«Isto é "Assassinato" causado por um contrato, mal feito, por um governo de "Garotos," sem precedente na História do nosso País e por um Presidente da República, que diz que é próximo do povo, mas quando o povo precisa dele remete-se ao silêncio, assumindo mais o seu lado intelectual, escrevendo e lançando livros, e é mais do que evidente que desta feita a culpa não pode morrer Solteira... Perdeu se uma Vida!»
Este excerto é de um amigo meu de Santiago, Emanuel Varela. Surgiu a propósito dos tristes e revoltantes últimos acontecimentos ocorridos na Ilha da Boa Vista - Morte da jovem Eloisa -, neste mês de junho de 2018, pelo que achei pertinente trazer à colação uma reflexão minha sobre crítica política, retirada do meu trabalho “Caminhando a Emisferianidade”.
Tenho verificado que um dos fenómenos ocorridos no seio da vida política é a ausência de ideologia dos filiados dos partidos políticos. Os filiados mais se identificam com os seus líderes, do que com a ideologia dos respetivos partidos; mais se identificam com as amizades criadas com alguém hierarquicamente bem posicionado na estrutura de um partido, em troca de um bom lugar na administração pública, após aquele partido tomar o poder. Mais nos deparamos com interesses em torno de pessoas politicamente bem colocadas no aparelho do partido e na hierarquia de empresas e da Administração Pública, do que em torno de ideologias ou de ideias válidas que possam contribuir para uma maior união das pessoas e um maior desenvolvimento da comunidade.
Este fenómeno tem vindo a descaracterizar espiritual e ideologicamente as pessoas, provocando no espírito dessas confusão sobre o que são questões pessoais, partidárias e ideológicas; ao invés de se tentar perceber as divergências políticas e ideológicas que ocorrem nas discussões entre os possíveis diferentes partidos de um país ou de uma comunidade e torná-las úteis para o bem comum, recebem essas divergências como ataques pessoais e insultos à sua dignidade, sem conseguirem ter a grandeza intelectual de olhar para as divergências como fonte de discussão para encontrar o caminho que interesse a toda uma comunidade.
Verifico igualmente que aqueles que não se identificam com nenhum partido político e que, por isso, têm o seu próprio modo crítico de olhar a coisa pública que, como o próprio nome diz é público, pertence a todos que se integram e se identificam numa comunidade e pretendem fiscalizar aqueles que a governam, é olhado pelo poder instituído e pelos partidos políticos como algo estranho a toda uma engrenagem já bem montada e oleada para que alguns grupos, que se arrogam os legítimos representantes de um povo e da verdade, possam manipular e a seu bel- prazer todo o movimento das gentes, ascender imoralmente nas esferas políticas e culturais mais delicadas de uma comunidade, para decidir da vida de um povo.
Outra realidade que também verifico é o da intriga intencional e maldosa de minar e ir contaminando toda a vida política e cultural de uma comunidade, que é o facto de as pessoas não perceberem ou não querem perceber que a discórdia na política nunca é pessoal, mas sim ideológica, de conduta ética, de obediência a valores filosóficos morais, éticos, justos, políticos e estéticos. A consequência desta dissonância existencial tem a ver com o facto de aquelas pessoas não possuírem condutas sustentadas, fundadas e justificadas por valores filosóficos, pelo que socorrem-se do mal dizer, de criar o caos comunicacional e linguístico entre as pessoas que na verdade se interessam e se motivam pelo progresso e desenvolvimento do espírito humano e de toda uma comunidade, para, deste modo, se destacarem e controlarem os objetos imediatos da sensorialidade.
Esta constatação faz-me concluir o cenário algo desprestigiante para os partidos que é o facto de que estes são nefastos para a comunidade em geral e para eles próprios, quando não percebem (aceitação) e não entendem (respeito) que a existência (compreensão) daquilo que é o mais necessário para a vida saudável e vigorosa de uma comunidade (tolerância) é a influência efetiva e ativa dos espíritos livres e críticos, pensantes e inovadores, desvinculados de qualquer ideologia dominante ou constante (assunção).
Com diz e bem António Sérgio a propósito da influência efetiva e ativa dos espíritos livres e críticos, “ (…) – a fiscalização dos homens que nos governam, não só por parte dos seus adversários, filiados nos partidos que não estão no governo (os quais são impelidos, por via de regra, a um ataque geral e sistemático, falho de imparcialidade e de justiça), mas pelo cidadão de boa vontade, não filiado em nenhum partido, sem sectarismo e sem paixão, e capaz de apoiar em certos casos, de contrariar em outros casos, o mesmo partido ou o mesmo chefe” [2].
