• Praia
  • 29℃ Praia, Cabo Verde
Novos tempos, velhos paradigmas   
Ponto de Vista

Novos tempos, velhos paradigmas  

De facto, o nosso “desenvolvimento” tem sido feito sob muitas e descabidas exigências desses “parceiros”, exigências essas a que Cabo Verde não tem tido em troca qualquer reciprocidade. E se isso não parar, sobretudo em relação a países cuja estratégia de expansionismo é hoje clara e obviamente conhecida, de nada valerá qualquer filosofia de “liberdade e democracia”, com vandalização de estátuas e monumentos colonialistas, lutas por igualdade de direitos, oportunidades, etc, pois teremos nós próprios submetido o país à neocolonização, por forças bem mais poderosas do que as anteriores, e desta vez sem poder invocar qualquer prerrogativa de arbitrariedade ou de invasão.

Parece estar a vingar o novo formato de "Investimento Direto Externo", que é assegurar, por investidores sem dinheiro, que o Governo de Cabo Verde, país pobre, dito PDM, seja por via de  “privatização” de empresas públicas ou "comprando” (quase de graça) e pelo poder de influência daquele, através de avais cuja preocupação está muito longe do velho e arrematado chavão de “manter empregos” garantem, de maneira célere e ligeira àqueles “investidores externos” o acesso a financiamento.

E enquanto subsistir a inércia do povo em deixar que governantes inumanos, megalómanos e egoístas, sem qualquer compromisso com o país real e com o futuro do país, continuem a utilizar o poder ou traficar influência até conseguir alienar completamente o país e seus recursos, a economias estrangeiras, privando cada vez mais os seus próprios cidadãos, (que serão não mais do que cópias rascas de sem-terras, a quem de cidadania só restarão passaportes, CNI e Certidão de nascimento para comprovar a origem) e de um empresariado nacional, sobretudo PMEs, de terem acesso aos mecanismos que os permita alavancar negócios e criarem riqueza, esse quadro vai piorando todos os dias, com exigência ridículas e critérios proibitivos para a obtenção de crédito a esse empresariado.

O governo vai fazendo cada vez mais concessões, de recursos haliêuticos, de Gestão, de Administração, de terras e de acesso a financiamento a empresas estrangeiras, retirando apenas com base em “valores e princípios” tão voláteis e imediatos como o dinheiro, via “apoios orçamentais” contratos de empréstimos concessionais”, acordos do arco-da-velha que nem mais lembram ao próprio diabo, para a construção de hotéis, resorts, etc., e outros “investimentos” cuja finalidade possa de facto dar uma ideia muito numérica do crescimento do país, como um PIB aparentemente robusto, sem qualquer reflexo no IDH, por conseguinte sem quaisquer melhoria reais para as negligenciadas e recrudescentes condições de vida da grande franja da população, que é a mais desfavorecida, escasseando já a manutenção de uma das poucas alegrias que ainda lhe pudesse restar, como por exemplo o acesso a praias de mar, cuja tendência, com a ocupação das orlas marítimas por aqueles "investidores" vem implicando na prática a priorização aos hóspedes, em detrimento do cidadão comum.

De facto, o nosso “desenvolvimento” tem sido feito sob muitas e descabidas exigências desses “parceiros”, exigências essas a que Cabo Verde não tem tido em troca qualquer reciprocidade. E se isso não parar, sobretudo em relação a países cuja estratégia de expansionismo é hoje clara e obviamente conhecida, de nada valerá qualquer filosofia de “liberdade e democracia”, com vandalização de estátuas e monumentos colonialistas, lutas por igualdade de direitos, oportunidades, etc, pois teremos nós próprios submetido o país à neocolonização, por forças bem mais poderosas do que as anteriores, e desta vez sem poder invocar qualquer prerrogativa de arbitrariedade ou de invasão.

Contrariamente a todos estes factos, a falta de mecanismos de responsabilização política em Cabo Verde tornará possível á novel “liderança burguesa” vender e alienar o país por tuta e meia aos neocolonizadores, sobretudo um cuja expansão, lenta e progressiva embora, vai avançando pelo mundo inteiro, em especial a áfrica! Esses governantes, irão passar à reforma à grande e à francesa, sem viver com as consequências de suas decisões económicas e financeiras que atrelam o país a um futuro obscuro, mergulhando as próximas gerações num regime de neo-esclavagismo, dada a tendência para se estender a idade laboral, as horas de trabalho e do desaparecimento sistemático do Estado Social, tudo para pagar a fatura pela sua inumanidade, egoísmo e ambição desmedida.

Enquanto isso vamos assistindo a tudo, embalados, alheios e extasiados pelo fenómeno tranka-fulha, impávidos e serenos, como se não fosse, literalmente, da nossa conta.

 Artigo publicado pelo autor no seu perfil do Facebook.

 

Partilhe esta notícia