Do sonho de adolescente de dar volta ao mundo à vela à realidade, dois irmãos portugueses meteram-se num pequeno veleiro de seis metros e, quais Fernão Magalhães dos nossos dias, desejam chegar “ao fim do mundo”.
“Aportar ao Mindelo é a primeira pequena parte da viagem, na mesma rota da de circum-navegação do navegador português”, declarou à Inforpress o mais velho dos dois irmãos de Vila Real de Santo António, Algarve, Portugal, José Viegas, 35 anos, na Marina do Mindelo, sentado ao lado irmão Rui Viegas, 27 anos.
“Isto é algo que já pensava há muitos anos, em criança fiz aulas de vela, e desde os 18/19 anos tinha a ideia de fazer a volta ao mundo”, completou José Viegas, que já foi agente da polícia de segurança pública portuguesa, e ficou radiante quando o irmão Rui, oito anos mais novo, se disponibilizou para o acompanhar nesta aventura, no ano em que se comemora o quinto centenário da viagem de circum-navegação de Fernão Magalhães.
O veleiro tem duas quilhas, seis metros de comprimento, um mastro de duas velas e, entre outros meios, utilizam os telemóveis com um programa de navegação, um rádio VHF, que recebe o sinal AF dos outros navios, mas não emite o do veleiro, e uma rádio baliza de pedido de socorro em caso de naufrágio ou problema grave de saúde e que quando accionada supostamente em 48 horas aparece alguma ajuda.
Desde que saíram de Vila Real de Santo António, no dia 23 de Novembro de 2021, passaram por Marrocos (Rabat, El Jadida e Safin), Lanzarote (Ilhas Canárias), Cabo Bojador e ilha do Sal, percorrem 1.550 milhas e demoraram 71 dias até alcançar São Vicente.
Nas primeiras paragens que efectuaram, só saíram do barco nas ilhas Canárias, 23 dias depois da partida, porque em Marrocos não lhes permitiram sair do barco.
“De Marrocos fomos para Lanzarote, nas ilhas Canárias, e aí sim podemos sair do barco, passamos lá o Natal e a passagem de ano, e no dia 02 de Janeiro saímos para vir directo à ilha do Sal”, contou José Viegas que, no entanto, na primeira noite, teve “imensas dores no corpo, dores de gripe”, e quando pararam no Cabo Bojador, por opção, os testes deram positivo para covid-19.
Uma semana depois partiram rumo a ilha do Sal e, depois de São Vicente, irão cruzar o Atlântico rumo ao Caribe ou ao Brasil – “ainda não está completamente decidido” – e depois Uruguai, Argentina, entrada no Canal de Magalhães, seguir até ao Chile e dali cruzar para a Ilha de Páscoa, percorrer o arquipélago da Polinésia Francesa até a Austrália, norte de Austrália.
“Aí vai-se abrir de novo uma série de hipóteses – todos os países que estão a norte da Austrália (Timor, Indonésia, quem sabe Índia) ou ir directamente do norte de Austrália a Madagáscar ou Moçambique, mas o trajecto ideal, se calhar, é navegar mais para dentro do Atlântico, mais perto do Brasil ou então ir perto do Caribe para voltarmos a Portugal”, indicou José Viegas.
E este veleiro vai aguentar, questionamos, ao que o navegador respondeu que “apesar de pequenino” tem-se “comportado bem” e que o teste vai ser agora na travessia do Atlântico.
“Se tiver uma oportunidade que não seja de custo elevado admito a hipótese de trocar de barco porque se por um lado reconheço que é possível com este barco chegar ao Canal de Magalhães, por outro é muito mais duro do que num barco de dez metros, por exemplo, com outro tipo de conforto e que aguenta os mares”, reconheceu.
Os dois irmãos entraram nesta aventura a expensas próprias, “sem qualquer tipo de patrocínio”, porque não viram com bons olhos a ideia do compromisso com um patrocinador, a não ser que ele quisesse “simplesmente patrocinar, sem contrapartidas”.
“Isto porque a viagem que estou a fazer é minha e posso definir a rota como bem me apetecer e a meteorologia permitir, a minha ideia é ir ao Canal de Magalhães, mas não há um plano tão rígido que não se possa alterar, daí a minha preocupação com o que o patrocinador quereria de mim e saímos assim, por nossa conta”, concretizou.
Dizem que os recursos financeiros “são escassos” e que a ideia é trabalhar em terra nos locais onde vão fazendo escalas, “para ganhar algum”.
O que, lamentam, não aconteceu em São Vicente desde que aqui chegaram, no dia 3.
“A nossa intenção era poder trabalhar em qualquer coisa até o próximo mês de Outubro, que era a data que queríamos ir para o Brasil, mas quando chegámos aqui percebemos que não é assim tão fácil procurar um trabalho”, lamentou Viegas, pelo que decidiram partir mais cedo, assim que a meteorologia o permitir.
“Nesses dias está demasiado vento para iniciar a viagem, era bom ter esse vento pelo caminho, seria o ideal, mas vamos esperar mais uns dias”, lançou a mesma fonte.
Questionado se a rota que deixaram para trás lhes desafiou os limites, José Viegas foi peremptório, “ainda tem de piorar muito para ficar mal”, ou seja, exceptuando os dois primeiros dias de viagem, “os mais difíceis até agora”, não dão sinais de cansaço e muito menos de receios de qualquer tipo neste desafio aos perigos do mar aberto.
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