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Os equívocos de Paulo Veiga
Ponto de Vista

Os equívocos de Paulo Veiga

...antes de finalizar as suas confabulações, Paulo Veiga assume a capa de Inquisidor-mor e coloca o Presidente da Câmara da Praia, Francisco Carvalho, na qualidade de inimigo número um da Democracia e do Estado de Direito, acusando-o de fazer apologia das milícias e dos tribunais populares. No entanto, um bom entendedor, facilmente, estará de acordo com Carvalho, pois com o banimento das milícias e dos tribunais de zona, sem que fossem criadas quaisquer outras alternativas (Ex: Policiamento de proximidade, no verdadeiro sentido do termo, extinção das Casas de Direito) gerou-se um vazio, com consequências nefastas e que se repercutem até hoje.

Causou-nos alguma estranheza o discurso proferido, ontem, na Casa Parlamentar, pelo Líder Parlamentar do Movimento para a Democracia (MpD), Paulo Veiga, alusivo ao 13 de janeiro.

É que, na sua intervenção, Veiga fez questão de fazer tábua rasa do marco fundacional deste país, o 5 de julho de 1975, data da independência nacional.

Aliás, de acordo com a sua leitura, completamente enviesada e distorcida, de 1975 até ao 13 de janeiro de 1991, os cabo-verdianos viveram sob as “grilhetas da opressão e do totalitarismo”, ansiando por “liberdade e democracia”!

Numa abordagem, deveras, simplista o Líder Parlamentar ventoinha chegou a fazer uma colação, excessivamente forçada, entre a abertura ao multipartidarismo e a existência plena de liberdade e democracia. E ao fazer isso, esqueceu-se que após a abertura ao multipartidarismo houve diversos episódios que em nada dignificaram a caminhada de Cabo Verde em prol de mais liberdade e democracia, enquanto processos em permanente construção. Reportamo-nos às transferências abusivas de funcionários públicos, à prisão de sindicalistas, à repressão de manifestações pacíficas, à aposentação compulsiva de líderes trabalhistas, de entre outros excessos.

Outrossim, torna-se de difícil compreensão essa ideia de plena liberdade e democracia, pós 1991, que Paulo Veiga quer-nos vender, com a lábia de vendedor de banha de cobra, quando as perceções apontam, hoje, para uma Comunicação Social Pública instrumentalizada pelo Partido no poder (Vide, recentes, denúncias do Presidente da República), uma Justiça, cada vez mais, contestada (Ex: Caso Amadeu Oliveira), o debacle dos órgãos de Regulação, a existência de 186 mil pobres, sendo que 115 mil estão em situação de pobreza extrema (a viver com menos de um dólar por dia), e o facto de nunca termos nos sentido tão inseguros.

Que liberdade? Que democracia? Eis as questões!

Interessante também é que, antes de finalizar as suas confabulações, Paulo Veiga assume a capa de Inquisidor-mor e coloca o Presidente da Câmara da Praia, Francisco Carvalho, na qualidade de inimigo número um da Democracia e do Estado de Direito, acusando-o de fazer apologia das milícias e dos tribunais populares. No entanto, um bom entendedor, facilmente, estará de acordo com Carvalho, pois com o banimento das milícias e dos tribunais de zona, sem que fossem criadas quaisquer outras alternativas (Ex: Policiamento de proximidade, no verdadeiro sentido do termo, extinção das Casas de Direito) gerou-se um vazio, com consequências nefastas e que se repercutem até hoje.

Por outro lado, numa manobra, de pura diversão, Paulo Veiga vai a ponto de, sem qualquer resquício do efeito Dunning-Kruger, afirmar alto e em bom som, que “em nenhum país democrático se admite tais milícias” e com este postulado derruba a Segunda Emenda da Constituição dos Estados Unidos, ratificado em 1971, cujo texto diz” Sendo necessária uma milícia bem ordenada para a segurança de um Estado livre, o direito do povo possuir armas não poderá ser violado”.

Pois é! Perante tamanho esforço cabe perguntar porque é que Francisco Carvalho incomoda tanto, assim? Talvez porque, desde 1975, até agora nenhum dirigente deste país se comprometeu em materializar o ideário de Amílcar Cabral, à semelhança de Carvalho. Praticamente, todos fizeram vista grossa ao desafio do suicídio da burguesia, inclusive o tio e mentor do Paulo, e optaram por outra jornada tão, sabiamente, cantada por Zézé de Nha Reinalda: “Ranjan kasa na Prainha, garantin mudjer na TACV, autorizan nha transferénsia…”

 Artigo original publicado pelo autor no facebook

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