5 de julho, o nosso orgulho
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5 de julho, o nosso orgulho

Vencido o medo, a miséria, as epidemias, a ignorância, a fome e a seca, contamos hoje 17 885 dias de independência, livres do colonialismo, o que se traduz em 49 anos de uma nova relação entre os Estados de Portugal e de Cabo Verde, com uma diplomacia autónoma e equilibrada.

Quando o homem sentiu seu peito arder de desprezo, seus olhos se encharcaram, os punhos apertaram e assim as mãos se juntaram para uma jornada, cujos caminhos deram a julho de 1975.

O estádio da Várzea, ainda que empoeirado, ouviu as vozes e assistiu ao descer e subir das cores, enquanto o povo marchava ao ritmo da Tabanka e as palavras de ordem a soarem livremente em crioulo. O sol, o suor, a esperança de construirmos o verde... E o mar, dar de comer ao homem, pondo fim aos séculos de dor, reconhecendo a terra dos nossos avós, fez o sentimento nacionalista brotar e o Caboverdiano renascer.

Foi entoado de pés junto e cabeça erguida o poema da libertação. Concluímos assim um percurso que pelo sacrifício e objetivos, era previsível conservar e fazer vincar entre os espinhos e a seca persistente do Cabo Verde saeliano, de um povo novo e simples, descalço da cabeça aos pés, uma Nação virgem e com tudo por fazer. O processo já era irreversível, o destino estava traçado e a orientação era TRABALHO, ORDEM E PROGRESSO. E nesta sequência, Tarrafal, ainda com o campo de pedra e cal, as grades já moldadas pelo fogo da coragem, viram suas celas novamente ocupadas pelos filhos que tentaram ao rompimento da ordem, numa fase ainda embrionária e frágil do processo. Era uma questão de escolha: Ou abrandavamos para lançar o sacrifício e seus ideais como cinzas ao mar, ou tomavamos posição para a afirmação de nosso independência.

Vencido o medo, a miséria, as epidemias, a ignorância, a fome e a seca, contamos hoje 17 885 dias de independência, livres do colonialismo, o que se traduz em 49 anos de uma nova relação entre os Estados de Portugal e de Cabo Verde, com uma diplomacia autónoma e equilibrada.

Assim, fica concluída a primeira fase e parte da segunda fase do objetivo da luta que Amilcar Cabral teorizou:
A primeira fase consistia em romper com os princípios coloniais implantados no nosso território e abusivamente aplicados sobre nosso povo e em consequência afastar os colonialistas. Esta fase culminou a 5 de julho, com um interregno de segurança que exigiu e passou a merecer atenção repressiva de modos a manter o factor ORDEM, como já vimos atrás e que alienados inconformados, ainda insistem em criticar, enves de aceitarem como parte do processo de uma luta orientada por objectivos nobres e patrióticos. Tanto é que hoje aqui estamos todos aplaudindo nosso percurso, aplicando o factor TRABALHO, para alcançar o último factor- o progresso.

A segunda fase da luta, teorizada por Amilcar Cabral, era quebrar as barreiras que nos abrissem os horizontes para olharmos para o "novo mundo". Consolidar a independência, aprimorar a democracia, garantir a segurança alimentar e a felicidade do nosso povo. Este é o fruto do progresso.

5 de julho de 1975 - 5 de julho de 2024
A questão que devemos levantar é como estamos, que fragilidades e ameaças ainda persistem na estrada do progresso?

De entre os fatores identificados, quais deles são autoctones e quais são exógenos?

Como estamos a empenhar-nos para resolver os autoctones e como estamos a gerir os exógenos.

A cada ano um ano mais e a cada aniversário uma reflexão obrigatória.

Entretanto, uma verdade fica eternamente dissolvida nas águas e no pó das ilhas: 5 de julho é o nosso ORGULHO.

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