Ponto de Vista

O artigo publicado no jornal online Santiago Magazine, de 28 de dezembro, intitulado Narcotráfico. Ministério Público investiga ministro Paulo Rocha por homicídio agravado veio a provar que eu e o Comandante Alves tínhamos razão de exigir esclarecimentos sobre a execução de um cidadão na via pública, com arma de guerra, pelas autoridades deste país. Também, o mesmo artigo, veio a pôr a nu, até prova em contrário, a pior estirpe de ministro da história de Cabo Verde independente. Na verdade, os maiores escândalos havidos na Polícia Nacional, desde a sua criação, aconteceram durante o seu reinado.

Porquê que um ministro, com este currículo, se mantêm amarrado ao primeiro-ministro?

As acusações gravíssimas constantes no jornal, noutras paragens onde um membro do governo exerce a função pública com desapego, com dignidade, com respeito para com os seus pares, mas também onde o 1º ministro tem pulso e controlo sobre os membros do seu executivo, já teria acontecido uma das duas coisas: o ministro já teria pedido a sua demissão para lavar a sua cara ou então o Sr. primeiro-ministro já o teria demitido. É assim nos países civilizados e assim acontece no nosso país colonizador, Portugal.

Cabo Verde é um país MUITO peculiar. Um órgão de comunicação social traz uma acusação gravíssima contra um membro do governo, com fontes identificadas, no entanto não aparece nenhum jornalista com a coragem suficiente para confrontar o visado; confrontar a ministra da justiça que tutela a polícia judiciária que é acusada de forjar provas para executar um cidadão; confrontar o primeiro-ministro que se mantém amarrado ao ministro acusado; nem ouvir sua Excelência o Presidente da República sobre o teor de tais acusações.

A nossa comunicação social acha que a manchete destes dias é a retoma dos voos da TACV. Compara essa retoma de voos com a primeira travessia aérea do Atlântico sul feita em 1922 pelos portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Mesmo a organização do Estado com responsabilidade na defesa dos direitos humanos primou pelo silêncio durante todo esse tempo.

A permanência do atual ministro à frente da Polícia Nacional é um vexame à classe, mancha todo o executivo, o partido no poder, o Movimento para a Democracia e desprestigia o país.

Com os novos dados vindos a público, espero que a justiça seja célere, acautelando eventual fuga para que não venhamos a ter o nosso “João Rendeiro” e consequentemente vir a pedir a sua extradição.

O que Paulo Rocha terá eventualmente oferecido ao primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva ou o contrário é um mistério, para que apesar de todos os escândalos acontecidos desde a sua nomeação, em 2016, continuarem lapidu um ao outro, o tempo a seu tempo responderá.

Praia, 29 de dezembro de 2021.

Elias Silva