Um grupo de ativistas, que em 2015 ocupou o ilhéu de Santa Maria na Praia contra a construção do hotel-casino "Djéu", propõe um pólo de investigação ligado ao mar, após abandono do projeto por parte dos investidores macaenses.
“O ilhéu devia ser uma extensão das universidades para estudar o nosso mar, que é muito vasto”, sugeriu Adérito Tavares, um dos membros do movimento social "Korrenti di Ativista", que em agosto de 2015 acamparam no ilhéu de Santa Maria, defronte da cidade da Praia, em protesto contra a construção do empreendimento turístico que estava previsto para o local.
A primeira pedra para a construção do empreendimento foi lançada em fevereiro de 2016, para estar pronto em três anos, mas depois de sucessivos adiamentos, esta semana o grupo Macau Legend Development anunciou que decidiu abandonar o projeto ligado ao jogo, para apostar em iniciativas ligadas ao entretenimento e turismo de iates.
Na altura, os ativistas defendiam que o empreendimento, promovido pelo empresário David Chow, que era também cônsul honorário de Cabo Verde em Macau, iria servir sobretudo para trazer para o país “lavagem de capitais, prostituição e turismo sexual”.
Depois que as obras arrancaram, Adérito Tavares disse à Lusa que o grupo não queria esse desfecho prematuro, mas sim a sua conclusão, ou então que o espaço continuasse a ser de retiro e de lazer para todos os praienses, e não só.
O ativista social recordou que o ilhéu de Santa Maria era um lugar de refúgio da correria da cidade, principalmente dos mais jovens, e mantém a ideia de que o projeto seria o “reforço do capitalismo” e do consumismo na capital do país.
O protesto aconteceu dias depois de o empreendimento ter sido apresentado na Praia, num investimento de 250 milhões de euros, ocupando uma área de 152.700 metros quadrados, que inclui o ilhéu de Santa Maria e parte da praia da Gamboa.
O representante do movimento social garantiu que a luta não acabou e que os ativistas praienses se vão agora organizar para terem uma opinião conjunta sobre uma alternativa para o espaço.
“Muita gente pensou que fomos ocupar o ilhéu à-toa, mas não. Analisámos o que se estava a passar, a história do ilhéu, o impacto do investimento e o retrocesso que iria ter em todo o trabalho social que foi feito pelo nosso grupo e por outros da cidade da Praia”, recordou.
O movimento "Korrenti di Ativista" é uma organização não-governamental cabo-verdiana que junta associações que intervêm junto das crianças e jovens dos bairros mais desfavorecidos da cidade da Praia.
Na altura, além deste movimento, a construção foi contestada por vários quadrantes sociais, entre eles um grupo de 12 cientistas e paleontólogos coordenados pelo Instituto Gulbenkian de Ciência, de Portugal.
Orçado em 250 milhões de euros, o complexo era o maior empreendimento turístico de Cabo Verde na altura, incluía hotel com 250 quartos, já construído, mas fechado, marina, centro de convenções, casino, piscina, restaurantes e bares e uma ponte para o ilhéu, também construída.
O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, anunciou na quinta-feira que o Governo vai reverter a concessão, que era de 75 anos prorrogáveis por mais 30, e depois procurar outro destino para o empreendimento, que ocupa uma área de 152.700 metros.
Numa entrevista à televisão de Hong Kong TVB, transmitida na noite de quarta-feira, o presidente e diretor executivo da Macau Legend Development, Li Chu Kwan, anunciou que o grupo pretende encerrar as operações tanto em Cabo Verde como no Camboja até 2025.
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