Temos ainda um fator negativo que decorre da constatação de partidos ou da sua virtual influência. Vem-se denotando uma certa personificação do líder do partido; isto é, o partido como que passa a ter uma vida virtual e quem de facto vive, age, interage, manda e desmanda, cria e mata a ideologia, provocando vazio espiritual no povo, dita a sua conduta ou a desdita, é uma pessoa considerada líder. Líder de quem, pergunto eu? Só se for líder de si próprio; aí concordo plenamente, sem um mínimo desvio de dúvida, apenas com uma interrogação: quem tão afogada, ambiciosa e, muitas vezes, sonegadamente, persegue a vontade de governar outros, já se interrogou como se governar, não materialmente, primeiro, espiritualmente? É apenas uma pergunta que deixo! Claro que num cenário virtual do partido abafado pelo seu líder, apesar de tudo, o povo irá sempre, como responsável moral último, penalizar o partido do “Chefe”, que carregou consigo para a lama - com as suas condutas muito pouco de acordo a uma ética, justificada por valores ou princípios que sustentaram e sustentarão, com certeza, nos seus fundamentos -, um partido político.
Estas condutas não devem fazer misturar o trigo e o joio; essas condutas são enganadoras e perigosas. Sob o manto de uma ideologia partidária, que são sempre necessárias ao espírito humano, nem que seja para o espevitar, para o fazer interrogar-se, sentam-se, literalmente com o seu enorme rabo de presunçosa ignorância arrogante, preguiçosa e perversa, sobre as costas de um povo já cansado de trabalhar todos os dias o seu caminho, fazendo trabalhar agora para ele, e não para a comunidade em geral, em nome de uma ideologia partidária.
Com isto, não destrói apenas um partido, as suas mais eminentes e proeminentes figuras, como também os valores que justificam a vida daquela associação política; onde as palavras honra, civismo, educação, cultura, valores tomam um sentido em que são evitadas ou usadas e utilizadas de modo torpe, dúbio, sem nunca se perceber do que realmente se fala. Estas condutas são perigosíssimas, porquanto extravasando a vida interna do partido, tornam-se num sinal vivo e ativo de tendências totalitaristas, criando o caos no seio dos partidos e da comunidade em geral, com uma simples finalidade de fragmentar e dividir materialmente as pessoas e procurar provocar um genocídio espiritual e cultural.
Pois então totalitarismo! Mas não averguemos isso, o totalitarismo. Falemos antes e apenas de partido único.
Então todas aquelas circunstâncias e muitas outras, como por exemplo momentos históricos políticos próprios, como a independência de um país, ou mesmo porque, de modo imediato, parece que quase toda uma comunidade deseja aquele determinado político, podem levar a regimes políticos de partido único e/ou a da alternância entre dois partidos, abafando os restantes, parecendo que a única verdade e solução para os males humanos se encontram ali, naquele partido ou no seu rival, na roda de compasso binário da cadeira do poder (ou no jogo de ping pong em que a bola é o povo, o autêntico poder).
Antes de tudo um governante deve perguntar-se pelo Bem do povo e não o que é que o povo pode fazer para o seu bem.
Um governante deve sempre e primeiro de tudo trabalhar proficuamente a unidade e a união do povo a que pertence e que o elegeu, olhar para os partidos políticos e para aqueles que efetiva e ativamente são os espíritos livres e críticos, pensantes e inovadores, desvinculados de qualquer ideologia dominante ou constante, que podem influenciar o desenvolvimento e o progresso de uma comunidade.
O governante deve olhar para os seus adversários políticos como integrando um universo que conspira a favor do destino da sua comunidade e do seu povo e não como inimigos, ou inimigos pessoais. É pela diferença que se vai construindo a unidade, porque a unidade nunca existe. Como bem diz António Sérgio “(…) a omnipotência e o absolutismo são sempre origem de corrupção na própria alma de quem os exerce, indivíduos ou colectividades. Quem nos limita e nos modera é nosso auxiliar e benfeitor. O adversário, em suma, é o sal que nos impede de nos corrompermos”. [3]
Mas se assim não soubermos estar e conviver com o sal, então generalizar-se-ão atitudes e condutas destrutivas a tudo o que seja diferente, critique, se oponha, se interrogue e crie dúvidas a quem detém a governança política e cultural. Há a difusão e implementação de que a diferença e/ou a oposição são impertinentes, prejudiciais, são como “tumores, como excrescências, como bubões, que se torna urgentíssimo extirpar” [4].
