• Praia
  • 29℃ Praia, Cabo Verde
Prisão de Ribeirinha, a Bastilha de Cabo Verde! (iv)
Ponto de Vista

Prisão de Ribeirinha, a Bastilha de Cabo Verde! (iv)

Estas ilhas, no meio do mar, assemelham-se a uma prisão de céu aberto, onde em consequência de uma administração pública vincada no compadrio e no amiguismo, pondo em causa a liberdade do cidadão, fazem com que mais de vinte e cinco mil cabo-verdianos padecessem da depressão mental (é a estatística que diz isso), ocupando Cabo Verde a segunda posição do país mais deprimido em Africa!

 “Porque não há coisa encoberta que não haja de manifestar-se, nem coisa secreta que não haja de saber-se e vir a luz;”

Lucas 8:17

 

CARTA DO DR. AMADEU OLIVEIRA ESCRITA EM 01 DE OUTUBRO DE 2021, NA CADEIA DE RIBEIRINHA, EM SÃO VICENTE:

Caro amigo Amadeu Oliveira,

Espero que haja no seu espirito uma renovação interminável da força, do foco, da luta a favor dos náufragos da glória que habitam estas Ilhas;

Perfazem, hoje, 130 dias desta injusta privação da liberdade, mas pelo conteúdo da carta que nos endereçou, sinto que a força e a certeza nos fundamentos desta luta é cada vez mais forte na sua alma;

Tenho fé que a luta que empreendeu jamais será esquecida e a história há de registar o sacrifício que fez em nome de uma justiça limpa, uma das tarefas fundamentais de um Estado de direito.

Aliás, a essência das tarefas de um Estado nada mais, nada menos é senão a justiça. Se o Estado falhar neste desiderato, podemos estar a caminhar para aquilo que é chamado de “Estado Falhado”.  

Com efeito,

diante desta injusta prisão e quando nos céus de Cabo Verde flutua a bandeira azul e lembro-me do diapasão das letras do hino nacional da República de Cabo Verde cujo estrofe é: “Canta, irmão, canta meu irmão que a liberdade é hino e o homem a certeza”

E que liberdade em Cabo Verde, a liberdade em que a certeza é manter um homem preso por delito de opinião?! O homem, a certeza, e que certeza? A certeza de termos um preso político chamado Amadeu Oliveira!

Parece que o hino nacional foi escrito por quem estivesse pensando num povo que habitasse um outro espaço e não as ilhas de Cabo Verde.

Que liberdade!? Estas ilhas, no meio do mar, assemelham-se a uma prisão de céu aberto, onde em consequência de uma administração pública vincada no compadrio e no amiguismo, pondo em causa a liberdade do cidadão, fazem com que mais de vinte e cinco mil cabo-verdianos padecessem da depressão mental (é a estatística que diz isso), ocupando Cabo Verde a segunda posição do país mais deprimido em Africa!

Que liberdade!? A justiça é o que é, uma justiça morosa, com milhares de processos a caírem em prescrição, uma justiça cuja dúvida de lisura impende sobre os agentes! Ninguém é livre sem o amparo da justiça!

Que liberdade!? Na administração pública, o homem e a sua dignidade são aniquilados pelos Governantes desta terra, pois a carreira profissional baseada na competência, no mérito e no esforço são conversas da campanha eleitoral, na prática impera o cartão da militância partidária, com avultados custos ocultos na Administração Publica, perda da qualidade dos processos, desmotivação do pessoal e fraco índice de aprovação do cliente \ cidadão! 

O trabalho dignifica o homem, em Cabo Verde este princípio está comprometido e a certeza do homem cabo-verdiano está em ser submisso ao partido político vencedor das eleições legislativas, pois a competência, o mérito e o trabalho sucumbiram perante os interesses partidários! É esta liberdade condicionada que é oferecida ao povo das Ilhas!

Assim: “Canta, irmão, canta meu irmão que a liberdade é hino e o homem a certeza” é uma panaceia, um imperativo categórico para iludir o povo das ilhas de que Cabo Verde é um país democrático apenas porque “elege” os governantes, quando a prática diária dos representantes do Estado assemelha-se a uma cruel ditadura, que manda prender quem denuncia atos de corrupção!

“Canta, irmão, canta meu irmão que a liberdade é hino e o homem a certeza”, pois Cabo Verde não é Afeganistão e nem é governado pelos talibans, mas aqui usamos a tortura psicológica que muitas vezes é mais brutal que uma pistola, deprimindo milhares de cidadãos cabo-verdianos!

“Canta, irmão, canta meu irmão que a liberdade é hino e o homem a certeza” e o Dr. Amadeu Oliveira lhe agradece atras das grades da PRISAO DE RIBEIRINHA, em São Vicente, por ter denunciado atos de corrupção!

Amândio Barbosa Vicente     

Praia, 26 de novembro de 2021.

 

Partilhe esta notícia