O próximo Presidente da República Dr. José Maria Neves recebe Cabo Verde da mesma forma como o tinha recebido há 20 anos.
Em 2001, isto é, há 20 anos, quando recebeu o país das mãos do governo do MPD, foram necessários vários anos de intenso labor para meter as coisas no eixo, reconquistar a credibilidade externa e a confiança dos parceiros internacionais, recuperar as finanças públicas e reduzir drasticamente o desemprego. O cenário volta-se a repetir agora em 2021, apenas 5 anos, após o regresso do partido liderado por Ulisses Correia e Silva ao poder.
O país, neste momento, assemelha-se a uma feira de louças visitada por elefantes - com uma dívida pública astronómica, uma segurança pública aterrorizante, o desemprego galopante, uma acentuada pobreza e com grandes retrocessos nos transportes marítimos e aéreos.
No que se refere a transportes, é ridícula a declaração do ex-deputado do MPD, agora candidato às presidências, Dr. Hélio Sanches, quando afirma que agora que está a viver na pele as dificuldades para a mobilidade entre as ilhas é que “deu conta da gravidade do caso”. Desse mesmo deputado partiu uma outra brejeirice, aquando da sua visita ao Sal, em campanha, ao mencionar que não sabia da extrema pobreza que viviam as pessoas no Alto São João e Alto Santa Cruz, nessa ilha, quando esse mesmo deputado foi pago durante vários anos para visitar as populações e levar à casa parlamentar os seus problemas. Quem não soube ser deputado saberá ser Presidente da República?
O Dr. José Maria Neves, enquanto PR, a partir de domingo, terá que, à semelhança de 2001, arregaçar as mangas e ajudar o governo a encontrar o norte.
Quanto ao seu concorrente direto, o Dr. Carlos Veiga agora Kalu, apoiado pelo MPD, a sua obsessão ao cargo de Presidente da República não começou hoje. Iniciou-se em 1990.
Em 1991 só não avançou por erro de cálculo, tendo o seu partido disputado as eleições legislativas, com uma fasquia muito baixa, julgando que conseguiria apenas introduzir deputados no parlamento, tornando a casa parlamentar plural. Por isso, decidiu apoiar Dr. António Mascarenhas Monteiro, um jurista respeitado, sem máculas e com grande sentido de Estado que ganhou as eleições Presidenciais (de 1991) à primeira volta.
Em 1996, o Dr. Carlos Veiga, agora Kalu, também queria disputar o Palácio do Plateau com Mascarenhas Monteiro, devido a várias críticas que este fazia à sua governação derivado de vários escândalos como o da ENACOL, o do embaixador estrela em Portugal e o saneamento de colegas de partido que hoje, curiosamente, alguns vêm manifestar o seu apoio a Kalu. Nessa altura, o MPD estava bastante esfrangalhado e o ex-presidente Mascarenhas Monteiro tinha alta taxa de aprovação dos cabo-verdianos. Uma das razões da desistência de Dr. Carlos Veiga foi porque uma parte considerável dos membros do seu partido, fiéis a Mascarenhas Monteiro, demonstraram intenção de lhe dar luta caso avançasse.
Já em 2001, convencido de que nessa altura, livre de Mascarenhas, teria o caminho aberto para o Plateau, mais uma vez a lua enganou o galo - encontrou pela frente o experiente Comandante Pedro Pires que o derrotou por duas vezes consecutivas (2001 e 2006).
O peso dessa 2ª derrota levou Carlos Veiga, agora Kalu a mudar de estratégia. Como nunca ganhou na emigração, espreitou uma oportunidade de ser embaixador político nas terras do Tio Sam para aproveitar e mobilizar os nossos compatriotas que ele considera os principais responsáveis pelas suas sucessivas derrotas.
Com a ascensão do MPD ao poder em 2016 e concretizado o seu desejo de ser embaixador político, agora regressa, 4 anos depois, para a sua derradeira tentativa, ignorando o facto de os emigrantes serem muito esclarecidos e saberem perfeitamente o que se passa no seu país de origem.
Como vemos, o principal adversário de Neves está há três décadas com esta ambição desmedida. O cargo de Presidente da República não é para quem quer, mas para quem pode e por mais bengalas, empurrões e arrastões, na ausência de pernas o resultado será nulo.
A propósito de empurrões, há quem pense que a companhia da candidata à primeira-dama na campanha eleitoral é uma mais-valia, tudo normal. É uma decisão pessoalíssima e de foro íntimo. Há candidatos que preferem manter as suas esposas longe dos holofotes da comunicação social e das imundices da campanha. Agora o errado e caricato é insinuar que quem não subir ao palanque com a sua candidata a 1ª dama não reúne condições para as funções ou deve ser penalizado.
Coincidentemente, nessa altura, ouvia pela rádio, a música interpretada por Jacqueline Fortes que dizia “marido infiel é só pa angústia de gente, nha saúde ta muto complicado, squa caladin rumo pá rua de Lisboa café Royal e Portugal é sis pont de encontro.”
Anedotas à parte, estou incrédulo e não consigo entender o pavor e o nervosismo que o chefe do governo e seus ministros demonstram perante a iminente entrada de Dr. José Maria Neves, no palácio do Plateau. Se estão a fazer tudo nos termos da lei, se não estão a esbanjar recursos públicos, se os muitos negócios feitos foram transparentes e se tratam todos os cabo-verdianos da mesma forma, qual a razão para tanto medo?
Sr. primeiro-ministro, o Dr. José Maria não é rancoroso, vai ser um excelente parceiro de um governo que cumpre, por isso está convidado a juntar as mãos, cabeça e coração com o grande timoneiro Dr. José Maria Neves para reerguer o país.
Praia 14 de Outubro 2021
Elias Silva
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