1. Quando se fala da "data mais importante" para um país, quer dizer que só pode haver uma única data. Se não, falar-se-ia então de um CONJUNTO de datas importantes e não da "mais" importante de "todas". No caso de Cabo Verde, essa data é o dia 5 de julho de 1975, dia em que o país conquistou a sua independência, deixando de ser COLÓNIA de Portugal. Nenhuma transição é comparável com a da passagem de "colónia" para "país independente"! Nenhuma. Nem o dia da decisão do fim do partido único; nem a data da realização das primeiras eleições multipartidárias; nem a data da segunda alternância democrática, considerada por muitos como o sinal maior da entrada na maturidade democrática;
"Compreende-se a aflição de um conjunto de cidadãos em querer fazer com que o “13 de janeiro” tenha um lugar de destaque em alguma lista. É que esse dia constitui uma espécie de pedaço de madeira ao qual um náufrago ideológico se agarra desesperadamente....É chegada a altura para perguntar: é do conhecimento público alguma obra de referência que tenha sido publicada pelo Movimento Para a Democracia (MPD)? Algum calhamaço que seja que contenha o esboço do pensamento desse partido político? Não existe nada. Vai daí, todo o esforço obsessivo em manter o 13 de janeiro com a cabeça fora de água para não se afundar e desaparecer enquanto mero símbolo";
2. A ideia de se criar uma LISTA de quatro ou cinco datas importantes para Cabo Verde é apenas uma tática - legítima e democrática - para se poder despistar e criar a possibilidade para se meter na lista o “dia 13 de janeiro de 1991”. Compreende-se a aflição de um conjunto de cidadãos em querer fazer com que o “13 de janeiro” tenha um lugar de destaque em alguma lista. É que esse dia constitui uma espécie de pedaço de madeira ao qual um náufrago ideológico se agarra desesperadamente. Faltou-lhes um Amílcar Cabral que renegaram desde a primeira hora! É chegada a altura para perguntar: é do conhecimento público alguma obra de referência que tenha sido publicada pelo Movimento Para a Democracia (MPD)? Algum calhamaço que seja que contenha o esboço do pensamento desse partido político? Não existe nada. Vai daí, todo o esforço obsessivo em manter o 13 de janeiro com a cabeça fora de água para não se afundar e desaparecer enquanto mero símbolo;
3. A ausência de qualquer obra ideológica de referência do MPD explica-se também pelo facto de quase a totalidade dos fundadores desse movimento terem estado associados, de forma direta ou indireta, ao partido até então no governo, ocupando lugares de topo na máquina do Estado até às vésperas do dia da abertura ao multipartidarismo. Abertura efetuada pelo próprio Governo do PAICV, em 19 de fevereiro de 1990 – com quase um ano de antecedência em relação à data marcada para as primeiras eleições multipartidárias. Portanto, esses fundadores não tinham dedicado tempo, nem efetuado investimento num percurso de reflexão sobre a construção da democracia nas suas vidas, a ponto de que já tivessem produzido alguma obra de relevo sobre a matéria. Nem rabiscos, nem rascunhos. É claro que poemas e letras musicais são importantes, mas convenhamos que são enquadrados mais numa categoria de testemunhos de criação cultural com reflexos do contexto e menos na de obras de referência para a construção de uma nova sociedade político-partidária. Pela sua génese oral, entende-se muito a superficialidade do espírito democrático que hoje se revela nas medidas e posicionamentos contra a greve, a favor da perseguição, contra concursos públicos e a favor do silenciamento de jornalistas;
"...a tática é diluí-la e equipará-la a outras datas, entre as quais o "13 de janeiro". Assim, matam-se dois coelhos de uma cajadada: apouca-se aquela e eleva-se esta. Sem qualquer pudor em vilipendiar a história da Nação cabo-verdiana e deturpar de vez as mentes mais juvenis e menos preparadas. Tudo legítimo e democrático, bem entendido".
4. Assim se explica esta roda viva atiçada pelo MPD logo que regressa ao governo, criando uma sessão solene na Assembleia Nacional e multiplicando-a nas câmaras municipais. Tudo vindo juntar-se a corridas de atletismo cada vez mais longas e subdivididas em categorias de quilómetros e géneros, aumentado o estardalhaço e aproveitando o facto de o PAICV ter acompanhado passivamente, durante os últimos 15 anos, o crescimento dessa narrativa de "lista de datas importantes". Vai-se assistir agora o contrário. Só não se vai substituir o "5 de julho" porque não há como fazer isso. As datas não são hinos, nem bandeiras. Logo, não são substituíveis por decreto. Então, a tática é diluí-la e equipará-la a outras datas, entre as quais o "13 de janeiro". Assim, matam-se dois coelhos de uma cajadada: apouca-se aquela e eleva-se esta. Sem qualquer pudor em vilipendiar a história da Nação cabo-verdiana e deturpar de vez as mentes mais juvenis e menos preparadas. Tudo legítimo e democrático, bem entendido.
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