O Governo não pode demonstrar falta de foco estratégico e da orientação suficiente no combate a esta pandemia e nem pode cometer mais erros de governança. Por isso, precisa urgente de um modelo de governança eficiente, para que consigamos combater e vencer o Covid 19. É preciso unir a nação em torno das soluções para o combate à pandemia em todo território nacional. A hora é de passar do discurso à prática e tomada de medidas assertivas.
Há dias ia para o meu labor diário. Em uma das rotundas da Cidade passei por um camião autotanque com capacidade para cerca de 10 a 12 toneladas de água, estacionado na berma da estrada, fazendo rega, por alagamento, de jardinagem.
Ao chegar a uma das escolas da capital deparei me com um movimento estranho de vaivém de crianças, todas desesperadas. Observei um pouco aquele frenesim e verifiquei que algumas dessas crianças estavam à procura de água para beber e outras à busca de água para lavar as mãos. Na verdade, não havia água na escola. Um estabelecimento de ensino que alberga milhares de pessoas, em pleno mês de maio.
Quando regressei à casa, assisti no telejornal, um ministro afirmando que o governo deve reunir na próxima semana para decidir sobre a possibilidade de, entre outras, suspender as aulas. De salientar ainda que pude constatar, no mesmo dia, um dos sindicatos a defender a mesma medida. Tudo isso demonstra a impotência e o desespero ante o cenário cabo-verdiano sobre o avanço do coronavírus, cujas alternativas para o seu combate já não satisfaz.
Confesso que fiquei assustado e nem a informação veiculada pelo Ministro de Educação de que o fechamento das escolas a nível nacional seria um último recurso me tranquilizou, isto porque este governo já me habituou, infelizmente, à tomada de algumas medidas supersónicas para, depois, justificar toscamente, da sua eficácia. Desta vez, pelo menos, o ministro parece ter dado sinal de algum aprendizado advindo da anterior paralisação e da mágica aula online, cujos pergaminhos abstenho aqui de reproduzir.
Se, em março de 2020, tinha sido contra o modo relâmpago como as aulas foram suspensas e a forma “tolobasca” como se inventou as aulas online, para além de ligeireza no anúncio de algumas pseudo condições para o êxito das mesmas, que foi até às promessas de aquisição de rádios, pilhas, tablets, computadores, televisores, internet etc. etc. desta vez, sou ainda bem mais a desfavor pelo fato de estarem a faltar cerca de dois meses para o término de um ano letivo atípico, onde o processo ensino-aprendizagem deva ter sofrido o maior solavanco desde haja memória neste País independente.
Assim, apelo encarecidamente ao governo que faça do seu discurso de que “a luta contra essa pandemia constitui tarefa de todos”, uma prática onde este “todo” vá para além dos professores, alunos, corpos diretivos das escolas e pessoal administrativo.
O governo sabe que precisa enfrentar esta realidade de outra forma. Também sabe que, se preciso for, deva criar um conselho de gestão de pandemia, que funcione eficazmente, para poder salvar o ano letivo e sair desta crise pandémica. Se a luta é de “todos”, porque não incluir o poder autárquico, o legislativo e todas as suas áreas fundamentais para além dos atores sociais?
Como se entende que um autotanque da Câmara Municipal da Praia esteja fazendo regra por alagamento nas avenidas da Cidade debaixo de um sol abrasador, enquanto nas escolas falta água para milhares de estudantes e funcionários fazerem a higiene pessoal?
Se a luta é de todos, e se as escolas constituem locais de risco de transmissão porque não incluir outras instituições no apoio às escolas em vez de cogitar a possibilidade de encerramento das aulas?
Gostaria de deixar aqui alguns exemplos de instituições que deveriam e poderiam ser parceiras das escolas nessa luta, começando por destacar:
O Ministério da Saúde que não é vista nas escolas. Esse ministério deveria estar presente para, em devido tempo, rastrear os alunos, professores e funcionários com quem os infetados tiverem contato; o Ministério da Família e Inclusão Social que deveria ser um dos protagonistas principais, senão o “colchão social” nesse combate junto das escolas; o NOSI; a Câmara Municipal; a ASA; a ADS; a Electra; a CVTelecom; a Cavibel; a Tecnicil; a Inpharma; os privados e as embaixadas de todos os países aqui residentes, apenas para citar os que detêm camiões autotanques que possam colaborar no fornecimento de água, um bem essencial neste combate.
Não creio que um governo recém-saído das eleições não tenha por estratégia a conquista da confiança da população. Do mesmo modo, não acredito que não quer levar em consideração a sensibilidade psicológica que esta doença está a ter no seio dos professores, pais, encarregados de educação e sociedade no geral.
O Governo não pode demonstrar falta de foco estratégico e da orientação suficiente no combate a esta pandemia e nem pode cometer mais erros de governança. Por isso, precisa urgente de um modelo de governança eficiente, para que consigamos combater e vencer o Covid 19. É preciso unir a nação em torno das soluções para o combate à pandemia em todo território nacional. A hora é de passar do discurso à prática e tomada de medidas assertivas.
Deixo aqui, uma vez mais um veemente apelo ao governo deste País:
Não interrompa as aulas!
Encontre outras estratégias para enfrentar esta realidade crescente que é o Covid 19.
Planifique processos permanentes designadamente testes e rastreios contínuos aos que trabalham na educação até que possam ser vacinados.
Todos, mas todos devem se unir para esse árduo e vigilante trabalho. Vamos todos esforçar para conter a expansão do novo coronavírus e a manutenção das medidas preventivas.
Um bem-haja a todos!
Praia, 8/5/2021
* Professor Universitário
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