Nós sentimos que próprio Primeiro Ministro já sentiu que as coisas não estão bem, quando diz que vai rever o contrato de concessão para os transportes marítimos, mas ninguém se escandaliza. Os operadores dos transportes marítimos dizem-nos que o Governo lhes deve milhares de contos, não obstantes os montantes fixados anualmente nos orçamentos do Estado, e o Governo não desmente porque diz que o montante pode ser inferior, ninguém se escandaliza. Somos claramente enganados num contrato de concessão para a gestão dos nossos aeroportos, que para além dos 40 anos de concessão, dos 80 milhões, que afinal são apenas 35, com mais um misterioso bónus de 15 anos de isenção fiscal, ninguém se escandaliza.
Chegara na altura o negócio que atribuía o monopólio para as rotas domésticas, dissemos que não era bom e que não ia dar certo, acenaram-nos com os chavões de anti privatização, com o espantalho da xenofobia pelo meio.
Depois foi o que se viu quando se estalou o verniz e as comadres se desentenderam.
Na sequência, ou quase em simultâneo, escolheu-se "o maior parceiro do mundo" para montar o hub do Sal e garantir a ligação de Cabo Verde, com os 11 boeings, para os principais destinos do mundo.
Aí também não faltaram conselhos, propostas e até críticas que foram todos severamente reprimidos para não perigar os negócios, onde até segredinhos eram mantidos embrulhados em cláusulas de confidencialidades, até que, desta vez parece ser os compadres, se zangaram.
Dos onze aviões, nem um sobrou para testemunhar a história, ou será que devemos contabilizar o arrestado, que passou mais de um ano de férias e profundo repouso, no Sal até a despedida, sem qualquer aceno, deixando-nos contas por quitar, num outro desfecho que parece não ter escandalizado ninguém.
Mais de 6000 passageiros ficam em terra, com ligações atrasadas e comprometidas, confirmadas pelos próprios operadores, isso com relação às ligações marítimas, ninguém se escandalizou e ninguém teve o cuidado nem de perguntar quantas mercadorias ficaram estragadas e com avultadíssimos prejuízos para os pequenos operadores, em plena crise, tanto chorada e tanto responsabilizada para os nossos males e pecados, encobrindo os nossos desleixos e irresponsabilidades.
Perdemos o certificado de navegação aérea e fomos proibidos de voar para a Europa, mais uma vez, ninguém se escandaliza e tudo é considerado normal nesta Terra que precisa de disciplina e rigor, como o pão para a boca, para competir com os outros e afirmar-se nesta aldeia global.
Os nossos conterrâneos na diáspora, marcam as suas férias, combinam os encontros com os familiares e amigos, viajam para o país, ficam retidos sem poder chegar às suas ilhas até ao novo regresso ao país de acolhimento, ninguém se escandaliza.
Os atletas, ou equipas inteiras de futebol, ficam uma semana inteira retidos numa ilha, sem solução de transporte, ninguém se escandaliza.
Jovens ginastas do S. Nicolau ficam privados de participar nas competições nacionais por falta de condições de deslocação, ninguém se escandaliza.
Profissionais dos transportes aéreos falam-nos de riscos impostos por falta de condições de segurança operacional dos voos, ninguém se escandaliza.
Um adolescente da Brava perde vida no meio de uma peripécia de evacuação numa embarcação de pesca, que se avaria no meio do mar, para ser substituída por outra, também sem as condições exigidas para salvar vidas, ninguém se escandaliza.
E aqui, para além de preocupante, é vergonhosa a tentativa do Governo, quer por comunicados escritos, quer por pronunciamentos verbais, de esquivar-se das suas responsabilidades e quase a tentar convencer-nos que aquele adolescente estava marcado, ou predestinado, ou com aquele dia marcado para ...
A nossa Autoridade Aeronáutica Civil é praticamente esvaziada do seu conteúdo funcional de regulação e da sua missão em garantir-nos a segurança necessária e ninguém se escandaliza.
Nós sentimos que próprio Primeiro Ministro já sentiu que as coisas não estão bem, quando diz que vai rever o contrato de concessão para os transportes marítimos, mas ninguém se escandaliza.
Os operadores dos transportes marítimos dizem-nos que o Governo lhes deve milhares de contos, não obstantes os montantes fixados anualmente nos orçamentos do Estado, e o Governo não desmente porque diz que o montante pode ser inferior, ninguém se escandaliza.
Somos claramente enganados num contrato de concessão para a gestão dos nossos aeroportos, que para além dos 40 anos de concessão, dos 80 milhões, que afinal são apenas 35, com mais um misterioso bónus de 15 anos de isenção fiscal, ninguém se escandaliza.
Mas afinal, o quê que está a acontecer com este país, onde todos perderam a capacidade de indignação?
Ou será que, de repente, mudamos de país e ninguém deu por isso?
Recordando Nha Nácia Gomes "Sima nu kre nu ka podi sta, ma sima nu sta nu ka podi fika".
Artigo original publicado pelo autor no facebook
*Título da responsabilidade da redação
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