- Estás muito equivocado! A nossa líder já deu provas de ter capacidade suficiente para governar o país. Podemos até estar divididos internamente, mas isso é normal. Mas o que ditou a vossa vitória foram os recursos financeiros. Vocês não deixaram as pessoas votarem em consciência. Souberam muito bem explorar a pobreza dos coitados. E sabes porquê que o MPD perdeu na diáspora? Porque lá ninguém vende o seu voto…
- Olha, esse discurso vosso está a ficar mofo. Nós fizemos exatamente aquilo que andaram a fazer ao longo dos 15 anos – respondeu o militante do MPD. A vossa presidente criou conflitos internos, excluiu os candidatos que constituíram ameaças, nomeadamente o Blak, Moisés, Alcides Graça, a Filomena Martins…e colocou na lista muitos amigos sem nenhum peso político. Vocês deveriam fazer como fizemos com os nossos críticos: por exemplo mantivemos a Mircea Delgado em S. Vicente e Emanuel Barbosa na Europa. Aqui está a diferença entre um partido democrata e um partido ditador.
Por outro lado, durante a campanha, o silêncio de José Maria Neves e Pedro Pires também não vos ajudou. Será que vão manter o apoio ao José Maria Neves?
- Meu caro amigo, o Carlos Veiga também não fez campanha e nem por isso vai deixar de contar o apoio do MPD. Quanto ao conflito interno e exclusão dos críticos (dissidentes), realmente esse processo poderia ser gerido de uma outra forma, mas há elementos que não dispomos, por isso não vou entrar nessa discussão – concluiu o amigo do PAICV.
- Concordo. Porém, há um outro problema: quem irá suceder a Janira!!! João Baptista? José Sanches? Francisco Carvalho? Rui Semedo? Quem? – Perguntou o colega do MPD.
- Bem, isso é uma outra questão, mas ninguém é insubstituível. Saberão escolher um bom sucessor – respondeu o simpatizante do PAICV.
- Certo. Contudo tens de reconhecer que Ulisses merecia mais um mandato e vamos torcer para que tudo dê certo… e viva a nossa amizade – rematou o defensor do MPD.
- Discordo, mas aceito. Espero que tenhamos um “Cabo Verde no caminho seguro” como prometeram… e Para Todos.
Os dois abraçaram-se e convidaram-me para uma rodada, mas eu já estava de saída e disse-lhes que ficaria para uma próxima oportunidade.
Assomada, 22 de abril de 2021 - Adalberto Teixeira Varela
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