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A transversalidade da escolha
Colunista

A transversalidade da escolha

...as escolas, universidades, não capacitam o sujeito a ser exímio engenheiro e arquitecto na disciplina de escolha. As academias injetam o conhecimento científico e académico, mas não formam personalidade, caráter e consciência espiritual. Saber escolher com inteligência e sabedoria, implica numa profunda dose de inteligência, sabedoria e bom senso. Não é uma questão da intelectualidade, diploma ou posição social. Ultrapassa essas áreas e vai além disso. A construção do ser humano está ligada à sua capacidade de saber escolher.

A vida é feita de escolhas e sem essa prerrogativa importante, seríamos "robôs" e não humanos. A nossa ação distintiva e inteligente, assenta justamente em nossa capacidade de escolha. Fazemo-la diariamente e estamos em permanente evolução nesse processo importante e dinâmico da realidade humana.

O alcance proativo e qualitativa das nossas escolhas, depende em grande medida do equilíbrio emocional, psíquico e espiritual. Quando estamos internamente fragilizados ou vulneráveis, torna-se possível decisões precipitadas e ações arriscadas. Todo o ser humano deve amadurecer-se nesse processo tão crucial ao seu desenvolvimento pessoal e interpessoal.

A nossa capacidade de escolha positiva deve assumir um alcance mais assertivo e transformador, na medida em que ganhamos uma estatura emocional e psíquica maior. Nascemos livres para escolher, faculdade inerente que poderá ser desenvolvida paulatinamente. Não há mudança sem escolha e a vida sem essa ação determinante não teria sentido.

Nossas escolhas podem produzir sucesso ou fracasso. Está claro, que todo o ser humano precisa ser instrumentalizado a fazer escolhas inteligentes e significativas. Toda a nossa existência gira em torno do que escolhemos ou não, tanto no sentido destrutivo como construtivo. Em teologia diríamos, que a todo o ser humano foi-lhe dado o "livre arbítrio". Significa, que podemos decidir ou não. Podemos até sofrer a influência dos outros e do meio social, mas quem tem a última palavra somos nós.

Fomos dotados com essa capacidade individual e é reflexo da nossa inteligência. Fazer o melhor uso do nosso "livre arbítrio", é uma outra questão. A pergunta que muitos colocam e que parece ser legítima é: "Se Deus sabe todas as coisas, porque não impede que alguém sofra mediante as decisões que toma”. Teologicamente, o "livre arbítrio" é uma faculdade dada ao homem e Deus não interfere, a não ser que homem O autorize. Estamos perante um "direito legal" e inviolável conferido ao homem. Por isso, que alguns fazem o melhor uso do "livre arbítrio" e outros não.

Há um aspecto em teologia que chamamos de "direito legal". Significa, que Deus não interfere na escolha do homem, mas lhe capacita a ter "luz" e inteligência nas decisões que toma. A questão principal, é como o homem faz uso do seu "livre arbítrio". Caim decidiu matar o seu irmão, Deus não interferiu, porque Caim fazendo uso da sua escolha deliberada, pós fim à vida do seu irmão.

É claro, que Deus já tinha dado uma alerta antes e sinais, que Caim poderia ter decidido não cometer o primeiro homicídio da história. Infelizmente, Caim não quis ouvir, isto porque a inveja já tinha assumido uma proporção elevada em sua mente e emoção.

Conclusivamente, o que Deus faz, é dar todas as evidências possíveis para que o homem faça a melhor escolha possível. O "livre arbítrio" não é um absolutismo da soberania humana; é um instrumento de inteligência, da coerência, da lógica e do progresso.

Em toda a nossa história antropológica conhecemos pessoas que foram bem sucedidas e outras que se fracassaram. Onde está a real diferença? Está justamente na capacidade lógica de escolha. A nossa felicidade ou frustração depende da nossa escolha. A lógica e a inteligência fazem parte desse componente. Um outro elemento importante, é o discernimento. Este, por sua vez, traz sobre si a base espiritual. Significa, que as nossas escolhas positivas ou sábias, dependem de um conjunto de princípios. Com isso, se estabelece uma ordem existencial mais profunda. Não se trata do razoável, escolhas que progridem tem o seu preço e traz consigo um conjunto de substratos que nem sempre estão na superfície.

Uma consciência madura, poder de análise, poder de reflexão, equilibrada espiritualidade, se conjugam e se conectam com a absoluta capacidade de escolha para um equilíbrio evolutivo. O que construímos em toda a nossa vida, poderá ser destruído em poucas horas ou minutos pela decisão que tomamos. Devemos desenvolver a capacidade interna para decidirmos com inteligência e sabedoria. Esta é uma disciplina que as escolas não ensinam. Só a vida nos dá essa habilidade e competência.

A grande missiva seria que as escolhas geram ações transversais. O que escolhemos agora, interfere diretamente no que colhemos depois de uma forma holística. Toda a nossa relação interpessoal e social, familiar e profissional, está exclusivamente atrelada nesse elemento.

Infelizmente, as escolas, universidades, não capacitam o sujeito a ser exímio engenheiro e arquitecto na disciplina de escolha. As academias injetam o conhecimento científico e académico, mas não formam personalidade, caráter e consciência espiritual. Saber escolher com inteligência e sabedoria, implica numa profunda dose de inteligência, sabedoria e bom senso. Não é uma questão da intelectualidade, diploma ou posição social. Ultrapassa essas áreas e vai além disso. A construção do ser humano está ligada à sua capacidade de saber escolher.

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SOBRE O AUTOR

Lino Magno

Teólogo, pastor, cronista e colunista de Santiago Magazine