Colunista

Na era do negacionismo ambiental com a saída do Acordo de Paris de uns, há quem esteja negando a sua própria história e sombra, entre nós, tentando revisar a narrativa histórica.

1. O negacionismo científico tomou conta dos parcos argumentos apresentados na entrevista concedida ontem pelo Ulisses Correia e Silva à TCV.

2. Ulisses tenta negar o fato de que o desastre autárquico ocorrido em 01/12/24 possa influenciar o destino “ventoinha” nas próximas eleições legislativas do próximo ano com o reiterado falso argumento de que o PAICV ganhou três eleições legislativas (2001, 2006 e 2011) enquanto o MpD ganhava as autárquicas.

3. Tal analogia é falsa e não tem suporte nem fático e nem científico: 1º, a vitória do PAICV em 2001 nas Legislativas foi precedida de outra vitória também tambarina nas autárquicas de 2000; 2º, a vitória do MpD nas autárquicas de 2012 ocorreu após a vitória do PAICV nas Legislativas de 2011; 3º, as únicas eleições autárquicas de 2004 e 2008 que antecederam eleições legislativas de 2006 e 2011, respectivamente, têm distâncias temporais de dois e três anos!!! Conclusão: apenas houve uma coincidência entre esses dois eventos mas não há uma relação de causalidade, ou seja, o fato do  partido (MpD) ter ganho as autárquicas e outro (PAICV) ganhado as legislativas seguintes.

4. Ulisses apresenta a analogia de eventos hecatombe eleitoral autárquica passada e as implicações nas legislativas de 2026 como independentes como alguém que consome álcool e cigarro em excesso e se justifica que conhece uma velhinha de 99 anos que também fuma e bebe álcool mas que continua viva como se o consumo desses produtos são as causas da longividade de alguém!!!

5. Dois fatores foram determinantes para o desastre eleitoral autárquico de dezembro passado: a péssima avaliação do Governo de Ulisses e o forte declínio da preferência partidária pelo MpD nos últimos tempos ao nível nacional e, consequentemente, local.

6. Os eleitores desde 2022 já avaliavam muito negativamente o Executivo e afirmavam que o Governo de Ulisses andava no caminho errado e que se as eleições legislativas ocorresses naquele ano votariam no PAICV e colocariam o MpD na oposição, segundo dados do afrobarometer.

7. Em 2021, o candidato a Presidente da República patrocinado e apoiado pelo MpD foi derrotado pelo candidato apoiado pela oposição (PAICV) no 1º turno.

8. O desastre eleitoral autárquico de 2024 foi simplesmente a projeção do agravamento do nível de descontentamento das populações com o Governo já anunciadas em 2022.

9. Em 2024, dados do INE sobre avaliação do Governo pelos cidadãos quanto ao combate à inflação, promoção de políticas de emprego e de segurança pública deixaram o Governo arrasado com notas muito negativas e dessa avaliação os eleitores traduziram nas urnas mandando 15 Câmaras Municipais ventoinhas para a oposição em 22.

10. Ulisses ao alegar que eleições autárquicas de 2024 são independentes das legislativas de 2026 tenta sacudir a água do capote: em 2016, quando o MpD ganhou as legislativas, foi o próprio PM e Presidente mpdista que patrocinou, pessoalmente, as candidaturas municipais “ventoinhas” daquele ano, aparecendo em cartazes, outdors dos aspirantes rabentolas aos cargos locais como se ele fosse o dono dessas candidaturas e, em 2024, com a derrota geral das suas 15 CMs, tenta descolar a sua imagem desses derrotados como se ele não teve nada a ver com isso!!!

11. Só na Praia onde Ulisses decretou que iria ganhar a CMP custe o que custasse, a dupla derrota: a primeira em 2020 e a segunda em 2024 de seus fiéis aliados candidatos para o Francisco Carvalho traduz o nível de falência política, administrativa e eleitoral a que os rabentolas e o seu chefe conseguiram chegar, despencando de mais de 27.000 votos em 2012 para os escassos 14.000 votos, em 2024, enquanto o número de eleitores cresceu nesse mesmo período em mais de 15.000 novos inscritos!!!

12. O Presidente do MpD ao tentar normalizar o ataque de seu partido à imprensa pelo comunicado e queixa à ARC contra o conceituado jornalista Carlos Santos, tão somente, mostra o quão disposto está em continuar na senda da intimidação dos jornalistas e dos críticos de seu Governo e indiferente ao afundamento eleitoral e político pelo qual está conduzindo o seu partido.

13. A negação dos benefícios e privilégios proporcionados pelo estatuto de titulares de cargos políticos ao ponto de afirmar que continua morando na mesma casa e que que poderá sair do Governo mais pobre, simplesmente, afronta a inteligência dos milhares dos cidadãos humildes espalhados pelo país enterrados na pobreza e na miséria que enfrentam as dificuldades diárias para garantirem as três refeições!

14. Ulisses defendera na oposição um governo enxuto com 12 membros e chegado no Governo quase que triplicou o tamanho do Executivo que ele mesmo tinha jurado defender e justifica com argumentos insustentáveis tais como, que a realidade do país é um arquipélago e que 12 membros seriam insuficientes.

15. Ora, parece que essa realidade arquipelágica já existia antes de 2016 aquando defendia um tamanho de Governo pequeno razão pela qual não poderia vir a ser invocada como causa do alargamento posterior do mesmo!

Na entrevista Ulisses fez paródia da ciência política ao defender um negacionismo do desastre eleitoral rabentola e seus impactos nas próximas legislativas e conclui com o auto-negacionismo ao tentar se descolar a sua própria pessoa da tamanha hecatombe eleitoral sofrida pelo partido como se isso fosse apenas culpa dos coitados candidatos locais que caíram de para-quedas e não tiveram as benções e patrocínios da cúpula ventoinha para as suas aventuras eleitorais!!!