Saibam estas identificáveis pessoas - mas camufladas pela poeira intensa, por elas provocada, da cisão e da fragmentação familiar, do grupo e da comunidade causadas, quando atirados violentamente ao chão, e pela perigosa envolvente intriga maléfica, em que enredam ou procuram enredar quem os rodeia contra aqueles que têm capacidade e coragem de criticar – que estão a destruir toda uma realidade existencial, amputar, obrigar um povo a ser perneta, a andar manco, coxo, quando na verdade é só completo que um povo se completa, se realiza.
Não se pode permitir que um povo ande manco - quando pode e deve andar sob as suas duas pernas, ao seu andamento próprio -, porque alguém simplesmente não quer, por ignorância arrogante e perversa, visão limitada ou mesmo nenhuma e puro egoísmo corrompido e corruptor, que o seu povo conheça o seu próprio caminho, caminhando de cabeça levantada, cara lavada e honrada.
Nunca uma realidade existencial vive e trabalha para uma pessoa, um grupo ou mesmo uma sociedade; é diametralmente o oposto: é toda uma sociedade, um grupo, as pessoas, uma pessoa que vive e trabalha para a realidade existencial.
E para que então o movimento seja o que é normal e natural nas sociedades é necessário sabermos, todos e em conjunto, viver em democracia; uma vez que entendo que o viver democraticamente, pode ser até uma tendência da natureza humana, é acima de tudo uma obrigação, um dever, da pessoa, do grupo e da sociedade, talqualmente o universo: parece haver lugar, espaço, pertinência e mais importante a necessidade de todos vivermos conjuntamente, em autêntica complementaridade. Quem me responde qual o compromisso que a Terra tem com a Lua? Quem puder responder à minha dúvida…
Falava-se então de democracia e do seu dever natural de reinar entre as pessoas como modo de responder melhor aos interesses gerais, à indispensabilidade de respeitar a liberdade e a liberdades, os juízos críticos e inovadores, “ (…) as contradições explícitas no mundo social, a luta constante de opiniões”. [5]
Neste seguimento, como que dando um último deslaço ao nó, devo referir que - querendo aqui transmitir a minha solidariedade e forte amizade a um Povo, neste caso concreto à família enlutada, que sofre no seu quotidiano com as incúrias governativas e com as desatenções preguiçosas de um Presidente da República - na verdade o atual Presidente de Cabo Verde e as sucessivas governanças do País foram e são um desencanto. Uma flor que murcha antes de florir!
No que a mim respeita, devo dizer publicamente, sem receio de ordem alguma, que depositei confiança no PR Jorge Carlos Fonseca para a mudança positiva, honesta politicamente e saudável moralmente em Cabo Verde - agindo como percussor esclarecido dos partidos políticos reinantes e da própria sociedade em geral - que ele foi a maior desilusão e desapontamento político que tive até hoje. Acreditei nele por ter sido meu Prof. de Direito, considerá-lo um espírito esclarecido, crítico e Político, acreditei que iria trabalhar proficuamente a unidade e a união do povo a que pertence e que o elegeu, olhar para os partidos políticos de modo pedagogo e para aqueles que efetiva e ativamente são os espíritos livres, críticos, pensadores e inovadores, desvinculados de qualquer ideologia dominante ou constante, que podem influenciar o desenvolvimento e o progresso de Cabo Verde. Dei-lhe a conhecer, por solidariedade, o meu pensamento sobre a nossa Emisferianidade, (ofereci-lhe o trabalho que realizei e participei no concurso Eduardo Lourenço), dei-lhe a conhecer as minhas investigações sobre o Crioulo (inclusivamente ofereci-lhe pessoalmente o meu livro Manifesto Crioulo), tratei-o como se de uma pessoa honesta, de boa índole moral, política e cultural se tratasse, e no fundo andou JCF sempre com reserva mental comigo. Aproveitou o balanço do relacionamento em linha, digital e virtual, sem ser capaz da virtuosa atitude e ação, para ir sabendo o que eu conhecia e pensava, fazendo de conta que estava muito interessado nas minhas “apresentações lectivas”. Inclusivamente nos tempos mais quentes e pouco éticos – como continua a persistir a falta de ética, quando poderá ser até ilícita - sobre a questão do crioulo, disse-me – hoje olho e parece que sonhei - que queria falar comigo sobre a questão História/Crioulo.
Enfim, para que vejam meus amigos e minhas amigas, sumariamente, a facada que eu recebi de traição, de deslealdade, de desonestidade intelectual, política, histórico-linguística e moral de JCF.
