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Da ridicularização da política. Ou a tentativa de vestir um Rei que desde sempre andou pelado por aí
Colunista

Da ridicularização da política. Ou a tentativa de vestir um Rei que desde sempre andou pelado por aí

Carlos Veiga é o único ”democrata” que eu conheço neste mundo, que declarou não aceitar outro resultado que não seja a vitória, na sequência de eleições livres. Ele é único! Porque os restantes que a história regista são conhecidos, todos, como ditadores.

Em 1991, o MpD surfou a onda do descontentamento popular contra os 15 anos do regime monopartidário e subiu ao poder, com Carlos Veiga à frente, que assim se fez herói, não se apercebendo – ou estaria a fingir? - que o cabo-verdiano estava na disposição de escolher qualquer gato pingado que lhe aparecesse pela frente, em detrimento de um regime caduco e escanzelado.

E o nosso hoje Kalu inflamou-se de tal ordem com o voto do cabo-verdiano, que em apenas 2 anos dividiu o movimento em dois – MpD e PCD. Eurico Monteiro, então seu nº 2, chutaria o pau-da-barraca, e com ele uma dúzia de "democratas", entre os quais o atual Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, e o Ministro das Comunidades, Jorge Santos, entre outros. Isto em 1993.

Com essa separação, o nosso hoje Kalu fez cair a máscara, e de repente, o país passou a acompanhar um Carlos Veiga colérico, rancoroso, bufando por todos os poros, sobretudo quando lançava as palavras de ordem: “nós é Rabentola, nu ta pita, nu ta djuga; pedra ka ta djuga ku garraf", entre outras relíquias que só se encontram nos dicionários dos déspotas e ditadores espalhados por este mundo fora.

E sempre com o apito e a bola em seu poder, o “democrata” Carlos Veiga – andam por aí a dizer que é o pai da democracia cabo-verdiana e tudo indica que ele acredita mesmo – resolveu abandonar o governo, em 1999, para abraçar um projeto presidencial, nomeando o economista e seu então ministro da Coordenação Económica, Gualberto do Rosário, no cargo de Primeiro Ministro de Cabo Verde, em pleno regime pluripartidário.

Assumindo-se dono e senhor do MpD, a nomeação do Gualberto do Rosário na chefia do governo, sem passar pelo crivo popular, e sequer pelo consenso dos maiorais do movimento, provocou um novo parto no seu partido – nasceu o PRD -, comandado por Jacinto Santos, José Luís Livramento, entre outros “democratas”.

Com estes grandes feitos políticos do Carlos Veiga, frutos de uma liderança manipuladora, ditatorial, castradora de pensamentos discordantes, o MpD chega ao ano 2001 feito escombro, completamente fragmentado nos seus fundamentos – se é que algum dia os que teve -, e perde as eleições.

Mas Carlos Veiga não se desarma perante a reprovação popular imputada ao seu partido. Concorre meses depois à Presidência da República, com a mesma arrogância e prepotência que lhe são característicos, chegando ao ponto de afirmar que não aceitaria OUTRO RESULTADO QUE NÃO FOSSE A VITÓRIA.

É evidente que essa afirmação, trocada por miúdos, é UMA DECLARAÇÃO DE GUERRA contra as instituições democráticas e o próprio país, em plena democracia pluripartidária, feita por um homem que se pretende pai da democracia e da liberdade no nosso país. Será este o democrata e herói da liberdade e democracia que se quer vender aos jovens cabo-verdianos nas eleições presidenciais de 17 de Outubro próximo? Haja decência!

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SOBRE O AUTOR

Domingos Cardoso

Editor, jornalista, cronista, colunista de Santiago Magazine