Em última e primeiríssima instância a facada é dirigida ao Povo, a todos os cabverdianos e kauberdianas e ao País, com consequências desajustadas e incoerentes no enquadramento destes, destas e do Arquipélago nos movimentos históricos internacionais das populações, das sociedades, da formação destas, bem como da afirmação geopolítica, cultural e social de todo um Povo, contribuindo, em muito, para a falta de união que reina de Barlavento a Sotavento, com Santa Luzia luzindo de espantos!
Senti-me como vítima de um conto do vigário. Foi como, salvo o devido respeito, e salvaguardadas as devidas distâncias, “entregar o ouro ao BANDIDO” ou ao inimigo...INCLUSIVAMENTE IDEIAS E IDEAIS...e substância para os seus tempos livres que devem ser muitos..., mas espero um dia repor as coisas, informando, revelando, explicando, confrontando-o e exigindo-lhe respostas que não são para mim, mas sim para o Povo de Cabo Verde. O atual mais Alto Magistrado, protegido e a coberto dos partido instituídos, deve achar que, por inerência à sua magistratura, por ter acesso direto aos poderes institucionais, como ao seu controlo por influência imediata ou mediatizada, sabendo que ao Povo é-lhe vedado e impedido tomar ciência e juízo sobre qualquer questão que lhe diga respeito, não pode andar a brincar ao esconde-esconde e ao faz de conta...
São estes comportamentos omissivos, distraídos, até negligentes ou mesmo dolosos que estão na raiz dos graves danos que a sociedade cabverdiana ao longo dos anos tem vindo a sofrer e a ser vítima de desgovernação em praticamente todos os seus setores essenciais, vitais e motrizes.
A distração, o descuido e a negligência do Governo e dos agentes da campainha aérea Binter-cv - imprudentes ao negarem o transporte à jovem Eloisa Correia, que faleceu no sábado último – revelaram apenas mais uma vez a coerência da ação governativa de Cabo Verde, ao longo dos anos, e que tem vindo a agravar-se indesejavelmente.
Continue-se o combate nas 10 Ilhas Atlânticas do meu Cabo Verde pela Justiça, pela Dignidade da Pessoa, pela Honestidade, pelo Respeito e pela Democracia! Pela Vida e pela ação!
José Gabriel Mariano
Buscâ toston
Rost mal amanhód
Rise ê um incómd
Mal disfarçod
Sombra de nuvem
Ki ê mód
Oia ausência d’um fidje humillhód
Na rua ki ka ta bai
Buscâ toston el tá bem
Afoga sê alma ki dja sai…
Pa infern!
Jôrafa
*
Gente Humilde (Garoto) - Baden Powell
Só nos próprios autos pode conter-se a verdade material dos encantos ou desencantos
Só nos próprios autos pode perceber-se a controvérsia dos autores
Na litigância atropelada dos espaços
Não alienar-nos dos autos
Entendê-los, recriá-los pelo perdão é fundamental para a percepção
Mas aí não pode haver assumpção d’ autos não próprios, mais exatamente alheios
Torcendo-os em semelhança perdoada
Cada auto contém a sua verdade material
Apenas aquela em que lhe está contida na sua inacessível intimidade
Por isso não alienar é o fundamento na medida certa que não deve implicar-se no alheio
Ser-se intrometido pode levar ao promíscuo devaneio
Atenção sempre devida
Não tem que ser medida, apenas devida
Só pelo perdão recriamos autos alheios
Perdoar não intromete, não interfere
Deseja vida
E perdoar é sinal de conceder mais vida: continuação sem rompimento com resposta desagradada, violadora da credulidade
Credo que não desaparece, não pode ofender
A compreensão do perdão é imposição imperativa
O movimento vivido não pára nem se pára
Apenas para o fingimento
A falta de perdão obriga na continuação com rompimento
Obriga ao combate servil da resposta vingativa
Subjugação da ofensa, p’la mágoa e pela zanga transferida noutro
Por um jogo infernal de sofrimento dialético
Sendo assim, autos alheios são detentores de seu livre arbítrio próprio
Refletirão no tempo da liberdade, e com seu arbítrio livre decidirão pela sua liberdade
Ou da sua falta
O perdoar com perdão existe em redor de cada um
Existe na cadência universal, é seu impulso de continuidade
Talvez o maior afastamento se prefigure
É o espaço dado à reflexão do arbítrio
Nem todos merecem a credulidade na alma humana
Apesar do que merecedores são da compreensão
Ao não haverem o credo merecido
Raphael d’Andrade,
[1] Inspirada no ensaio de António Sérgio, intitulado “O espírito dos partidos políticos”, in Ensaios, tomo III, pp. 160-166.
[2] Idem, p. 160.
[3] Idem, p. 162.
[4] Idem.
[5] Idem, p. 163.
Comentários